VANÁDIO: A NOVA FRONTEIRA DA MINERAÇÃO NO BRASIL

VANÁDIO: A NOVA FRONTEIRA DA MINERAÇÃO NO BRASIL

Mathias Helder
[1] Engenheiro de Minas do DNPM/Sede
Por Mathias Heider[1]

Desde maio de 2014, o Brasil se inseriu no seleto grupo de países com expressiva produção de vanádio com a abertura da mina Menchen Maracás, da empresa Largo Resources. Sua capacidade de produção anual é da ordem de 9,6 mil toneladas de pentóxido de vanádio (equivalente a 5,5 mil toneladas de vanádio por ano), estimando que entre 80 e 90% serão exportadas. Cabe destacar que o Brasil era anteriormente importador líquido de vanádio, tendo importado 929 toneladas da liga ferro-vanádio em 2014.

A mina de vanádio de Maracás (localizada na Bahia) tem uma característica especial: o alto teor de vanádio contido – 1,34%, contra 0,5% em algumas das principais minas do mundo –, garantindo um baixo custo de produção e sendo um ativo de classe mundial, o que assegura alta competitividade à empresa. A planta tem ainda o mais moderno forno do mundo presente em uma mineradora de vanádio, com 90 metros de comprimento e 4,2 metros de diâmetro interno e capacidade de processar 1.060 toneladas de minério concentrado por dia.

Vanadio_MaracasOs benefícios do grau e qualidade do minério (altos teores) e do concentrado (baixos custos operacionais) são tão significativos que garantem a essa empresa, significativas vantagens de custo sobre os demais produtores em todo o mundo (estimado na ordem de US$ 2,10 por libra-peso, enquanto o preço no mercado está em torno de US$ 5 por libra-peso, conforme gráfico 1). Os investimentos iniciais giraram em torno de R$ 550 milhões (US$ 275 Milhões), gerando cerca de 700 empregos diretos e 2.100 indiretos e uma expectativa de receita superior a R$ 300 milhões/ano.

A vida média útil da mina (LOM) do Projeto Maracás está estimada em 29 anos. Há ainda um enorme potencial para a expansão das reservas e das futuras taxas de produção, com a identificação e a avaliação dos corpos satélites. Existe ainda, na mesma área, um potencial de produção de PGM e cromita, no prospecto denominado Capivara. Foram descobertas zonas que contêm camadas de cromita com sulfetos. De acordo com a Largo, os horizontes de magnetita ficam cerca de 32 km ao norte da cava Campbell, que pertence à mina Maracas Menchen. A Largo informou que existem pelo menos duas zonas de cromita a partir de 20 m a 25 m da superfície. Essas zonas estão cerca de 400 m a oeste dos horizontes de magnetita, que contêm vanádio e platina anômala. As camadas de cromita maciças possuem cerca de 0,5 m a 1 m de espessura e estão separadas por material que contém menor teor de cromita, cerca de 10%, e sulfetos disseminados.  A Largo Resources possui outros dois projetos no país: em Currais Novos (RN), de tungstênio, e em Campo Alegre de Lourdes (BA), com reservas de minério de ferro, titânio e vanádio.

.graficomat1

 

 

 

Gráfico 01: Cotação V2O5 por libra 2005 – 2015

Fonte: Largo Resources

Fontes de Vanádio

As magnetitas titano ferrosas representam as maiores fontes comerciais de vanádio (Tabela 02), podendo ser tratadas como polimetálicos (Fe, Vn, Ti). A partir da década de 1980, uma nova fonte secundária de vanádio adquiriu importância: os resíduos do processamento do petróleo, com quantidades que variam de 10 ppm (Oriente Médio) a 1.400 ppm (Venezuela). O vanádio fica retido nos resíduos das caldeiras e nas cinzas de incineração. A reciclagem também é uma fonte de vanádio, além do aproveitamento dos sais de vanádio no processo da alumina, conforme Tabela 01.

 

tabelasmat

 

 

 

Em 2013, a produção mundial de V2O5 equivalente foi da ordem de 136 mil toneladas (China: 70 mil t; África do Sul: 35 mil t e Rússia: 14 mil t), segundo dados da Roskill.  O mercado mundial de vanádio movimenta cerca de US$v2,3 bilhões por ano (mantidas as cotações atuais de US$v5/libra) e Maracás será responsável por cerca de 8% desta produção.

As reservas lavráveis brasileiras de vanádio (V), em metal contido, correspondem a 175 mil toneladas de V2O5, com teor médio de 1,34% (Sumário Mineral 2013/2014). O município de Maracás, no Estado da Bahia, concentra a principal reserva de vanádio no Brasil.  A BMIX (vinculada à Brazil Minerals) anuncia a aquisição de áreas com ferro, titânio e vanádio no Piauí e em outras unidades da federação para avaliar a viabilidade dos projetos. A Largo Resources também avalia outros projetos.

Em 2013, as reservas mundiais, em termos de metal contido, corresponderam a 14,0 milhões de toneladas, sendo que as reservas brasileiras representaram 1,27% deste total. As maiores reservas no mundo, que estão sendo lavradas, localizam-se na China (5,1 Mt), Rússia (5,0 Mt) e África do Sul (3,5 Mt). Em 2013, a produção mundial de minério, em termos de vanádio contido que ocorre como coproduto ou subproduto, atingiu 75.600 toneladas.

Tendências

O expressivo desenvolvimento tecnológico dos últimos anos, com especial destaque para as indústrias de “alta tecnologia” (aeroespacial, eletrônica, bélica, nuclear, etc), garante aos metais refratários (que se distinguem pelo alto ponto de fusão e propriedades térmicas e mecânicas superiores) como vanádio, tântalo, nióbio e titânio uma importância especial e um crescente mercado. Resistente a choques e à corrosão, o vanádio é utilizado para dar aumentar a resistência das ligas de aço, reduzindo a quantidade final de aço necessário ao seu uso.

No Gráfico 02, o consumo específico de vanádio nos diversos países mostra todo o seu potencial de mercado. Somente a elevação do consumo específico de vanádio nos aços produzidos para construção na China poderá elevar a demanda desse insumo a ponto de alterar a dinâmica do mercado e impactar fortemente na elevação das cotações. Por outro lado, um maior aproveitamento do vanádio associado ao petróleo ou a outras fontes, pode reduzir as cotações, elevando a oferta. O aproveitamento do vanádio no processo de produção da alumina é uma outra fonte que tem um potencial ainda desconhecido.

A China, em 2006, consumia 20% do vanádio mundial. Em 2012, atingiu 34%, com tendência de elevação por causa da regulação dos aços utilizados na construção civil.

graficomathias2

Gráfico 02: Consumo específico de vanádio (kg/t de aço) por região em 2010

Fonte: Largo Resources

 

 

Conclusões

Com a nova regulação de uso de vergalhões de aço com maior percentual de vanádio (de 0,023% para 0,050%), estima-se uma elevação anual do consumo mundial do produto da ordem de 30 mil toneladas. Por outro lado, a redução da cotação do minério de ferro deverá fechar diversas minas na China, impactando na produção do vanádio como subproduto (uma vez que o vanádio é um subproduto do minério de ferro), reduzindo, assim, a sua oferta. A combinação desses fatores poderá favorecer a elevação das cotações do vanádio, reforçando a competitividade dessa nova indústria no Brasil.

Novos projetos e expansões (Campo Alegre de Lourdes/BA, em fase de pesquisa e avaliação, e BMIX) devem posicionar o Brasil, futuramente, entre os três maiores produtores de vanádio no mundo.

Novamente, o trabalho da CBPM (Companhia Baiana de Pesquisa Mineral) gerou mais um projeto de mineração (no caso, o de vanádio) na Bahia, com significativos resultados em termos sociais e econômicos. O estímulo à pesquisa mineral no Brasil e um contínuo trabalho de mapeamento geológico podem acarretar uma elevação de novas descobertas minerais, trazendo novos projetos.

 

 

Sites Consultados

http://www.cbpm.com.br/paginas/destaques.php?id=796

http://www.steelworld.com/featurefeb07.pdf

http://www.infomine.com/investment/metal-prices/ferro-vanadium/1-year/

http://www.infomine.com/investment/metal-prices/ferro-vanadium/

http://www.largoresources.com/English/projects/maracas/default.aspx

http://minerals.usgs.gov/minerals/pubs/commodity/vanadium/

http://decafer.com.br/noticias/brasil-estreia-na-extracao-de-vanadio-com-mina-na-bahia/

http://www.motivmetals.com/Documents/Vanadium%20-%20Terry%20Perles%20TTP%20Squared%20Inc%20%20Text%20and%20Slides.pdf

http://www.geologo.com.br/MAINLINK.ASP?VAIPARA=Mina%20de%20vanadio%20de%20Maracas%20e%20pre%C3%A7os%20baixos

http://www.brasilmineral.com.br/bm/default.asp?COD=8019&busca=&numero=678

http://www.largoresources.com/Portuguese/projetos/maracas/

https://sistemas.dnpm.gov.br/publicacao/mostra_imagem.asp?IDBancoArquivoArquivo=7413

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.