*Por Mathias Heider, engenheiro de Minas do DNPM/Sede
1. Introdução
Qual o valor das reservas minerais do Brasil e de sua respectiva produção mineral? Este artigo visa mensurar um valor estimado e estimular um debate sobre esta questão, ressaltando toda a importância da mineração brasileira. Esse valor poderá ser usado como um dos parâmetros (assim como o Valor da Produção Mineral, PIB Mineral, comércio exterior e a geração de empregos) para compor esta avaliação do setor mineral. A mineração é a base de competitividade para diversas cadeias produtivas, impactando positivamente na geração de emprego/renda, balança comercial e interiorização do desenvolvimento.
O quadro 01 abaixo tem como objetivo estimar um valor do total da produção mineral a partir das reservas minerais existentes, dentro de uma metodologia simplificada. A tabela revela que esse valor atinge a expressiva marca de estimados US$ 2,7 trilhões (cerca de R$ 5,5 trilhões, considerando US$1 = R$ 2,25). Diante desses expressivos valores, questões como maximização dos retornos para a sociedade, PD&I e sustentabilidade da produção mineral ganham uma nova dinâmica e importância. O desafio é planejar e garantir uma infraestrutura para escoamento dessa produção, formação de recursos humanos e formulação de políticas públicas/privadas qualitativas visando o apoio e desenvolvimento da atividade mineral e a redução dos gargalos e priorizando a agregação de valor ao longo de todas as cadeias produtivas.
2. Metodologia
A metodologia utilizada para o cálculo do valor estimado para a produção mineral é bastante simplificada, considerando as reservas minerais atualmente existentes (dados informados nos sumários e anuários do DNPM). Com base nessas reservas, estimou-se um quantitativo de produtos beneficiados e seus valores médios estimados. É importante deixar claro que podem ser adotadas outras metodologias e parâmetros para a depuração dessa estimativa. O maior detalhamento de fatores como recuperação na lavra e beneficiamento, teores de alimentação na usina e características de cada reserva mineral permitirão um maior grau de certeza na avaliação do potencial do valor e da produção para cada bem mineral.
Como exemplo, podemos citar o minério de ferro, cujos teores de alimentação na usina (ROM) no Brasil variam a partir de 22% Fe (ex: projetos no Norte de Minas Gerais, Piauí, Bahia) até 64,8% Fe (Carajás/PA). Assim, as atuais reservas de 23 bilhões de toneladas de minério de ferro podem gerar estimadamente cerca de 17 bilhões de toneladas de minério de ferro beneficiado (pellet feed, sínter feed e granulados). Considerando uma cotação média do minério de ferro beneficiado de US$ 80/t (base 62% Fe), o valor da produção dessas reservas corresponde a cerca de US$ 1,4 trilhão. Para efeito de comparação, em 2008, quando as cotações do minério de ferro chegaram a US$ 200/t, esse valor atingiu a espantosa cifra de US$ 3,5 trilhões, valorizando as reservas e as unidades produtivas.
A mineração de ferro é um setor caracterizado pela competitividade e mostrou avanços na agregação de valor na consolidação da indústria de pelotização do minério de ferro com um pellet feed de alta qualidade. Com amplas reservas de minério de ferro, além do desenvolvimento contínuo das tecnologias de beneficiamento, lavra e da infraestrutura, o Brasil atualmente tem uma capacidade produtiva da ordem de 75 milhões de toneladas de pelotas/ano distribuídas em 16 usinas (ES, MG e MA). O Brasil também ganhou destaque na produção de ferro-gusa e tem uma indústria siderúrgica consolidada.
Para os outros minerais metálicos, o valor da produção foi calculado considerando um percentual estimado para a recuperação na lavra e no beneficiamento. Em muitas situações, a produção de metálicos é bastante verticalizada obtendo-se o metal ou ligas (nióbio, zinco, níquel, vanádio, cobalto, dentre outros). Nos metálicos, depois do minério de ferro, o destaque é o nióbio com cerca de US$ 255 bilhões (8,5 milhões de toneladas de nióbio contido). Em seguida, o níquel e o cobre, totalizando cerca de US$ 190 bilhões e o ouro, com um valor estimado da ordem de US$ 88 bilhões. Somente esses cinco minerais correspondem a um valor total estimado próximo a US$ 1,9 trilhão.
Para alguns minerais, diante das dificuldades em avaliar o quantitativo total das reservas existentes (agregados, água, rochas ornamentais, água mineral, brita, ouro de garimpo, etc) foi considerado um cenário de 40 anos com base na produção de 2012 (produção 2012 x 40) para compor uma estimativa do valor total de produção/reservas.
Minerais como gemas/diamantes, caulim, terras raras e urânio, não foram considerados nesta análise inicial. Também não foi considerado o potencial dos recursos minerais na plataforma continental e outras áreas marinhas. Nesse conjunto acima, uma futura estimativa da mensuração dos valores envolvidos terá um enorme impacto nos valores constantes da tabela 01.
3. Considerações
Os números apresentados na tabela 01 trazem valores extremamente auspiciosos, da ordem de US$ 2,7 trilhões (equivalentes a R$ 5,5 trilhões), destacando-se minério de ferro, nióbio, níquel, agregados, ouro e rochas ornamentais.
Considerando a agregação de novas reservas e/ou reavaliações, esses valores tendem a se elevar a cada ano. Para o minério de ferro, por exemplo, encontravam-se em vigor cerca de 12 mil títulos de pesquisa mineral (pedidos e autorizações) no final de 2011, em comparação aos cerca de 200 existentes ao final de 2001. Se for considerada uma taxa de sucesso da ordem de 0,5%, serão potencialmente cerca de 60 novas jazidas incorporadas às reservas brasileiras de minério de ferro.
Alguns minerais como o potássio e o titânio tiveram uma avaliação bem conservadora. Mas sem dúvida, o enorme potencial da Amazônia pode revelar uma grande província mineral para o potássio, com um expressivo valor econômico. A necessidade de um melhor conhecimento da geologia da região e de aprofundamento da pesquisa mineral são condições para possibilitar o dimensionamento das reservas. Os entraves ambientais para a lavra serão minimizados se todas as empresas adotarem uma visão conjunta, repartindo o custo das soluções entre si, em detrimento da visão de um projeto para cada empresa. Assim, um cenário de produção sustentável de potássio pode ser viabilizado no Brasil, com grandes impactos na balança comercial e reduzindo a vulnerabilidade em relação a esse bem mineral.
O país também é o detentor das maiores jazidas de titânio, na forma de anatásio, conhecidas no mundo, avaliadas em cerca de 440 milhões de toneladas, com teores médios de 17,7% TiO2, que ocorrem nos estados de Minas Gerais e Goiás. A notável tonelagem desse tipo de minério de titânio deve ser registrada como um recurso explorável no futuro, tendo em vista a necessidade de investimentos no desenvolvimento de processos metalúrgicos, técnica e economicamente viáveis/sustentáveis, que permitam a instalação de unidades industriais de processamento para o aproveitamento desse bem mineral.
Não podemos deixar de citar o potencial da reciclagem de substâncias minerais e sucatas no Brasil. O crescimento da consciência ambiental, a escassez dos recursos naturais no mundo e a valorização das commodities minerais trazem uma nova importância e economicidade a essa questão. A cadeia produtiva da reciclagem de metais (alumínio, aço, cobre, etc) mostra um contínuo desenvolvimento a cada ano, contribuindo para geração de emprego/ renda e fornecimento ao mercado interno. Por outro lado, o reaproveitamento de minério existente nas barragens de rejeitos surge como outra tendência irreversível. Mas por ora, não foi quantificado o potencial de valor do minério existente nas barragens, constituindo também um expressivo patrimônio mineral. O surgimento de novas tecnologias para extração e beneficiamento de minérios também terá um importante peso na agregação de novas reservas ao patrimônio mineral do Brasil. Da mesma forma, há um potencial para reativação de minas paralisadas e inativas, incluindo as consideradas “exauridas” (reavaliação geológica, novos estudos de viabilidade econômica, novas tecnologias).
A valorização das commodities minerais trouxe para o Brasil uma série de empreendedores que focaram as pequenas jazidas, não atrativas para as grandes mineradoras (interessadas em minas de classe mundial – baixo custo, alta produtividade e tempo de vida elevado – LOM). Dessa forma, uma enorme quantidade de reservas minerais se viabiliza economicamente, expandindo os efeitos positivos da mineração em diversas regiões no interior do Brasil.
Esse último “superciclo” das commodities minerais (2002-2012) sustentado pela demanda chinesa, mostrou a vulnerabilidade de diversas nações pela falta de recursos naturais (minero dependentes) ou pelo elevado dispêndio de divisas. Nesse caso, os agrominerais e o carvão metalúrgico geraram pesadas importações no Brasil. A Índia taxou as exportações de minério de ferro, estimulando que esse insumo seja futuramente direcionado para atender as necessidades de seu parque siderúrgico. Para alguns minerais, exportar a determinadas cotações pode trazer um enorme custo no futuro, quando o páis produtor se tornar importador, pois a situação de oferta será muito mais crítica e certamente mais onerosa. Para alguns minerais como terras raras, é uma excelente oportunidade de fazer novas parcerias e desenvolver núcleos de pesquisa, atraindo novas empresas para o Brasil e dominando todo o ciclo produtivo.
O ordenamento territorial geomineiro (OTGM) e a inserção da mineração nos planos diretores municipais (PDM) é um importante instrumento para evitar que diversas reservas minerais sejam indisponibilizadas pelo avanço de outras atividades e/ou finalidades (ex: urbanização, indústrias, reservas ambientais, etc), visando garantir seu aproveitamento econômico futuro.
4. Conclusões
As reservas de minerais do Brasil são estratégicas para apoiar o crescimento sustentado do País e contribuir para a competitividade das cadeias produtivas associadas. Além disso, são um importante meio de atração de investimentos, geração de emprego/renda e ativação de cadeias de serviços e fornecedores, com grande impacto no mercado interno e externo.
A gestão do patrimônio mineral brasileiro e a implementação de políticas públicas e privadas para a pesquisa mineral devem ser frequentemente avaliadas, como forma de estimular o crescimento dos ativos minerários e sua viabilização econômica no futuro. Dessa forma, será possível maximizar todos os benefícios dos ciclos de crescimento da economia mundial.
Sites consultados:
http://www.dnpm.gov.br;
http://www.mme.gov.br;
http://www.inb.gov.br;
http://www.brasil247.com/pt/247/revista_oasis/137724/As-riquezas-do-fundo-do-mar-a-nova-fronteira-da-minera%C3%A7%C3%A3o.htm;
http://www.noticiasdemineracao.com/storyview.asp?storyid=801881351§ionsource=s0;
http://www.mme.gov.br/sgm/galerias/arquivos/plano_duo_decenal/a_mineracao_brasileira/P16_RT36Perfil_do_Titxnio.pdf