A Vale divulgou em 08 de julho um comunicado aos investidores esclarecendo que “a potencial participação da Companhia em operações de aquisição, desinvestimento ou joint venture, ou outras oportunidades de negócios, é avaliada à luz de suas prioridades estratégicas”. A empresa afirma, ainda, não haver qualquer informação relevante a divulgar ao mercado como resultado dessa prospecção no momento, assim como reitera que manterá o mercado informado sobre qualquer fato relevante a respeito de tais operações.
O comunicado foi assinado por Gustavo Duarte Pimenta, vice-presidente Executivo de Finanças e Relações com Investidores da companhia, e responde a uma nota publicada pelo jornalista Lauro Jardim em sua coluna no jornal O Globo, no dia anterior, 07 de julho. Segundo Jardim, “uma ala do governo federal está pressionando a Vale a comprar a (altamente endividada) mineradora Bamin, sediada na Bahia, mas de propriedade de um grupo do Cazaquistão”.
O jornalista informa que a Vale ficaria como controladora da empresa e teria como sócios o BNDESPar, fundo de participações do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e a Cedro Participações, do empresário mineiro Lucas Kallas, que também atua no setor de mineração produzindo minério de ferro em Nova Lima e Mariana (MG), entre outras áreas. Ainda segundo Jardim, a aquisição da produtora baiana está sendo avaliada pela área de M&A (Fusões e Aquisições) da Vale que poderá, a depender da análise, submeter a transação ao Conselho de Administração, a quem cabe a decisão final de compra de ativos.
A Bamin (Bahia Mineração) também divulgou uma nota através do jornal Bahia Econômica em resposta à publicação de Lauro Jardim. A empresa diz que seu endividamento (R$ 2,5 bilhões no balanço anual de 2023, que também registrou um prejuízo de R$ 30,9 milhões) é resultado de empréstimos realizados pelo ERG (Eurasian Resources Group) e não de dívidas contraídas junto ao mercado.
“A Bamin conta com recursos diretos de seu controlador, o Grupo ERG, que aportou 100% dos fundos na forma de mútuo direto (empréstimo direto entre o controlador e a controlada), onde a credora do empréstimo é a própria controladora. Esse procedimento representa o compromisso do Grupo ERG com a Bamin e com os investimentos no projeto integrado. Em 2023 quase R$ 800 milhões foram investidos no projeto integrado. O balanço anual da Bamin segue os critérios e padrões nacionais e internacionais de contabilidade, sendo auditado por empresa externa de classe mundial sem ressalvas. Logo, não há endividamento com mercado, mas da Bamin com a ERG (controladora da Bamin)”, diz a nota.
A mineradora afirmou ainda que não comentaria a hipótese de sua aquisição pela Vale, que considera uma especulação de mercado.
Logística integrada
Fundada em 2005 pelo geólogo e engenheiro de minas João Cavalcanti, a Bamin possui a mina Pedra de Ferro, em Caetité (BA), formada por depósitos de hematita e Itabirito. No mesmo ano, o então projeto Pedra de ferro foi vendido para a Zamin Ferrous, do investidor indiano Pramod Agarwal. O ERG adquiriu metade do projeto em 2008 e a outra metade em 2010, iniciando sua operação comercial em janeiro de 2021, em escala reduzida, com a primeira exportação de minério de ferro em julho do mesmo ano para a Holanda.
O projeto Pedra de Ferro se baseia em uma solução logística integrada – mina/ferrovia/porto –, onde o único componente viabilizado até agora é a mina. O transporte depende da operacionalização do chamado Trecho I da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL), entre Caetité, onde fica a mina, e o Porto Sul, em Ilhéus, onde o minério será embarcado, numa extensão de 537 km.
As obras de implantação da ferrovia, a cargo da Valec, foram iniciadas em 2014, sofreram diversas interrupções e foram definitivamente paralisadas em dezembro de 2016. Somente em 2021, foi realizado pelo governo federal um leilão para conceder os trechos restantes da ferrovia. A Bamin venceu a concorrência para finalizar o Trecho 1 (lote 1F, entre as cidades de Ilhéus e Aiquara) e operá-lo durante 35 anos, com investimentos de R$ 5,41 bilhões (Capex) e custos operacionais (Opex) de R$ 13,37 bilhões. Somente dois anos após o leilão, em julho de 2023, a construção do lote 1F foi iniciada pela BAFER (Bamin Ferrovias). O início das operações do Trecho 1 está previsto para 2027.
Já o Porto Sul foi viabilizado somente após um convênio entre a Bamin (obras offshore) e o governo da Bahia (obras onshore). Seu primeiro Estudo de Impacto Ambiental foi apresentado ao IBAMA em 2009. Após vários entraves ambientais na área de instalação inicialmente prevista no projeto, a Licença de Instalação foi emitida em 2014. As obras onshore estão em curso, enquanto as obras offshore, a cargo da Bamin, têm seu início previsto para o segundo semestre deste ano (2024). Se cumprido o cronograma atual, o Porto Sul também entrará em operação em 2027.