Não lhe faltam títulos. Sejam acadêmicos ou profissionais. À formação em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e em Ciências Contábeis pela Fumec (Fundação Mineira de Educação e Cultura), somam-se o MBA em Finanças pelo Ibmec e em Educação Executiva pela Harvard Business School, Columbia University e London School of Economics. Já ocupou os cargos de Auditora, Controller, Gerente de Finanças e CFO, o que pareceria o ápice de qualquer carreira na área financeira. Não era.
Desde dezembro de 2023, Ana Cristina Sanches Noronha é a CEO da Anglo American Brasil, responsável pelas operações de minério de ferro e, por enquanto, de níquel, da multinacional britânica no país. Nem cinco meses haviam decorrido desde o início de sua gestão, quando a poderosa BHP fez sua primeira proposta para aquisição da mineradora. A oferta que já não era bem-vista, tanto pelo valor, considerado depreciativo, quanto pelo interesse do grupo australiano apenas nos ativos de minério de ferro e cobre da concorrente, acabou se tornando quase hostil, com a insistência da potencial compradora. Repetidas recusas e a alta diária das ações em bolsa, recuperando perdas registradas no início do ano, acabaram encerrando uma investida que jamais chegou a negociação.
Para a CEO, o movimento de avanço da BHP sobre a Anglo American não foi“uma total surpresa”, mas resultado da dinâmica natural do mercado global de mineração diante de uma empresa em situação de suscetibilidade. O que apenas demanda “mais resiliência, sabedoria e calma dos executivos para a tomada da decisão certa”, segundo a gestora. A decisão já estava tomada desde o anúncio do plano estratégico da mineradora no início de 2024: manter os ativos de minério de ferro, cobre e fertilizantes e iniciar o processo de venda dos excluídos desse rol, caso das operações de níquel no Brasil.
Nesta entrevista exclusiva à revista In the Mine, Sanches fala da oferta da BHP, dos novos rumos da Anglo American, investimentos no Brasil, descarbonização de operações, políticas de equidade de gênero e de diversidade e inclusão e, claro, das expectativas “de alto nível” em relação ao projeto Serpentina, em Minas Gerais, adquirido da Vale. Fala também que, diante da agenda global de energia limpa e transição energética, “o Brasil pode inverter a geopolítica dos minerais críticos e estratégicos, consolidando-se como um de seus maiores fornecedores mundiais. A jovens economistas recomenda que “confiem em seu potencial, não desistam de seus sonhos e, a cada dificuldade, busquem duas oportunidades”.
ITM: Um dos fatos marcantes desses meses iniciais de sua gestão como CEO foi a proposta de compra da Anglo American pelo grupo BHP. Como foi essa experiência?
Sanches: A Anglo American global fez um anúncio após recusar as tentativas de compra da BHP, acelerando uma estratégia que já havia sido divulgada no início do ano, com foco em um portfólio mais simplificado. Basicamente composto dos ativos de cobre, minério de ferro de alto teor
e fertilizantes. Essa decisão implica na venda de alguns ativos e no desmembramento de outros, mantendo aqueles que serão os grandes responsáveis pelo futuro da Anglo American. No Brasil, nosso negócio de minério de ferro se enquadra nesse futuro e iniciamos o processo de venda do negócio de níquel. Como líder das operações no Brasil tenho uma responsabilidade ainda maior de gerir esse processo de venda da melhor forma possível e com muita transparência, levando em consideração todos os impactos decorrentes, no sentido de nosso relacionamento com os funcionários, com as comunidades que nos acolhem e com a segurança das operações. Fazendo tudo muito bem-feito porque falamos de uma nova Anglo American.
ITM: Vocês esperavam essa oferta da BHP que, a partir de um certo momento, passou a ser quase uma oferta hostil?
Sanches: No final do ano passado, o grupo Anglo American fez um reset muito duro de suas projeções, o que causou grande impacto no valor das suas ações, que tiveram uma queda significativa. Quando isso acontece e, considerando a dinâmica do mercado global de mineração, a empresa acaba ficando mais suscetível. Eu não diria que esperávamos pela oferta da BHP. Mas tampouco foi uma surpresa total. São movimentos que acontecem no mercado e que demandam de nós, executivos, ainda mais resiliência, mais calma e sabedoria, para centrar um foco e tomar a decisão correta. Ao concluir que a proposta da BHP não era a melhor que poderia receber, a Anglo American também viu que era o momento de se posicionar, falando do que poderia fazer para fortalecer a empresa. A simplificação do portfólio tornará nosso balanço mais administrável porque, embora menores, estaremos mais rentáveis e vinculados aos minerais do futuro da transição energética. Com os fertilizantes também enfrentamos a questão da fome, da necessidade de alimentar o mundo. É um plano que já existia. Ele não mudou, apenas teve sua execução acelerada após a proposta da BHP.
ITM: A Anglo American Brasil anunciou investimentos no negócio de minério de ferro, mas não no negócio de níquel. A decisão de venda já estava tomada?
Sanches: Acredito que falamos muito dos investimentos em minério de ferro, incluindo o acordo com a Vale no projeto Serpentina, em Minas Gerais. Isso porque nosso negócio de minério de ferro ainda é muito novo, está em ramp up e demanda volumes mais significativos de investimento para ganhar corpo e atingir sua capacidade total instalada, da mina ao porto. Só a planta de filtragem de rejeitos do Minas-Rio custa mais de R$ 4 bilhões, parte deles já aplicados. Um projeto que já está com 45% de avanço físico e deve ser concluído entre o final de 2025 e o início de 2026. Mas também temos um pipeline de investimentos para o níquel.
ITM: Para o níquel?
Sanches: Sim. E bastante representativo, embora com um perfil de investimento para um negócio que já é mais maduro. Temos a planta da Codemin, em Niquelândia (GO), há 42 anos e, Barro Alto, também em Goiás, que é mais recente. A continuidade do negócio sempre demanda novos investimentos visando garantir a integridade dos ativos e a segurança e performance operacional. Até um dia antes do anúncio da venda era vida que segue. Para ser honesta, ainda é vida que segue. Não cortamos nenhum investimento substancial. O que fizemos, como toda empresa de mineração que passa por um momento cíclico de preço, foi reduzir nosso portfólio de investimentos e priorizar uns em detrimento de outros, porque não dá para fazer tudo. Em termos de segurança, compromissos ambientais e com nossos fornecedores e com a comunidade, tudo é vida que segue.
ITM: E quanto à participação na decisão de venda?
Sanches: Como em outras organizações, esse tipo de decisão ocorre em nível de conselho. Não temos autonomia para decidir embora, obviamente, estivéssemos envolvidos nas discussões. Fornecemos dados, demos nosso ponto de pista e fizemos análises de cenários e sensibilidade para o grupo executivo global, que apresentou sua proposta ao Conselho de Administração da empresa. Não vou dizer que fiquei surpresa, até pelas dinâmicas de mercado, como já falei. Já estávamos vendo algumas empresas de níquel encerrando ou paralisando suas operações na Austrália. Sabíamos do balanço entre oferta e demanda e das projeções futuras de preços. Inclusive, já houve uma tentativa de venda do negócio de níquel, em 2015 ou 2016 e, após várias etapas, a Anglo American optou por não vender. O mundo dos negócios é uma caixinha de surpresas e incertezas, que tentamos navegar da melhor forma possível, honrando nossos compromissos. Vamos iniciar o processo de venda e aguardar a decisão final.
ITM: Voltando aos investimentos, foram anunciados R$ 11,56 bilhões para o Minas-Rio, no período 2022-2026. Em quais projetos esse valor será empregado?
Sanches: É um investimento plurianual, iniciado em 2022 e acelerado entre 2023 e 2025, terminando com uma pequena parcela em 2026. Nessa janela de R$ 11,5 bilhões, uma parcela substancial é da planta de filtragem. Também estamos investindo em nossa frota, na troca e ampliação do número de equipamentos, e na planta, para adequar capacidades e buscar maior segurança e eficiência operacional. Temos, ainda, uma série de investimentos voltados aos nossos compromissos sociais e ambientais. Já a expansão da produção, para chegar às 31 Mt anunciadas no ano passado, está muito casada agora com o projeto Serpentina. Uma vez fechado o acordo com a Vale, a Anglo American será dona não só da Serra do Sapo, mas também da Serra da Serpentina. O que abre uma nova página na nossa história, a partir de um plano de lavra integrado, com um leque de outras possibilidades para a expansão. A viabilidade desse projeto ainda precisa ser confirmada, mas, sem dúvida, seguiremos nosso plano de ampliar ou até mesmo duplicar nossa capacidade, agora à luz de um projeto que pode nos dar acesso a uma nova mina e mudar a realidade que temos hoje.
ITM: Então, por enquanto, dada a ainda potencial agregação de Serpentina, uma expansão do Minas-Rio está descartada?
Sanches: Não, ela está mais real. Temos um alto nível de confiança em Serpentina, que será confirmado com estudos de viabilidade. Se não fosse assim, não teríamos entrado em acordo com a Vale. O principal é termos um minério de alta qualidade, que possamos acessar e lavrar.
ITM: Quais as informações que a Vale passou à Anglo American sobre o depósito de Serpentina?
Sanches: A Vale nos forneceu toda a documentação disponível, em relação ao mapeamento geológico, furos de sondagem e relatórios. Essas informações nos permitiram chegar ao ponto de assinar um acordo, que aguarda a aprovação dos órgãos competentes. Obtida essa aprovação, partiremos imediatamente para os estudos de viabilidade, de forma a amadurecer os dados de que já dispomos. Possivelmente, precisaremos de mais sondagens e estudos geológicos para aumentar a acuracidade dos dados e fechar a malha de conhecimento da jazida. E também de estudos de impacto ambiental. Essa etapa será liderada por uma equipe da Anglo American, tendo a Vale como parceira, como sócia. Nós teremos a governança do processo e atualizaremos a Vale de sua evolução. Concluídos os estudos, vamos avaliar a viabilidade da duplicação da produção, com novos investimentos. Ainda estamos um pouco distantes dessa fase. Mas chegaremos lá.
ITM: Há muitas sinergias entre o Minas-Rio e Serpentina como a proximidade geográfica e o minério de alto teor. O beneficiamento será feito na planta do Minas-Rio?
Sanches: Tudo ainda será confirmado por estudos. Temos nossa mina e a planta de beneficiamento na Serra do Sapo e podemos agregar mais reservas com Serpentina. Mas as sinergias são inúmeras. Além do próprio minério, temos as comunidades de Conceição do Mato Dentro, Cerro, Alvorada de Minas e Dom Joaquim, com as quais já temos uma relação de confiança. Acredito que, para elas, ter outra mineração atuando concomitantemente na região possui um grande valor. Ganhando as comunidades, ganhamos o Estado de Minas Gerais. Com um minério tão rico podemos gerar renda, aquecer a economia e desenvolver a sociedade de uma forma sustentável e responsável. A Anglo American está numa posição muito melhor para realizar o Projeto Serpentina que a Vale, que começaria do zero. A mineração deveria fazer mais parcerias como essa, que são importantes para todo o setor.
ITM: Mudando de tema, no que se refere à redução das emissões de poluentes, a Anglo American tem um grande marco que é o uso de 100% de energia renovável, incluindo contratos para o uso de energia eólica. Além das fontes de energia, há outros planos para descarbonização?
Sanches: Sim. Desde 2022, toda a nossa matriz energética de consumo vem de fontes renováveis e agora nosso grande ponto de atenção passa a ser o consumo de diesel pelos equipamentos de mina. A Anglo American foi pioneira no desenvolvimento de um protótipo de caminhão fora de estrada, movido a hidrogénio, em uma mina na África do Sul. Em paralelo, estamos estudando modelos elétricos e alternativas como os equipamentos híbridos. Também estamos investindo no HVO, um biodiesel feito de óleos vegetais e hidrogênio, que reduz a emissão de CO2 (gás carbônico), como uma solução de mais curto prazo. Essas tecnologias, embora ainda caras hoje, são um caminho sem volta. Temos um grupo de trabalho dedicado a essa questão e buscamos as melhores opções, de forma inteligente e responsável, para fazer a descarbonização o quanto antes e de forma definitiva. Todas as nossas outras fontes de consumo ou emissões são bem imateriais diante do diesel, que é nossa prioridade agora.
ITM: Outro insumo natural, também crítico na mineração, é o consumo de água agravado, no caso do Minas-Rio, pelo mineroduto. Como está o projeto para reuso dessa água?
Sanches: Atualmente, a performance do mineroduto é de estabilidade operacional. Antes, tínhamos um consumo maior de água. Hoje, a polpa de minério transportada é composta por 70% de elementos sólidos e 30% de água. No Porto do Açu (RJ), o material é filtrado para separação da água, que é tratada, tendo parte utilizada por nosso complexo local e o restante descartado no mar. Claro que não gostamos desse descarte, mesmo a água sendo totalmente tratada. É importante desmistificar essa questão, porque não estamos desperdiçando água ou poluindo o mar. Ainda assim, estamos fazendo estudos para o reuso dessa parcela de água que é descartada, em parceria com outras empresas instaladas ou em vias de instalação no porto. Não temos ainda uma data para confirmar a viabilidade desse projeto. Por enquanto, o que temos é nosso compromisso de reduzir a passagem de água pelo mineroduto, dando a ela o tratamento adequado nos nossos níveis de monitoramento.
ITM: Ainda falando do mineroduto, você era CFO da Anglo American em 2018, quando houve o rompimento da tubulação em Santo Antônio do Grama (MG) e a contaminação de um ribeirão local. Quais foram as principais dificuldades da sua área nessa época?
Sanches: Eu vou falar das dificuldades e das oportunidades, porque passei por uma das principais etapas de meu crescimento profissional e pessoal nessa época. Antes, quero esclarecer que a suspensão de nossa operação durante 9 meses não foi motivada pela contaminação do ribeirão, até porque a quantidade de minério vazado era equivalente apenas à carga de um caminhão fora de estrada. É evidente que qualquer quantidade seria crítica e faríamos de tudo, como fizemos, para solucionar o problema. A paralisação do Minas-Rio se deu para a execução de um plano de inspeção do mineroduto de ponta a ponta, de forma a identificar outros possíveis pontos de fragilidade, como os de alta pressão e desgaste já que, na época, ainda operávamos com mais batches de água. Esse processo resultou em um grande aprendizado, que nos tornou uma referência, inclusive global, na operação de minerodutos desse porte.
ITM: Mas, sendo CFO, como você viu a paralisação das operações?
Sanches: Meu background era financeiro e, nessa área, pensamos muito em números, contas e retorno das margens. Quando se tem uma paralisação como a do Minas-Rio e ficamos praticamente sem receita, a primeira medida que se cogita, automaticamente, é o corte de custos, principalmente de pessoal. Não fizemos isso. Criamos um programa para manter as pessoas conectadas, engajadas e ocupadas física e mentalmente, com atividades esportivas e aulas de idiomas e culinária, por exemplo. Também fizemos uma série de avaliações da planta, identificando necessidades de manutenção para mantê-la impecável. Se tivemos um prejuízo muito grande naquele ano, por outro lado tivemos um lucro enorme com a maior conexão das pessoas, a minimização do impacto da parada no dia a dia das comunidades e o reforço de nossos valores. Quando retomamos a operação, estávamos totalmente prontos. Simplesmente apertamos um botão e voltamos. E o lucro financeiro veio naturalmente.
ITM: Passando ao tema da Diversidade e Inclusão, como você avalia a participação de mulheres nos quadros da Anglo American no Brasil?
Sanches: Nós contamos com programas de desenvolvimento de carreira para mulheres na liderança, de capacitação feminina em cargos de base e investimentos em infraestrutura, nas operações e nos escritórios, além de políticas de acolhimento e de um Código de Conduta, que coíbem
práticas discriminatórias na empresa. Almejamos atingir 40% de representatividade feminina em posições de diretoria, gerência executiva, gerência e consultoria até 2030, meta já estabelecida para todo o grupo. Sabemos que, embora essas metas iniciais sejam marcos importantes que representam enormes avanços, seu alcance não encerra nossa jornada rumo à equidade de gênero. Neste ano, por exemplo, uma experiência muito positiva foi a parceria com a Komatsu, para montagem de um trator por um time 100% feminino no Minas-Rio. Essa iniciativa, inédita no Brasil, reitera nosso compromisso de prover oportunidades, incentivando outras mulheres a exercerem funções antes ocupadas só por homens, como é o caso da montagem de grandes equipamentos de mineração.
ITM: Há também políticas voltadas a outras minorias como LGBT+ e PCDs?
Sanches: Fomos uma das primeiras mineradoras no mundo a constituir uma área específica para lidar com inclusão e diversidade. No Brasil, possuímos uma gerência de Cultura, Inclusão e Diversidade e Saúde Mental, ligada à Diretoria de Pessoas e Organização. Essa área conta com um planejamento estratégico para consolidar uma cultura inclusiva na empresa e responde pela gestão de cinco grupos de afinidade, iniciados a partir de 2018: Womine (Gênero); Somos+ (LGBT+); Raça e Etnia; Gerações; e Incluir (Pessoas com Deficiência). Além disso, a área estabelece programas de desenvolvimento e aceleração de carreira para esses grupos. Também temos um canal de denúncia para receber relatos sobre ações que descumpram nossos valores e políticas e, neste ano, oficializamos nossa adesão ao Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+, movimento pelo respeito e promoção dos direitos dessa comunidade.
ITM: Sabe-se que a mineração se comunica muito mal, apesar de ser uma fonte geradora de renda, emprego e desenvolvimento local e regional. Em sua opinião, como se pode melhorar essa comunicação?
Sanches: O Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) lançou recentemente uma campanha com o objetivo de aproximar o setor mineral da sociedade. A iniciativa é um marco para a indústria mineral, visando uma comunicação mais aberta e transparente, que evidencia a importância e o compromisso do setor com o futuro do país. Um dos pontos cruciais levantados pela campanha é o comprometimento das empresas associadas em fazer cada uma a sua parte, com uma aderência muito forte entre discurso e prática. Acredito que a transformação começa por fazer as pessoas entenderem a importância da atividade e continua ao mostrar que é possível desenvolver a indústria mineral de forma responsável, sustentável e segura. Os municípios que acolhem a mineração mostram que ela, se feita de forma responsável, pode trazer renda e desenvolvimento social, com atuação direta em bases de educação e saúde. Muitas vezes, as pessoas não sabem ou não entendem isso. Mas também pode ser que não tenhamos sido muito efetivos ao contar essa história.
ITM: Qual forma seria mais efetiva?
Sanches: É importante ir para fora da empresa, entender por que há dúvida e resistência, mostrar nossa responsabilidade e foco em uma mineração sustentável. As mineradoras precisam ter em mente que somos hóspedes das comunidades e devemos bater na porta das pessoas com muita humildade, gentileza e, principalmente, escuta ativa. Não dá mais para o setor mineral falar apenas para seus pares. Ouvir os pontos de atenção também faz parte da construção de um processo saudável de diálogo. Precisamos evoluir na busca por uma mentalidade cada vez mais colaborativa, com fóruns e canais de comunicação que estejam junto às comunidades. E, a partir disso, poderemos firmar a licença social para operar como parte da estratégia do negócio, em todos os momentos. Entendo que esse é o caminho certo para criar valor, boa reputação e assegurar a sustentabilidade dos negócios. Não isoladamente, mas em parceria, somando forças.
ITM: Você foi eleita neste ano presidente do Conselho Diretor do Ibram. Acredita ser possível ampliar a abrangência do órgão para agregar empresas de menor porte, incluindo cooperativas minerais?
Sanches: O Ibram conta com mais de 160 associados, responsáveis por 85% da produção mineral do país. A entidade tem se esforçado em busca de um diálogo cada vez mais amplo, transparente e estratégico com os mais diversos públicos de interesse, incluindo governos, iniciativa privada e comunidades. O Ibram estará sempre aberto e disposto a conversar com qualquer empresa ou organização que esteja comprometida com o futuro do país, como nós estamos.
ITM: Qual sua perspectiva para o futuro da mineração, no Brasil e no mundo?
Sanches: Precisamos promover uma política mineral consistente, que enxergue a importância da atividade para o desenvolvimento socioeconômico do país. Isso inclui, entre outros pontos, linhas de financiamento adequadas para o setor, carga tributária justa, maior conhecimento geológico do território nacional e o fortalecimento da Agência Nacional de Mineração (ANM) e demais órgãos responsáveis pela indústria mineral. A mineração é um dos três principais setores da economia brasileira e um dos que tem maior potencial de crescimento na próxima década. Trata-se de uma atividade estratégica para o país, responsável por um legado de desenvolvimento social e tecnológico, além da contribuição para a arrecadação tributária e geração de empregos. Um exemplo de janela de oportunidade para os próximos anos é a agenda de energia limpa e de transição energética, indispensável para combater os efeitos das mudanças climáticas no planeta. Não há fonte de energia limpa que não demande minérios para a sua existência. O Brasil pode inverter a geopolítica global dos minerais críticos e estratégicos, se consolidando como um de seus maiores fornecedores mundiais.
Perfil
Nasceu em: Belo Horizonte (MG)
Mora em: Belo Horizonte (MG)
Formação acadêmica: Economia pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e Ciências Contábeis pela Fumec (Fundação Mineira de Educação e Cultura). MBA em Finanças pelo Ibmec e Educação Executiva pela Harvard Business School, Columbia University e London School of Economics
Trajetória profissional: Possui 27 anos de experiência em finanças, auditoria, planejamento estratégico e desenvolvimento de novos negócios.
Auditora externa nas consultorias Arthur Andersen (1998-2002) e Deloitte (2002-2006). Controller na Holcim Brasil (2006-2012). Gerente Geral de Finanças na Anglo American (2012-2015). CFO (2015-2021). A partir de 2022, na matriz do grupo em Londres (Reino Unido), além do cargo de CFO das divisões Técnica, de Sustentabilidade, Projetos e Desenvolvimento, ocupou também a posição de diretora interina corporativa de Projetos de Capital. CEO da Anglo American Brasil (a partir de dezembro/2023)
Família: Meu maior tesouro
Um time de futebol: Atlético Mineiro
Um hobby: Cozinhar
Maior realização (até hoje): Maternidade
Um “conselho” a jovens economistas: Confiem no potencial de vocês, não desistam dos seus sonhos e, a cada dificuldade, busquem duas oportunidades