UMA GESTORA DO CRESCIMENTO ORGÂNICO DA JAGUAR MINING

UMA GESTORA DO CRESCIMENTO ORGÂNICO DA JAGUAR MINING

Graduada em Administração de Empresas e pós-graduada em Gestão Financeira pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), ela especializou-se em Desenho de Processos de Negócios para Administração Estratégica de Negócios e Gestão Geral pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology). Anos depois voltou à universidade para cursar Ciências Contábeis na Fundação Mineira de Educação e Cultura (FUMEC), formando-se no final de 2021.

Iniciou sua carreira profissional como auditora externa na consultoria Deloitte e, depois, interna no grupo cimenteiro Holcim. Em 2011 ingressou na Jaguar Mining, produtora brasileira de ouro, onde passou por várias áreas como as de TI (Tecnologia da Informação), Segurança Patrimonial, Administrativa, Jurídica e de suporte, incluindo ESG (governança ambiental, social e corporativa). Em 2020, foi nomeada vice-presidente Administrativa da mineradora. É nessa posição que ela supervisiona as funções de Planejamento Estratégico, Jurídicas, de Relações com Investidores e Relações com a Comunidade, Administrativas, de Segurança Patrimonial, Tecnologia e Inovação. Criada em janeiro passado, a nova área de Projetos de Crescimento também passou a integrar seu rol de competências.

É principalmente dessa nova área que Marina Fagundes de Freitas fala nesta entrevista exclusiva à In the Mine. De sua importância para o crescimento orgânico previsto no planejamento estratégico da Jaguar Mining para o quinquênio 2021-2024. Dos projetos de exploração mineral Faina, Zona Basal e Córrego do Brandão, que passam por sondagens e testes metalúrgicos para embasamento dos futuros estudos de pré-vialidade e viabilidade. Do papel da nova equipe multidisciplinar envolvida nesses trabalhos para operacionalizar esses projetos. Da interação com as áreas de Geologia e Engenharia.

Marina fala também dos projetos de exploração mineral em curso nas operações ativas da Jaguar, como as minas Turmalina e Pilar, e no Complexo Paciência, em manutenção desde 2012, neste caso em Joint Venture com a Iamgold. E, como não poderia deixar de ser, a executiva relembra a atuação da mineradora durante a pandemia de Covid-19 tanto nas diretrizes e protocolos internos de prevenção, quanto junto às comunidades locais, com a doação de equipamentos médicos e de proteção individual e de cestas básicas. Por fim, fala da profissão a jovens administradores de empresas:

“Nossa carreira vai mudando ao longo do tempo e se tornando algo muito diferente do que imaginávamos inicialmente. Cada um deve moldar essa transformação, de acordo com o que gosta de fazer, com sua experiência e com o tempo”

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ITM: Qual é a atuação da Jaguar Mining hoje?

Marina: A Jaguar Mining é uma produtora brasileira júnior de ouro fundada há quase 20 anos, de capital canadense, com ações na bolsa de Toronto (Canadá) e operação exclusivamente no Brasil. Temos produzido na faixa de 85 a 90 onças de ouro nos últimos anos e nossa meta é estabilizar essa produção. Uma de nossas operações ativas é a do Complexo Turmalina (MTL), em Conceição do Pará, com uma mina subterrânea e uma usina de beneficiamento. A outra operação é a do Complexo Caeté (CCA), com a Mina Pilar, também subterrânea, em Santa Bárbara, e a usina de beneficiamento em Caeté. A Jaguar também é proprietária do Complexo da Mina de Ouro Paciência, em Itabirito, que se encontra em manutenção desde 2012. Todas as operações estão localizadas em áreas do Quadrilátero Ferrífero, próximo a Belo Horizonte, Minas Gerais.

ITM: A Jaguar acaba de criar a área de Projetos de Crescimento. Quais são os objetivos dessa nova estrutura?

 Marina: Temos trabalhado com planejamento estratégico visando o crescimento orgânico da Jaguar. Nosso plano é, primeiramente, estabilizar a produção e, sequencialmente, assegurar o crescimento dessa produção através de novas áreas que serão estudadas. Essa ampliação é o objetivo da nova divisão. Basicamente, ela receberá um levantamento de dados da equipe de Geologia sobre algumas áreas onde possuímos direitos minerários e fará os estudos necessários de pré-viabilidade ou de viabilidade desses projetos visando a abertura de novas minas para expansão de nossa produção. Com a nova área, o fluxograma passa a ser o seguinte: estudos geológicos pela área de Geologia; análise da viabilidade, incluindo os testes metalúrgicos, pela área de Projetos de Crescimento e, confirmada a viabilidade técnica e econômica, elaboração e implementação do projeto pela área de Engenharia.

“Temos trabalhado com planejamento estratégico visando o crescimento orgânico da Jaguar. Nosso plano é, primeiramente, estabilizar a produçãoe, sequencialmente, assegurar o crescimento dessa produção através de novas áreas que serão estudadas”

ITM: Como será formada a equipe de Projetos de Crescimento?

Marina: Por enquanto, contamos com quatro funcionários e estamos em processo de contratação de mais cinco profissionais para completar esse quadro. Essas vagas adicionais são de Engenheiro Mecânico Sênior, Analista Ambiental, Engenheiro de Processos Especialista, Analista de Relações Institucionais e Auxiliar Administrativo.

ITM: Vocês já têm algumas áreas em estudo?

Marina: Estamos considerando três áreas que parecem promissoras. Uma delas é Faina que, pela proximidade geográfica, teria uma boa sinergia com MTL. Temos a Zona Basal, também próxima de MTL, e Córrego Brandão, próxima à planta de Caeté. Esses são nossos projetos para 2022, que devem ter os respectivos estudos e reports realizados ainda este ano e os estudos de pré-viabilidade e viabilidade concluídos em 2023. Tanto Faina quanto Zona Basal têm mineralização próxima à superfície, mas podem ser acessadas pelo subsolo a partir da Mina Turmalina. Córrego Brandão também deve ser uma mineração open pit.

ITM: Quais são e em que fase estão os trabalhos nessas áreas?

Marina: Em Faina, iniciamos na primeira semana de janeiro de 2022 um programa de perfuração para a conversão de recursos minerais inferidos em medidos e indicados. Apesar de um pequeno atraso devido às chuvas, esperamos concluir esse programa neste primeiro semestre ainda, estabelecendo recursos minerais de M&I adequados para elaborar um relatório de pré-viabilidade. Com a perfuração, também teremos amostras metalúrgicas adicionais para a realização de testes na planta de Turmalina. Na Zona Basal tivemos uma perfuração inicial realizada no final do quarto trimestre de 2021, cujos resultados atualizarão os recursos inferidos até o final de março. A partir daí, iniciaremos o estudo de pré-viabilidade, com definição dos recursos minerais medidos e indicados e testes metalúrgicos.

ITM: E em Córrego Brandão?

Marina: Até agora, os resultados da perfuração incorporaram um pequeno recurso mineral, que deve ser incluído no MRMR, juntamente com os da Zona Basal, em março de 2022. A perfuração também identificou uma estrutura geológica excepcional que indica potencial para um alvo mais profundo e maior. Estamos avaliando a realização do estudo de pré-viabilidade de Córrego Brandão.

ITM: Quais serão as etapas de trabalho para avaliar os projetos de crescimento?

Marina: Todos os projetos serão desenvolvidos obedecendo a metodologia FEL – Front-End Loading, envolvendo o desenvolvimento de definições de projeto para que se consiga identificar e controlar os riscos, minimizar as ameaças, tomar decisões de investimentos e maximizar seu potencial de sucesso. São três fases (FEL1, FEL2 e FEL3), cada uma correspondendo a um determinado nível de detalhamento da engenharia. Ao final de cada fase será constituído um comitê interno multidisciplinar para decidir pela continuidade do projeto, avaliando todos os riscos e benefícios para a Jaguar na sua implantação.

ITM: A abertura de novas minas vem de encontro às metas definidas no planejamento estratégico da Jaguar. Em síntese, quais são essas metas?

Marina: Nosso planejamento estratégico foi estabelecido para um período de cinco anos. Temos uma meta fixa de ação e operação para os primeiros três anos – de 2021 a 2023 – e uma meta de crescimento projetada para os dois anos restantes – 2024 e 2025. A ideia é consolidar um patamar de produção nas minas ativas, de maneira otimizada, e só então buscar a expansão dessa produção com os novos projetos. Temos também metas específicas para cada área, que se desdobram até o nível operacional e que também podem se tornar projetos. Esses três planos – metas de produção, crescimento e específicas – devem confluir para o propósito maior da empresa, que é o de construir prosperidade para todos.

ITM: As atribuições da área de Projetos de Crescimento eram cumpridas antes pela Geologia?

Marina: Sim. Mas nós sempre tivemos na Jaguar, uma visão sobre a Geologia como sendo a área que identifica os alvos e seu potencial para o futuro da empresa. Eu acredito que a área de Projetos de Crescimento foi criada para tirar do papel esses alvos, para efetivar sua operacionalização. Já tivemos muitas mudanças estruturais ao longo dos últimos anos e a nova área foi a forma que a gestão identificou como sendo mais efetiva em operacionalizar e avançar essa agenda de novos projetos. Anteriormente, a Geologia executava todo o trabalho de identificação de alvos e realização das sondagens. Mas nunca chegamos a ter um novo projeto passando da Geologia para a operação de forma direta. Então, criamos a nova área para realizar essa transição e impulsionar esses novos projetos.

“Nosso planejamento estratégico foi estabelecidopara um período de cinco anos. Temos uma meta fixa de ação e operação para os primeiros três anos – de 2021 a 2023 – e uma meta de crescimento projetada para os dois anos restantes – 2024 e 2025”

ITM: Além dos projetos de crescimento, há outros trabalhos de exploração mineral em curso?

Marina: Sim. Temos projetos de desenvolvimento nas minas Turmalina e Pilar. Em Turmalina, o Projeto Noroeste está avançando mais de um quilômetro nas estruturas de tendência noroeste, que continham os corpos de minério na mina. Esse projeto tem o benefício adicional de fornecer acesso aos recursos de Faina tanto para a perfuração de delineamento subterrâneo quanto para a exploração de potenciais reservas minerais. Em Pilar, o Projeto Sudoeste, iniciado em 2021 e que continuará em 2022, abrirá seis níveis adicionais na zona sudoeste da mina, que já possui recursos e reservas minerais definidos, cujo incremento com a nova perfuração deve ser finalizado em 2023. Além desses, prosseguiremos com a exploração mineral no Complexo Paciência, em Itabirito, em propriedades tanto da Jaguar quanto da Iamgold, com quem temos uma Joint Venture para a realização desses trabalhos.

ITM: Quais são, para a Jaguar, os principais parâmetros que poderão determinar a viabilidade desses projetos de exploração?

Marina: Há várias questões que precisamos avaliar para operacionalizar esses projetos. De viabilidade técnica e financeira, de questões de sustentabilidade e sob o ponto de vista das comunidades locais para obtenção da licença social. Justamente por todas essas demandas é que estamos contratando uma equipe multidisciplinar.

ITM: Qual o investimento previsto para a nova área?

Marina: Estimamos um investimento de US$ 27 milhões, em 2022, para os projetos de crescimento e de exploração mineral. Esse valor é 85% superior ao que tivemos no orçamento de 2021.

ITM: Qual foi a produção da Jaguar no ano passado?

Marina: A tonelagem processada em 2021 foi de 856 mil toneladas a 3,47 g/t. Já o desenvolvimento primário foi de 4.722 metros e o secundário de 4.835 metros, totalizando 9.557 metros. A produção consolidada foi de 83.878 onças de ouro.

ITM: Qual é a estimativa de aumento dessa produção com os novos projetos?
Marina: Um dos nossos objetivos com a nova área é, de fato, poder aumentar nossa capacidade produtiva e estruturar um pipeline de projetos. Mas ainda é muito cedo para prevermos como se dará esse aumento, uma vez que estamos na fase de pesquisas.

“Estimamos um investimentode US$ 27 milhões, em 2022, para osprojetos de crescimento e de explora-ção mineral. Esse valor é 85% superiorao que tivemos no orçamento de 2021”

ITM: Tratando de um contexto mais geral, como foi a atuação da Jaguar nesse período de pandemia do Covid-19?

Marina: Desde o início dessa desafiadora pandemia, a Jaguar Mining estabeleceu, de forma imediata e preventiva, diretrizes para proteger a saúde e segurança de nossos empregados, terceiros, parceiros, comunidade e prestadores de serviços. Nossa primeira medida foi a organização do Comitê de Crise Covid-19, que elabora diretrizes, estabelece medidas de prevenção e melhorias e acompanha e avalia a evolução do Coronavirus no país, no Estado, nos municípios onde a empresa atua e nas suas unidades administrativas e operacionais. Imediatamente implantamos o Protocolo de Atendimento Covid-19, conforme orientações do Ministério da Saúde e, desde então, são realizados atendimentos da equipe de Saúde Ocupacional em tempo integral. Diariamente são passadas orientações, de forma presencial e remota, para os empregados, terceiros e prestadores de serviços sobre os cuidados com a saúde e as boas práticas para redução e limitação do contágio pela doença. Nossa equipe de Saúde acompanha diuturnamente as informações oficiais e segue todas as orientações e protocolos, encaminhando os casos suspeitos identificados, o que atualmente ocorre muito pouco, felizmente.

ITM: Quais ações de apoio às comunidades locais você destacaria?

Marina: Entre outras medidas, adquirimos cinco 5 camas hospitalares, com colchões revestidos, 5 aspiradores cirúrgicos, 2 desfibriladores/cardioversores e 2 monitores multiparâmetros para a Santa Casa de Caeté. Na Santa Casa de Santa Bárbara instalamos redes de gases de oxigênio e ar medicinal. Também compramos 50 termômetros e 50 oxímetros para a Secretaria Municipal de Saúde de Itabirito. Distribuímos 600 cestas básicas, em caráter emergencial, para as famílias de Caeté, que se encontravam em situação de vulnerabilidade. Adquirimos máscaras de tecido laváveis, fabricadas pelas Tecelãs de Brumal, para utilização da equipe de hemodiálise da Secretaria Municipal de Saúde  de Santa Bárbara. Outras 12 mil máscaras cirúrgicas triplas descartáveis foram compradas para a equipe de saúde de  Santa Bárbara e 200 unidades foram destinadas a policiais militares de Nova Serrana. Também compramos equipamentos como aspiradores de secreção, bombas de infusão e lancetas para a equipe de saúde de Conceição do Pará.

ITM: Por fim, quais são os princípios ESG seguidos pela Jaguar?

Marina: A Jaguar Mining é uma empresa socialmente responsável, com foco no desenvolvimento sustentável e tendo como princípios de governança o cuidado com a comunidade onde atuamos, com o meio ambiente e a ética governamental.  Nossos princípios-chave foram desenvolvidos por meio de análises da indústria e de nossas áreas operacionais. Gerenciamos nossas atividades e trabalhamos para reduzir os impactos ambientais. Por meio do engajamento com as comunidades onde atuamos e com os governos, seguimos todas as normas regulamentares para proteção ambiental, o que reforça o nosso compromisso em gerir nosso negócio de forma responsável e sustentável.

Também desenvolvemos um trabalho junto às comunidades, realizando programas que promovam o desenvolvimento econômico. Uma das diretrizes da empresa é priorizar a contratação de mão de obra e prestadores de serviço das regiões em que atuamos. Entre os ativos da Jaguar, o mais importante são nossos funcionários. Temos uma cultura forte e desenvolvemos programas e políticas que promovam um trabalho seguro e eficiente, mas que tem no bem-estar de nossos funcionários e na preservação do meio ambiente, indicativos de sucesso.

Perfil:

Nasceu em: Belo Horizonte, Minas Gerais, em 06/07/82

Mora em: Belo Horizonte (MG)

Formação Acadêmica: Administradora de Empresas e pós-graduada em Gestão Financeira pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Graduada em Ciências Contábeis pela Fundação Mineira de Educação e Cultura (FUMEC). Especialização em Desenho de Processos de Negócios para Administração Estratégica de Negócios e Gestão Geral pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology)

Trajetória Profissional: Auditora externa na Deloitte por três anos. Auditora interna na Holcim por quatro anos. Na Jaguar Mining desde 2011, como gerente de Assessoria. Passei por várias áreas: TI (Tecnologia da Informação), Segurança Patrimonial, Administrativa, Jurídica e de suporte, incluindo ESG. Em 2020 assumi a vice-presidência Administrativa da empresa

Família: Casada, com três filhos: um menino de sete anos, uma menina de cinco anos e um menino de sete meses

Hobby: Tenho uma casa nas montanhas onde gosto de ir com a família para passar os finais de semana. Também gosto de viajar, mas já faz um tempo que não faço isso

Time de futebol: Meu avô me deserdaria se ouvisse isso. É o Atlético Mineiro, embora eu não entenda nada de futebol

Um ídolo ou mestre: Luiza Trajano, por sua abordagem, seu posicionamento e, mais recentemente, seu envolvimento no projeto de vacinação para todos

Maior decepção: Tive uns momentos ruins, mas não chamaria de decepções. Acho que consegui tudo a que aspirava quando era adolescente. Como vou falar de uma grande decepção?

Maior realização até hoje: Eu amo a Jaguar. Mas meus filhos são a maior realização da minha vida

Um projeto: Realizar novos cursos de especialização e, se Deus quiser, retomar a normalidade da vida após essa pandemia

Um “conselho” a jovens administradores: Nossa carreira vai mudando ao longo do tempo e se tornando algo muito diferente do que imaginávamos inicialmente. Cada um deve moldar essa transformação, de acordo com o que gosta de fazer, com sua experiência e com o tempo. Não é preciso acelerar esse processo porque ele vai acontecer naturalmente

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