MUNDO DE SAL
“Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver”
(trecho de “Eu sou do Tamanho que Vejo”, do livro “O Guardador de Rebanhos”, de Alberto Caeiro)
Homem do campo, o heterônimo de Fernando Pessoa gostava de avistar a vastidão das terras como se esse mundo exterior o ajudasse a descortinar seu mundo interior. Será que o poeta pensaria assim se pudesse andar pelos caminhos subterrâneos da Wieliczka Salt Mine, uma das mais antigas minas do mundo e patrimônio da Unesco?
A mineração chegou à então pequena cidade homônima, próxima de Cracóvia, no sul da Polônia, no século XIII, quando foram descobertas suas reservas de salgema. Nos séculos XIV e XV, os altos lucros dessa extração se reverteram, por exemplo, na fundação da Academia de Cracóvia – a primeira universidade polonesa. Em 1368, o rei Casimir III emitiu o Estatuto das Salinas, assegurando o desenvolvimento da mina pelas próximas décadas e, no final da Idade Média, cerca de 350 trabalhadores produziram entre 7 e 8 t de sal por ano. Em 1493, Wieliczka recebeu a visita do brilhante astrônomo Nicolau Copérnico, hoje convertido em uma monumental estátua de sal.
Em 1964, todas as operações de extração de salgema foram descontinuadas em favor da produção industrial de sal evaporado, pelo método de mineração a úmido. O espaço foi transformado em uma rota turística já visitada por mais de 45 milhões de turistas. São nove níveis de pavimentos com capelas, altares, várias esculturas e até uma versão da Santa Ceia, de Da Vinci, erguidos em sal.
Todos os dias, centenas de mineiros ainda descem à mina para garantir sua segurança e preservação para as gerações futuras. Podemos nos sentir confinados e longe do céu nas profundezas de Wieliczka. Mas ao contrário do poema de Caeiro, a mina nos torna ricos com a visão de suas maravilhas.
Fotos: Divulgação/Wieliczka Salt Mine