IN THE MINE
Edição 85
Mine Personalidade
Engenheiro de minas formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 1990, seu contato direto com a área de meio ambiente começou já no primeiro emprego. Contratado pela consultoria Abrantes Meio Ambiente, como engenheiro júnior, atuou no suporte a projetos de pedreiras em questões ambientais, como o monitoramento de ruído e qualidade da água. Entre 1992 e 1993, fez um curso de especialização em Segurança da Mineração que, posteriormente ganhou status de mestrado, na Universidade de Alés, na França.
O ano de 1992 seria emblemático para a forma como as futuras gerações passariam a elaborar e tratar o conceito de meio ambiente. A realização da ECO 92, conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre meio ambiente e desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro (RJ), em 1992, foi um marco na criação do paradigma da sustentabilidade para a sociedade civil, organizações empresariais e instâncias de governo.
Definição da rota de processo da Rio Paracatu Mineração
Também foi um marco para o diretor de Sustentabilidade e Licenciamento da Kinross no Brasil, Alessandro Lucioli Nepomuceno, que acabava de voltar da França. Entre as oportunidades profissionais que lhe surgiram, ele optou pelo convite da Rio Tinto, à época proprietária da Rio Paracatu Mineração, produtora de ouro na cidade de Paracatu (MG), hoje da Kinross.
Entre 1993 e 1997, Nepomuceno participou de uma pesquisa pioneira e inovadora para desenvolver a exposição de minério sulfetado evitando a geração da drenagem ácida e seus potenciais impactos à qualidade das águas. É desse trabalho, que definiu a rota de processo atualmente utilizada em Paracatu, que o engenheiro de minas fala nesta entrevista exclusiva a In the Mine. Ele fala também da evolução do tratamento da drenagem ácida e de seus resultados positivos, alcançados ao longo dos últimos 23 anos.
Trata, ainda, do plano de desenvolvimento sustentável da mineradora, do monitoramento dos níveis de exposição ao arsênio da comunidade local e funcionários, dos preparativos para o fechamento da mina em 2030, da importância de um diálogo claro, transparente e consistente com as comunidades e da sustentabilidade da mineração.
Conceito que, segundo ele, depende de controles ambientais efetivos e de projetos socioambientais estruturantes que deixem um legado que mereça reconhecimento e continuidade pela comunidade e partes interessadas.
ITM: Qual é o histórico da pesquisa que definiu a rota de processo da Kinross?
Nepomuceno: Essa pesquisa começou em 1993, quando fui contratado como engenheiro ambiental pela Rio Tinto para desenvolver uma rota de processo para a exposição de minério sulfetado, evitando a geração da drenagem ácida e seus impactos potenciais à qualidade da água. Entre os testes estáticos – células de lixiviação e lisímetros, por exemplo -, já descritos na literatura técnica para amostragem e checagem do potencial de geração de acidez do minério, optamos pelos lisímetros. Montamos um laboratório para testar rejeitos com diversos teores de sulfetos de enxofre, elemento indicador da geração de drenagem ácida. Também avaliamos solos locais, como argilas e siltes, selecionando uma argila férrica para a selagem dos tanques de concentrado e dos tanques específicos, onde os sulfetos seriam dispostos de forma controlada, já que são resíduos perigosos. Foi uma pesquisa fundamental para o sucesso que temos hoje na operação.
ITM: Na época, o que houve de mais inovador nessa pesquisa?
Nepomuceno: A realização de uma pesquisa ambiental aplicada, com um laboratório dedicado dentro da operação mineral, foi inovadora e pioneira em 1993. Até por ser feita entre quatro e cinco anos antes da exposição do minério sulfetado, o que evidencia um planejamento consistente. Além disso, os lisímetros só eram utilizados pela agroindústria para acompanhar o crescimento de espécimes vegetais. No nosso caso, consultores especialistas, do Canadá em particular, fizeram sua adaptação para testes com rejeitos e minérios, o que também foi pioneiro no Brasil.
ITM: Quais são as etapas da rota de processo?
Nepomuceno: O controle da drenagem ácida, na nossa operação, começa com a coleta de amostras específicas de minério nos furos de sondagem e frentes de lavra. Então, identificamos e segregamos o material gerador e o não gerador de acidez, controlando a deposição do estéril já nas pilhas e na drenagem da mina. Na sequência, o minério passa por um processo de flotação, que segrega o sulfeto, produzindo um concentrado sulfetado que é deposto em tanques específicos. De forma controlada também, adicionamos calcário para neutralizar os sulfetos residuais que permanecem no minério segregado, evitando a geração de drenagem ácida pelos resíduos finais que chegam à barragem.
ITM: Como ocorre a geração dessa drenagem ácida?
Nepomuceno: Basicamente, os minérios sulfetados expostos ao oxigênio da atmosfera geram sais ou sulfatos, que ficam depositados sobre a superfície onde se formaram. No contato com esses sais, a água de chuva se acidifica, passando a conter os sulfatos e os metais a eles associados. Esse processo pode ser controlado evitando a exposição ao oxigênio, o que reforça a importância do estudo das coberturas, ou limitando a percolação da água de chuva.
ITM: Houve atualizações na rota de processo desde sua implantação?
Nepomuceno: Foram realizadas várias melhorias. Em particular, passamos a trabalhar com uma malha de amostragem mais fechada, reduzindo o distanciamento entre os blocos de minério. Em paralelo, intensificamos a amostragem dos materiais estéreis. Com isso, criamos um banco de dados e definimos um modelo que nos dá informações detalhadas sobre todo bloco de minério selecionado para lavra, não só quanto ao ouro contido, mas em relação à quantidade de sulfetos e seu potencial de geração de acidez. Assim temos um planejamento de lavra muito mais efetivo do ponto de vista da produção e ambiental.
“A Kinross foi a primeira empresa do mundo a ganhar o ARD Best Practice Award , de melhores práticas em drenagem ácida de rochas, em 2018”
ITM: Quais os resultados desse processo de tratamento da drenagem ácida?
Nepomuceno: Por ter envolvido várias áreas – planejamento de lavra, processo e disposição de rejeitos -, com suporte da área ambiental, desde a fase de pesquisa, esse trabalho criou uma cultura de trazer a variável ambiental para a tomada de decisões estratégicas e operacionais da empresa. Hoje, a área de meio ambiente participa de todas as reuniões, opinando e integrando as questões ambientais aos novos projetos. Outro resultado positivo é a qualidade das nossas águas deslizantes, em particular nas barragens, que atendem aos limites mais restritivos do CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente), no caso, o de águas Classe 2. Em 2018, nossa pesquisa recebeu o ARD Best Practice Award (Prêmio de Melhores Práticas em Drenagem Ácida de Rochas), conferido pela INAP (The International Network for Acid Prevention), associação mundial de mineradoras que atua para a disseminação de conhecimentos e práticas de gestão de minérios sulfetados e controle de drenagem ácida. Fomos a primeira operação no mundo a ganhar esse prêmio.
ITM: Qual o volume de material depositado nas barragens e como é feito seu monitoramento?
Nepomuceno: Em termos de volume, incluindo rejeitos e água, temos 272 Mm3 depositados na Barragem de Eustáquio e 394 Mm3 na de Santo Antonio. O monitoramento geotécnico das estruturas é realizado com piezômetros e inclinômetros, entre outros equipamentos clássicos, para medição das pressões internas e do deslocamento horizontal e vertical de maciços, por exemplo. Do lado ambiental, monitoramos a vazão dos drenos e a qualidade das águas drenadas, nesse caso, com amostragem de metais, sulfatos e PH.
ITM: Como é monitorado o nível de exposição ao arsênio em Paracatu e na Kinross?
Nepomuceno: Na comunidade, controlamos o nível de exposição monitorando a poeira e as águas. A série histórica desse controle, iniciada há mais de dez anos, demonstra níveis de exposição bem abaixo dos limites estabelecidos na legislação brasileira e internacional. A legislação brasileira possui padrões de arsênio muito bem definidos para água e saúde ocupacional, mas não para poeira, o que nos leva a recorrer à legislação internacional. Para água usamos o valor de .001 miligrama/l e, para poeira, o de 6 nanogramas/m3, estabelecido pela União Europeia (UE). Na poeira, o valor corresponde ao conteúdo total de arsênio em média anual, tirado da amostragem de partículas inaláveis medindo geralmente 10 micrômetros.
ITM: A Kinross também desenvolveu uma pesquisa sobre esse tema, não?
Nepomuceno: Sim. Entre 2010 e 2014, junto com o INCT (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia), ligado ao MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação), a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e o Centro Nacional de Pesquisa em Toxicologia Ambiental (EnTox), da Universidade de Queensland, na Austrália, fizemos um estudo sobre a exposição ambiental da comunidade de Paracatu ao arsênio. Verificamos que o nível de exposição nas fontes pesquisadas – água, poeira, solo e alimentos – é baixo. No caso dos alimentos, a associação se dá em forma orgânica, sem risco ao organismo humano, ao contrário da forma inorgânica. Para tratar dessa questão, chamamos especialistas como o professor Jack Ng, do EnTox, que estabeleceu as diretrizes de nosso estudo com a professora Virgínia Ciminelli, da UFMG, com base nas normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e nos padrões da OMS (Organização Mundial de Saúde) para avaliações de risco.
“Nossa estratégia parte do princípio de que a sustentabilidade só pode ser alcançada se o balanço dos impactos positivos da operação de uma mina for superior ao dos impactos negativos”
ITM: E quanto à exposição dos funcionários da Kinross?
Nepomuceno: Há muitos anos também fazemos um monitoramento biológico através da coleta de urina dos funcionários. Essa série histórica demonstra que não temos valores acima do limite estabelecido pela NR7, o chamado Índice Biológico Máximo Permitido, de 50 microgramas/g de creatinina. O mesmo monitoramento tem sido feito com os funcionários que trabalham em Belo Horizonte, sem exposição direta ao arsênio. Os dois grupos apresentam índices de exposição similares e, às vezes, os de Belo Horizonte são superiores aos de Paracatu. No geral, porque em cidades maiores há muito consumo de peixes e frutos do mar, que contêm alta concentração de arsênio, um exemplo de forma orgânica não tóxica. Em Paracatu, a maior via de exposição também é alimentar, em níveis muito baixos, relacionada principalmente ao consumo de arroz, que acumula arsênio naturalmente.
ITM: Quais são os principais eixos da estratégia de desenvolvimento sustentável da Kinross?
Nepomuceno: Nossa estratégia foi criada em 2011 e vem sendo revisada desde então, estando em processo de implementação. Ela traz nosso plano de desenvolvimento sustentável, composto da visão da empresa, metas, programas e indicadores de desempenho, com base na Agenda 2030 e nos 17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU e nos princípios de Desenvolvimento Sustentável do ICMM (International Council on Minerals and Metals). A estratégia parte do princípio de que a sustentabilidade só pode ser alcançada se o balanço dos impactos positivos da operação de uma mina for superior ao dos impactos negativos. Esse balanço deve ser medido e validado pelas partes interessadas na operação, em especial, as comunidades locais. Nossa visão, estabelecida pela alta administração da empresa, objetiva contribuir com o desenvolvimento do território de Paracatu, deixando um legado que seja referência em gestão ambiental, social e econômica de uma mineração próxima à área urbana, em nível nacional e internacional até 2030.
ITM: Como essa estratégia tem sido implementada?
Nepomuceno: Através de programas baseados nos pilares tradicionais da sustentabilidade – sociais, ambientais e econômicos -, sendo que o eixo ambiental inclui a saúde e segurança de nossos funcionários. Os indicadores de desempenho são definidos a partir de consulta às partes interessadas, para que elas expressem suas preocupações e anseios em relação à operação, porque não podemos criar uma estratégia baseada apenas no que importa para nós. Os programas estão alinhados ao Plano Paracatu 2030, criado em 2010 para promover o desenvolvimento sustentável do município. Além disso, a Kinross participa do Conselho de Desenvolvimento Sustentável de Paracatu, empossado em 2018.
ITM: Quais ações estão previstas até o término das operações em 2030?
Nepomuceno: São ações do Programa de Fechamento, que integra o Plano de Desenvolvimento Sustentável, e incluem a continuidade das pesquisas para definir a cobertura vegetal das áreas e outras medidas focadas no encerramento da operação. Alinhado ao Programa de Fechamento, temos o Programa Integrar, atuando nos eixos de educação, cultura, geração de renda e meio ambiente. Uma das ações já implementadas foi nossa contribuição para a criação do Parque Estadual de Paracatu. Adquirimos a área para sua instalação, que foi doada ao governo do estado, participamos da implantação de uma infraestrutura mínima e temos promovido eventos buscando gerar a cultura do uso de espaços de lazer. Agora, estamos em uma fase de apoiar a autossustentabilidade do parque, com sua inserção na rota de turismo de Paracatu.
“As mineradoras estão respondendo bem a esse contexto da Covid-19, demonstrando responsabilidade funcional e social”
ITM: Como é feita a provisão de recursos para o fechamento da mina?
Nepomuceno: Fazemos uma provisão anual, que decorre de um termo de compromisso assinado com o Ministério Público do estado (MP-MG) em 2012, como contrapartida ao licenciamento da expansão da mina para 61 Mtpa. Esse depósito, de R$ 1 milhão/ano, é feito em uma conta gerenciada pela Kinross e pelo MP-MG, e será destinado a atividades remanescentes ao fechamento, quando já teremos algumas instalações desmobilizadas e áreas reabilitadas. Após 2030, durante cinco anos, estaremos concluindo a reabilitação de áreas e acompanhando a estabilidade das estruturas fechadas. Hoje, já reabilitamos 450 ha de áreas só na Barragem de Santo Antonio e, no total, já temos 1.197 ha de áreas reabilitadas. A ideia é realizar a reabilitação no decorrer da operação, em lugar de deixar tudo para o final.
ITM: Como será a descaracterização das barragens de rejeitos?
Nepomuceno: A descaracterização seguirá diretrizes legais, como a Resolução nº 13/2019, da ANM (Agência Nacional de Mineração), a Lei nº 23.291/2019, que instituiu a Política de Segurança de Barragens de Minas Gerais, e a Deliberação Normativa (DN) nº 220/2018, do Copam (Conselho de Política Ambiental de Minas Gerais), que também trata do PAFEM (Plano Ambiental de Fechamento de Mina).
ITM: Como tem sido feita a reabilitação das áreas mineradas?
Nepomuceno: Temos uma equipe dedicada a esse trabalho na área de meio ambiente e estamos conduzindo uma pesquisa aplicada na operação com diferentes coberturas de solo, para definir as espessuras e espécimes vegetais adequadas, priorizando as que são nativas da região. Na mina, temos feito testes para decidir como será o fechamento dos taludes, por exemplo. Na Barragem de Santo Antonio, monitoramos a quantidade de oxigênio, a qualidade da água e o sistema de drenagem há cinco anos. Também criamos o projeto Viveiro Comunitário, onde uma associação gerencia 20 viveiros na comunidade Santa Rita, próxima à Barragem Santo Antonio, com 36 famílias produzindo cerca de 10 mil mudas por ano. Assim, a comunidade adquire um senso de pertencimento dessas áreas, contribuindo para a sua proteção e conservação.
ITM: O que é ser uma mineradora sustentável em tempos de Covid-19?
Nepomuceno: Acredito que nossa responsabilidade independe do momento e que os períodos de crise servem para reafirmamos nossos valores. A pandemia da Covid-19 é um grande desafio para todos os setores. No nosso caso, adotamos padrões de procedimento bastante rigorosos para prevenir a exposição de nossos funcionários ao vírus. As mineradoras, no geral, têm tido grande proatividade na garantia de condições seguras de trabalho, além de contribuir com as autoridades públicas locais fornecendo testes rápidos para detecção do vírus, insumos de saúde e até respiradores. Elas estão respondendo bem a essa situação, demonstrando responsabilidade funcional e social.
“Não existem outras formas de interação com as comunidades que não sejam o engajamento, principalmente, e a transparência”
ITM: Quais são os desafios da gestão ambiental de uma mineradora no Brasil?
Nepomuceno: Um dos grandes desafios é mudar a percepção da sociedade em relação à mineração, que ficou mais negativa após os acidentes com barragens. Podemos reverter essa percepção com muito trabalho e, principalmente, através da consistência entre discurso e prática. A área ambiental e de relação com as comunidades deve ganhar muito mais peso nas empresas, influindo na tomada de decisões relevantes.
ITM: Quais são os principais entraves para o licenciamento de projetos?
Nepomuceno: Há uma crítica um pouco generalizada em relação às dificuldades para a obtenção de licenças minerais no Brasil, que pode ser verdadeira em alguns casos. Mas eu penso que as mineradoras, por seu lado, devem melhorar seu planejamento de longo prazo para estudar e propor a viabilidade de novos projetos de forma antecipada. É um mea culpa que temos de fazer. Questões externas, como a delonga dos processos, podem ser melhoradas. Mas as mineradoras podem contribuir para isso com um planejamento mais bem feito.
ITM: O que falta para uma maior interação das mineradoras com as comunidades locais?
Nepomuceno: Não existem outras formas de interação com as comunidades que não sejam o engajamento, principalmente, e a transparência. Hoje, as comunidades locais definem a continuidade da mineração em suas áreas e se tornaram muito mais empoderadas de conhecimento e articulação. Em Paracatu, como a Kinross está praticamente ao lado da cidade, essa interação é muito necessária. Nossa área de relação com comunidades lida todos os dias com uma série de demandas e precisamos alinhar expectativas. Temos que realizar um diálogo na medida certa, tendo a humildade de ouvir mais, propor alternativas e deixar claras as linhas de investimento da operação, de acordo com os valores da organização, numa linguagem de fácil entendimento pelas comunidades.
ITM: Você foi um dos primeiros profissionais do setor, no Brasil, a se envolver com a área ambiental. Como avalia sua trajetória?
Nepomuceno: Tem sido uma trajetória de aprendizado contínuo, com alguns marcos como a ECO 92, que trouxe a variável ambiental e a questão da sustentabilidade para dentro das empresas. Em 1993, eu estava voltando da minha especialização na área de meio ambiente e várias oportunidades me surgiram. A formação como engenheiro de minas certamente me ajudou muito, porque entendo o processo de produção e posso avaliar de forma mais efetiva os riscos e oportunidades do que está sendo proposto pelos profissionais da área.
ITM: Quais são os maiores obstáculos para que o setor alcance um padrão adequado de sustentabilidade?
Nepomuceno: Discurso e prática devem ser consistentes e bem alinhados. A mineradora precisa definir qual será sua contribuição para a sustentabilidade e caminhar de acordo com essa proposta. A ausência de diretrizes rigorosas pode trazer inconsistência a um plano sustentável. A Agenda 2030 e os ODS da ONU são bons exemplos de diretrizes de partida. É preciso ter políticas, padrões e procedimentos aplicados a todos os processos num mesmo nível. Os padrões devem incluir as fases de exploração, desenvolvimento, operação e fechamento. Também é preciso ter padrões específicos para a gestão de água e rejeitos, por exemplo. Eu tive o privilégio de trabalhar em duas organizações, a Rio Tinto e a Kinross, que têm essas políticas bem definidas. Falar em sustentabilidade implica em controles ambientais efetivos e projetos socioambientais estruturantes, que evitarão passivos e deixarão iniciativas que possam ser continuadas pelas comunidades e partes interessadas. O reconhecimento desse legado pode, inclusive, ser uma vantagem competitiva e abrir as portas a novos projetos.
Perfil
Nasceu em: 19/08/1965, em Conselheiro Lafaiete (MG)
Mora em: Belo Horizonte (MG)
Trajetória Acadêmica: Engenharia de Minas pela UFMG (1990), MSc em Meio Ambiente e Segurança do Trabalho pela Universidade de Alés – França (1993) e em Gestão Ambiental e Estratégia de Negócios pela Universidade de Bradford (1998), no Reino Unido
Trajetória Profissional: Onze anos na Rio Tinto Brasil, de onde saiu em 2005 como gerente corporativo de SSMA. Há 15 anos na Kinross, iniciando como gerente de SSMA América do Sul, passando a diretor de SSMA em 2009 e depois a diretor de Sustentabilidade
Time de futebol: Cruzeiro, como todo bom descendente de italianos em MG
Um hobby: Cuidar de jardins e plantar árvores, além de ler livros sobre a história do Brasil. O último foi Escravidão, de Laurentino Gomes, riquíssimo em referências documentais
Um mestre: Darwin, em especial devido à frase: “Entre as espécies não é a mais forte que sobrevive, mas aquela que é mais adaptável”
Maior decepção: Não conseguir me dedicar mais a causas sociais e ambientais em função do tempo para combinar as tarefas pessoais e profissionais
Maior realização: Minha família
Um projeto de vida: Transmitir meu conhecimento ambiental a crianças e jovens e abrir uma cantina italiana ou mesmo plantar café
Um conselho aos jovens engenheiros de minas: Persistência e paciência. As novas gerações são muito mais preparadas com ferramentas e conhecimento, mas faltam-lhes persistência e paciência para uma boa experiência de vida e profissional. Tenham a humildade de consultar profissionais mais experientes, que podem ser de grande auxílio em tomadas de decisão estratégicas, reduzindo o risco associado aos negócios. E não queimem etapas