Formado em Economia e Ciências Contábeis pela PUC-MG (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais), ele construiu a maior parte de sua carreira profissional no setor público, passando por órgãos e estatais do governo e da prefeitura de Belo Horizonte, em Minas Gerais, e da prefeitura de São Paulo (SP). Entre outros feitos que tornaram sua reputação de excelente gestor amplamente reconhecida, está a geração de mais de R$ 100 bilhões para o caixa do estado mineiro, com a atração de gigantes como a Amazon, o Mercado Livre e a Heineken, quando exerceu a presidência da INDI, atual Invest Minas, agência estatal de promoção de investimentos e comércio exterior. Outro foi a reestruturação da Codemig (Cia.de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais), com a criação da Codemge (Cia.de Desenvolvimento de Minas Gerais), que assumiu com um prejuízo de R$ 200 milhões e deixou com um lucro de R$ 180 milhões.
Era então julho de 2024 e, tendo cumprida a agenda que lhe fora solicitada na Codemge, Thiago Coelho Toscano considerou ter encerrado um ciclo em sua vida. Entre outros convites que passou a receber, aceitou o que lhe pareceu mais próximo de seu propósito desde sempre – transformar a vida das pessoas: o de CEO da Itaminas, produtora de minério de ferro na cidade de Sarzedo, Quadrilátero Ferrífero. Hoje, decorridos cerca de oito meses, sua gestão já possui várias marcas: estruturação de um modelo de Governança; criação do Conselho de Administração, diretorias estatutárias e vice-presidências e de áreas de Compliance e auditoria interna; e revisão do organograma com a internalização dos setores de Contabilidade e Meio Ambiente, antes terceirizados. E uma nova estratégia de comunicação, que busca falar da mineração e de sua importância para a sociedade e o país.
Nesta entrevista exclusiva à In the Mine, além das mudanças, investimentos e atuação socioambiental da Itaminas, Toscano fala também do plano de fazer a empresa crescer colocando-a na rota global da descarbonização, a partir da produção do chamado minério verde empregado em usinas siderúrgicas de redução direta. A jovens estudantes de Economia, recomenda que não se pautem por opiniões alheias ou do mercado ou mesmo pelos altos e baixos da China. “O sucesso profissional depende de cada pessoa, de sua dedicação, de sua disciplina. No final das contas, tudo converge”, assegura o executivo.
ITM: Com uma atuação amplamente reconhecida no setor público, o que o levou a aceitar o cargo de CEO de uma mineradora?
Toscano: Quando fiz a transição para a Itaminas, eu havia fechado um ciclo na Codemge e na Codemig, ao cumprir a agenda que me havia sido pedida, de reestruturação da empresa. A Codemig tinha um prejuízo de R$ 200 milhões quando assumi a presidência e estava com um lucro de R$ 180 milhões quando saí. Na época, eu havia recebido outros convites, mas o que mais me interessou foi o da Itaminas. Além de um bom pacote de remuneração financeira, uma questão que sempre pesa, as perspectivas me motivaram. Fui muito sincero com os três sócios ao dizer que não via muita graça em mineração e que, se fosse para sair de casa, ir até a mina tirar minério e voltar para casa, eu não aceitaria o convite.
ITM: Por quê?
Toscano: Porque, para isso, era melhor chamar um geólogo ou um engenheiro de minas, que entendem muito mais que eu de mineração. Me responderam que a Itaminas precisava de gestão, de governança, de outro tipo de relacionamento com o Ministério Público e os órgãos minerais e ambientais. Como gosto muito das agendas ambientais e sociais, vi a possibilidade de transformar a vida das pessoas, algo que só é possível fazer mais diretamente no setor público. Foi esse propósito que apresentei aos sócios da empresa. E eles toparam.
ITM: Você pode nos dar um breve histórico da Itaminas?
Toscano: Até a aquisição pelos novos sócios, a Itaminas era uma empresa familiar. Foi criada em Sarzedo, em 1958, uma pequena cidade da região metropolitana de Belo Horizonte (MG), com cerca de 40 mil habitantes, onde o impacto de sua operação é muito grande, em termos de arrecadação de tributos e geração de empregos. No decorrer dos anos, a produção foi expandida até chegar nas atuais 6,5 Mtpa. Hoje, a Itaminas possui a segunda maior Licença de Operação (LO) em uma única área no Quadrilátero Ferrífero (MG) e é a 10ª maior produtora de minério de ferro do Brasil. Em julho de 2024 ocorre a troca do controle acionário para um grupo de empresários mineiros – Daniel Vorcaro, presidente do Banco Master, Rodrigo Gontijo, presidente do grupo AVG, e Argeu Geo, presidente do grupo Agéo. Gontijo, inclusive, tem uma história pessoal com a Itaminas, já que seu pai foi sócio da empresa no passado.
ITM: Foi um bom momento para essa aquisição, considerando a redução da demanda chinesa, entre outros fatores?
Toscano: Foi um momento que considero como um grande ponto de virada. A Itaminas é a empresa mais bem posicionada para atender o mercado de siderurgia em sua pauta da descarbonização, um movimento global, que implica, por exemplo, em fornos elétricos ou movidos a gás natural ou hidrogênio, reduzindo o uso do carvão. Só o prêmio pago por um minério de maior teor e com menos contaminantes, para uso na siderurgia, já cobre o custo da descarbonização.
ITM: Qual é a oferta desse tipo de minério hoje?
Toscano: A Austrália não produz e a África tem um projeto ainda inicial. Em volume, sobra apenas Carajás (PA) e o Quadrilátero Ferrífero. A própria Vale blenda o minério do Sistema Norte com o do Sistema Sul, para chegar a um teor de 63%. Assim, exceto Vale e CSN (Cia.Siderúrgica Nacional), que têm outra estratégia de mercado, restam a Anglo American, que produz minério de alta qualidade, mas não é do Quadrilátero, e a Samarco, que já produz pelotas e é, inclusive, um belo exemplo de operação. Meu pai foi da Samarco e devo a ela grande parte da minha formação educacional. Além dessas, temos empresas como a Vallourec, Usiminas, Gerdau e ArcelorMittal que, apesar de terem mineradoras próprias, são siderúrgicas. Qual é a única empresa que está sozinha, tem minério de qualidade e possui autorização para produzir 15,5 Mtpa?
ITM: A Itaminas é uma forte concorrente nesse mercado, então?
Toscano: Sim e essa é a estratégia que desenhamos em nosso planejamento. Hoje, 30% da nossa produção é de pellet feed com teor entre 62 e 62,5% de ferro. Entre 7 e 10 anos pretendemos produzir 70% de pellet feed com teor de 67% e 3,5% de sílica. A ideia é fazer a empresa crescer sobre um produto de valor agregado muito maior. Segundo as projeções da Wood Mackenzie (consultoria), apresentadas na Exposibram 2024, apenas 8% da produção atual atende a esse mercado e seu consumo vai aumentar. As siderúrgicas estão migrando para o Oriente Médio, onde a energia é mais barata, e vão querer consumir esse minério. A oferta não consegue atender a essa demanda. É um princípio básico do primeiro capítulo de qualquer livro sobre Economia. E é aí que eu entro.
ITM: Qual é o prêmio por esse minério hoje?
Toscano: O prêmio já gira em torno de US$ 20 a US$ 30/t, em relação ao Platts 62 (62% Fe), e deve aumentar muito mais. É nesse cenário que queremos nos posicionar, como produtores de um minério da rota de descarbonização.
ITM: Voltando um pouco, o valor da aquisição da Itaminas foi de US$ 300 milhões. Qual a participação de cada sócio na empresa?
Toscano: Daniel Gontijo tem 60% de participação e os outros dois sócios possuem 20% cada.
ITM: Quais foram as principais medidas efetivadas nesses quase oito meses de sua gestão?
Toscano: Como a aquisição acabou coincidindo com um período de Platts muito baixo, tivemos de agir de forma mais rápida. Dentro de nossa visão mais profissional do negócio, o primeiro passo foi estruturar um modelo de governança, o que fizemos revisando o estatuto da empresa. Também criamos o Conselho de Administração, que se reúne ordinária e extraordinariamente para avaliar os indicadores de performance e cobrar desempenho. Aos poucos, estamos implementando políticas de relação com as partes transacionadas, gestão, pessoal e barragens, entre outras, além das instruções normativas para sua execução. Criamos, ainda, as diretorias estatutárias e duas vice-presidências. Para elaborar nosso planejamento estratégico, trouxemos a Fundação Dom Cabral. Implantamos uma auditoria interna, um sistema de mapeamento e revisão dos processos de compra e manutenção e uma área de Compliance com política de integridade, além de reorganizarmos o organograma.
ITM: Qual era o problema do organograma?
Toscano: A contabilidade da empresa, por exemplo, era terceirizada. Internalizamos essa área, assim como parte da área de meio ambiente, que também era externa, e criamos uma diretoria de Sustentabilidade. Um dos resultados diretos do trabalho dessa diretoria foi a aprovação pelo Copam (Conselho Estadual de Política Ambiental do estado), no final de janeiro, da renovação de nossa licença.
ITM: Entre essas mudanças está incluída uma nova estratégia de comunicação?
Toscano: Sim, uma estratégia alinhada ao conceito de que é preciso arrumar a casa tanto do lado de dentro quanto do lado de fora. Assim, nos aproximamos um pouco mais da Prefeitura da cidade, em especial no que se refere ao Parque Natural Ambiental Cachoeira de Sarzedo, um parque urbano projetado pelo mesmo paisagista do Jardim Botânico do Instituto Inhotim e construído pela Itaminas, que está assumindo sua gestão pelos próximos 2 anos através de uma parceria com uma organização do terceiro setor. Nessa mesma linha de “ir para fora” da empresa, estivemos em Londres (Reino Unido) e vamos para a Índia e o Oriente Médio. Também tenho participado de várias entrevistas com o objetivo de falar da mineração e explicar o quanto a atividade é boa e necessária para a sociedade e o país. É um olhar que eu mesmo não tinha antes de vir para a Itaminas.
ITM: Qual a destinação dos investimentos de R$ 1,5 bilhão até 2033, anunciados em dezembro de 2024?
Toscano: O investimento principal será a melhoria de nossa rota de processo na etapa de Cominuição, reduzindo o tamanho do minério para desagregar a sílica e aumentar o teor de ferro contido. Também queremos construir um novo terminal ferroviário, com capacidade de 20 Mt, conectado à linha ferroviária da MRS (operadora da antiga Malha Sudeste), que será uma espécie de hub logístico, servindo a outras mineradoras que hoje utilizam o modal rodoviário para escoar suas cargas. Mapeamos cerca de 20 direitos minerários em 16 km no nosso entorno e podemos fazer uma parceria com essas empresas para arrendamento do nosso terminal.
ITM: Qual é o cronograma de implantação desse terminal?
Toscano: Ainda estamos na fase do projeto executivo e precisamos contratar uma consultoria para avaliar o projeto que elaboramos internamente. Mas já solicitamos a autorização da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) para conexão do terminal à malha da MRS e vamos entrar com o processo de licenciamento ambiental, que deve demorar cerca de um ano. Nossa ideia é iniciar as obras em 2027 e concluí-las em 2028 ou 2029.
ITM: Por que substituir o terminal atual?
Toscano: Além da capacidade menor (10 Mt), com o crescimento da cidade de Sarzedo, a passagem dos caminhões de transporte de minério se tornou um transtorno para os moradores locais. Inclusive, suprimindo esse tráfego evitamos a geração de emissões poluentes, o que também está em linha com nossos objetivos de descarbonização. Estamos estudando outras aplicações para esse terminal, como o de armazém de suprimentos para a Itaminas ou mesmo revitalizar a área para uma finalidade ambiental ou social.
ITM: Os recursos de investimento são próprios?
Toscano: Em recursos próprios, aplicamos R$ 150 milhões na britagem secundária. Estamos em um processo de captação de outros US$ 100 a US$ 150 milhões, totalizando a execução de R$ 350 milhões em 2025, e planejamos novas captações em 2027. Com isso, deixamos de usar apenas recursos próprios e conseguimos acelerar a velocidade de implantação do projeto.
ITM: Quais as modificações previstas no processamento?
Toscano: Na UTM (Unidade de Tratamento de Minério) estamos implantando as britagens secundária e terciária e vamos instalar um HPGR (moinho de rolos de alta pressão), na sequência da britagem terciária. Já temos o prédio da espiral gravítica, para concentração magnética do minério e, mais adiante, a flotação.
ITM: E quanto à expansão da capacidade produtiva?
Toscano: Embora já tenhamos mapeado cerca de 5 Bt de minério em nossa área, quando falamos de expandir nossa capacidade de produção, também falamos de parcerias. Em nosso entorno temos a Cedro Extrativa Mineral, a MIB Mineração, a Mineração Santa Paulina e a própria Vale, com uma série de direitos minerários e dificuldade de escoar a produção. A Santa Paulina, por exemplo, teve que paralisar sua operação, em razão de uma ação judicial, por não ter rota de escoamento para seu minério. Se fecharmos uma parceria, podemos passar o minério dessas empresas em nossa planta e aumentar a produção da Itaminas, já que não conseguimos expandir como queremos utilizando apenas o nosso minério. Estamos, inclusive, aguardando a aprovação pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) de um grande contrato nesse sentido. Não é aquisição, mas ainda não posso antecipar os detalhes devido à cláusula de confidencialidade.
ITM: O aumento de produção implica no aumento de funcionários?
Toscano: Com certeza. Hoje temos 700 funcionários diretos e cerca de 1.800 indiretos, somando 2.500 pessoas. Acreditamos que podemos chegar a 1.000 funcionários diretos quando a expansão estiver concluída. Na fase de implantação, além dos que já estão trabalhando, devemos receber outras 2.000 pessoas. Como queremos priorizar a mão de obra local, essas contratações resultarão em uma enorme geração de empregos na região.
ITM: O projeto contempla a adoção de novas tecnologias?
Toscano: Temos discutido a questão da automação e a implantação de uma frota elétrica de equipamentos, para mitigar a emissão de gases de efeito estufa. (GEE). A maior parte de nossas emissões vem do combustível das máquinas. Então precisamos, necessariamente, partir para essa linha e testar a produtividade dos equipamentos elétricos.
ITM: No atual cenário geopolítico global é viável realizar uma expansão dessa amplitude?
Toscano: Em relação ao cenário global, eu brinco que “quanto pior, melhor”. Se fosse qualquer outra mineradora, eu estaria preocupado. Mas a Itaminas tem um posicionamento muito claro. Somos grandes o suficiente para ter uma estrutura própria, sem terceirizar nada, mas não tão grandes para ter um processo decisório lento. Além da agilidade muito maior para a tomada de decisões, dispomos de grandes volumes de um minério de elevada qualidade, cuja demanda só tende a crescer. No mais, não podemos desenhar nossa estratégia apenas para atender a China. Há outros mercados no mundo que estão implantando usinas de redução direta e vão precisar do nosso minério, inclusive pagando mais por ele. Temos visto o interesse do mercado, principalmente o financeiro, em financiar nosso projeto. Recentemente, recebemos uma comitiva de chineses querendo comprar a Itaminas. Não queremos vender e se fosse para vender, eu não seria a pessoa para conversar sobre isso, mas para falar não.
ITM: Qual é o destino da produção hoje?
Toscano: A exportação de minério de ferro depende de conseguir uma cota em um porto, como o Sudeste (RJ), que é privado, ou em portos concessionados, como os da Vale e CSN. Essas empresas usam todo o volume a que têm direito e, vez ou outra, abrem uma janela para outras empresas, o que impede a regularidade dos embarques, fundamental nas exportações. Mas estão ocorrendo mudanças positivas, como a venda do Porto Sudeste, pela Mubadala e Trafigura, que pode abrir margem para uma maior capacidade de exportação. Em 18 de dezembro de 2024, tivemos também o leilão do novo terminal para exportação de minério de ferro no Porto de Itaguaí (RJ), vencido pela Cedro Mineração. O próprio Porto Sudeste pode expandir facilmente para 100 Mt. Haverá, então, uma superoferta de espaço para mineradoras como a Itaminas, que vendem seu produto majoritariamente para a Vale, CSN ou Trafigura.
ITM: Esse tipo de venda não é considerado exportação?
Toscano: É uma venda para exportação do ponto de vista contábil. Até recebemos a carta de exportação, mas não somos tributados. De toda forma, não fazemos a exportação direta do minério. O grosso da nossa produção é comercializado dessa maneira e somente um residual de cerca de 5%, de hematitinha, é vendido para o mercado siderúrgico interno.
ITM: Falando de barragens, a Itaminas possui hoje a B1, destinada ao armazenamento de água, e a B4, em descaracterização. Como serão tratados e dispostos os rejeitos resultantes do futuro aumento de produção?
Toscano: Nós já fazemos o empilhamento a seco dos rejeitos, que passam por
sistema de espessamento e filtragem. Após a filtragem, cerca de 95% da água é recirculada para o processo produtivo e os rejeitos, com cerca de 22% de umidade, são dispostos no solo para secagem e armazenados em pilhas. A barragem B4 foi completamente descaracterizada e aguardamos a aprovação das obras pela ANM (Agência Nacional de Mineração) para iniciar o período de monitoramento da estabilidade da estrutura durante 2 anos, após o que ela poderá ser excluída do Cadastro Nacional de Barragens de Mineração. Já hoje, seus fatores de estabilidade estão muito acima dos exigidos pela legislação. A B1, que era de rejeitos, passou a servir apenas como barragem de água, nem mais para armazenamento, mas para a contenção da água ali depositada. Também é uma estrutura supersegura.
ITM: Em junho de 2024, a Itaminas assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e a Federação Estadual de Meio Ambiente (FEAM). Todas as condicionantes desse TAC já foram cumpridas?
Toscano: Quando eu assumi a Itaminas, me disseram para me preocupar com dois fatores: Segurança e Meio Ambiente. Por isso, entrei de cabeça nos compromissos assumidos nesse TAC. Eram cerca de 30 condicionantes, que já cumprimos, além de obrigações futuras que foram incluídas na renovação de nossa Licença Ambiental, aprovada em 31 de janeiro. Hoje, a Itaminas é um exemplo na área ambiental.
ITM: Quais as principais atividades socioambientais da Itaminas e qual o papel do Instituto Itaviva nessa esfera de atuação?
Toscano: Em termos ambientais, temos programas de preservação, um viveiro para cultivo de mudas nativas da região e o Parque de Sarzedo onde, além da manutenção, estamos estudando um projeto de balneabilidade para o Ribeirão Sarzedo, que recebe as águas poluídas da Lagoa do Ibirité. O Itaviva, por sua vez, é uma ONG (Organização Não Governamental) criada pela Itaminas para prestar serviços sociais que, em nossa visão, tinham um viés muito assistencialista e desconectado do nosso propósito de promover a transformação social das comunidades locais. Estamos próximos a bairros mais periféricos da cidade, onde a população é de baixa renda e sem acesso a muitos equipamentos públicos. Além da cidade em si, é esse entorno que queremos priorizar em nossa atuação social, até porque a maioria de nossos funcionários vive nesses bairros. Já temos um projeto, que estamos começando a implementar, com o objetivo de aumentar a renda média e o nível de escolaridade da população desses bairros.
ITM: Que projeto é esse?
Toscano: É quase uma franquia de um projeto que conheci em Lavras (MG), que complementa principalmente o Ensino Fundamental, não só com atividades de reforço escolar, mas também com aulas de empreendedorismo e educação financeira, entre outros temas. Com isso, acreditamos que podemos incentivar as pessoas a empreender e a prosperar em seus negócios, estruturando uma sociedade cada vez melhor e com mais acesso a bens e serviços. Também mantemos projetos ligados a esportes, como os de judô e ginástica olímpica, e outros, que beneficiam mais de 5 mil pessoas. Todos com acompanhamento para comprovar que estão realmente surtindo o efeito desejado, que é o de mudar a vida dessas pessoas.
ITM: Agora uma última questão. Em sua opinião, o que falta para que a mineração seja efetivamente sustentável?
Toscano: Primeiro, acredito que toda mudança vem de dentro. Segundo, que é preciso ter convicção do que fazemos uma coisa boa e fazemos do jeito certo. No nosso caso, não produzimos minério de ferro. Produzimos tecnologia para que as pessoas não precisem morar em casas de pau-a-pique, acordar com o galo cantando, ir trabalhar de carroça e, à noite, ler um livro à luz de vela. A Itaminas já errou muito no passado. Podemos errar hoje também, mas teremos muita transparência para reconhecer o problema e resolvê-lo. Sempre com segurança, respeito ao meio ambiente, valorizando o aspecto social e com governança. Só assim poderemos ser considerados uma empresa modelo.
Perfil
Nasceu em: Belo Horizonte (MG), em 28/02/1981
Mora em: Belo Horizonte (MG)
Formação acadêmica: Economia e Contabilidade, com mestrado em Administração pela PUC-MG (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais). Especialização em Finanças pelo IBMEC (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais) e em Políticas Públicas pela EPD (Escola Paulista de Direito)
Trajetória profissional: Analista financeiro no Grupo Fiat (2002-2004). Subsecretário de Planejamento e Orçamento de Minas Gerais (2005-2010). CFO da CZM Indústria de Equipamentos (2010-2011). Secretário-adjunto de Orçamento de Minas Gerais (2011-2012). Consultor executivo da Fundação Dom Cabral (2012-2013). Secretário de Planejamento da Prefeitura de Belo Horizonte – MG (2013-2014). Consultor de Gestão do Setor Público da Accenture Brasil (2014-2015). Consultor de Gestão da Linogen (2015-2016) e do Instituto Publix (2016-2017). Diretor de Gestão e Suprimentos (2017) e da SP Parcerias (2017-2019) na Prefeitura de São Paulo – SP (2017). Presidente do INDI – Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais, atual Invest Minas (2019-2021). CEO da Codemge – Cia.de Desenvolvimento de Minas Gerais (2021-2024). CEO da Itaminas (2024/…)
Família: Casado, com três filhos: duas meninas, de 16 e 11 anos, e um bebê de 9 meses
Um time de futebol: Sou Galo (Atlético Mineiro). Tenho até cadeira cativa no estádio
Um hobby: Ler e jogar tênis
Um mestre ou ídolo: Meu ídolo é Ayrton Senna. Quis ser piloto de Fórmula 1, mas acabei virando presidente de mineradora. O mestre é Bernardo Tavares de Almeida, head de PPP (Parcerias Público-Privadas) da IFC (International Finance Corporation), um braço do Banco Mundial. Um exemplo de liderança e capacidade técnica e meu verdadeiro espelho
Maior decepção: Tudo o que aconteceu na minha vida me permitiu chegar aonde estou hoje e sou grato mesmo pelas coisas ruins. Não tenho nenhuma decepção. De vez em quando, só com o Galo mesmo
Maior realização: Meus filhos e a família bacana que tenho
Um projeto: A maior parte da minha vida foi construída no setor público, que eu sempre vi como uma oportunidade de transformar a vida das pessoas. Foi libertador, agora, descobrir que posso fazer isso também no setor privado
Um “conselho” a jovens economistas: Sua carreira não depende do que as pessoas acham dela, do mercado ou se a China vai bem ou mal. O sucesso profissional depende de cada pessoa, de sua dedicação, de sua disciplina. No final das contas, tudo converge