UM ECONOMISTA NA EVOLUÇÃO DO SETOR DE PEDRAS NATURAIS

UM ECONOMISTA NA EVOLUÇÃO DO SETOR DE PEDRAS NATURAIS

Ainda estudante do curso de Economia, ingressou em uma das empresas do grupo Odebrecht, hoje Novonor. Saiu da área de produção para a administrativa e dela para um núcleo de inteligência em mineração, criado pela construtora que, na época – anos 1970 –, se interessava por investimentos minero-industriais. São dessa fase projetos em parceria com mineradoras como a Rio Tinto Zinc e a Western Mining, além da condução do projeto Vanádio de Maracás, após a obtenção dos direitos minerários em leilão realizado pela CBPM (Cia.Baiana de Pesquisa Mineral), descobridora da jazida.

“Poderia ter sido um projeto baiano e brasileiro”, diz Reinaldo Dantas Sampaio, sobre a mina de vanádio operada há cerca de 10 anos pela canadense Largo. Não é uma crítica. Mas é o lamento de um empresário que, ao longo de décadas e sucessivos governos de seu estado de origem, se ressente da inexistência, até hoje, de uma política pública para fomentar a criação de uma base industrial de rochas ornamentais no Semiárido baiano, região de extraordinária riqueza geológica para esse tipo de empreendimento.

Nesta entrevista exclusiva à revista In the Mine, o presidente da Abirochas (Associação Brasileira da Indústria de Rochas Ornamentais) detalha os dados do setor em termos de produção, tecnologias, balança comercial, legislação, desafios e perspectivas. Fala também da necessidade de uma política setorial de estado que incentive e financie pesquisas, fomente uma indústria de bens de capital e negocie condições para a exportação de produtos beneficiados para países como a China.

Entre outras metas, Sampaio mantém a de reativar a parceria entre a Abirochas e a Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) que, após 21 anos de realizações bem-sucedidas, foi interrompida em 2020 e transferida a uma entidade “sem representação setorial ou experiência em comércio exterior” por força de uma “articulação política”, segundo ele. A jovens economistas alerta que nunca serão economistas se não compreenderem que a Economia é essencialmente social e moral e só existe e serve se pensada para melhorar a vida das pessoas. Serão apenas tecnocratas, como dizia a mestra Maria da Conceição Tavares.

ITM: Em qual momento, sua formação como economista o levou à presidência da Abirochas?

Sampaio: Em meados da década de 1970, ingressei no grupo Odebrecht que, então, tinha uma estratégia de atuar no setor minero-industrial. Para isso, constituiu um núcleo de inteligência em mineração composto por jovens profissionais de diversas competências, do qual tive o privilégio de participar analisando a viabilidade econômica de investimentos minerais. Na final dos anos 1980, início de 1990, com o desinteresse do grupo por esse setor, nos desligamos e constituímos uma nova empresa, a Peval Mineração. Algum tempo depois, fui eleito presidente do Simagran (Sindicato da Indústria de Mármores, Granitos e Similares do estado da Bahia), tendo assento no Conselho da Abirochas, para cuja presidência fui escolhido em 2009.

ITM: Como era a atuação da Peval?

Sampaio: A Peval foi pioneira ao adotar equipamentos italianos de última geração para o beneficiamento de rochas ornamentais. Buscamos também equipamentos pesados nos Estados Unidos (EUA) e implementos na Finlândia e Noruega. Iniciamos a empresa com 16 pedreiras próprias, produzindo granitos e quartzitos no Semiárido baiano, em Goiás e no Espírito Santo, além da planta de beneficiamento em Salvador (BA). Acreditávamos que, com o potencial geológico da Bahia, iríamos estimular uma nova base industrial no estado, o que não aconteceu. No final, a Peval não sobreviveu. Era única em sua especialidade e não possuía um fluxo de navios de porto a porto. Foi um grande aprendizado e uma grande frustração por não vermos outras indústrias se instalando na Bahia, que hoje supre boa parte da produção de rochas naturais com suas matérias-primas.

ITM: Como as rochas ornamentais se situam no mercado consumidor?

Sampaio: Continuamos buscando uma maior presença na arquitetura brasileira. O setor depende da dinâmica da construção civil já que sua dominância é a de revestimento de imóveis ou espaços urbanos. O problema é que a cultura da pedra natural ainda é uma carência no Brasil, a começar da formação acadêmica. Nos cursos de Engenharia e Arquitetura não há uma só aula sobre rochas ornamentais. Também o setor, lastreado em pequenas e médias empresas, tem muita dificuldade de criar um diálogo permanente com a academia, para demonstrar as potencialidades da pedra natural que, por suas características originárias, estéticas e construtivas, atendem perfeitamente às exigências da arquitetura moderna.

ITM: Mesmo com especificadores essa aproximação é difícil?

Sampaio: Nos últimos 4 anos conseguimos dialogar com a Associação Brasileira de Design Interior (ABD). Antes disso, havíamos criado um programa voltado a arquitetos brasileiros e realizamos eventos em diversas capitais do país. Uma renomada arquiteta do Espírito Santo nos disse, inclusive, que esperava por um encontro como esse há 20 anos. Mas, no geral, esse desafio se mantém.

ITM: Quais são os principais estados produtores no país?

Sampaio: O principal é o Espírito Santo, por sua tradição e grau de desenvolvimento de sua base industrial, com uma produção bruta de cerca de 3,9 Mtpa. Na sequência vêm Minas Gerais e Bahia, cada um com 1,9 Mtpa. Depois, temos o Ceará e outros estados, que totalizam uma produção de 10 Mt brutas anuais.

ITM: Quais os tipos de rochas produzidas?

Sampaio: O Brasil tem uma geodiversidade mineral enorme e, no caso das rochas ornamentais, essa exuberância é muito maior. Existem vastas áreas de rochas magmáticas, metamórficas e ígneas, por exemplo, com grande complexidade mineral e aspectos estéticos raros. Temos mármores tão belos quanto os italianos e os arenitos de nossas rochas sedimentares povoam quase todas as bordas de piscinas do país. Hoje, as rochas ígneas são as mais valorizadas, com destaque para os quartzitos maciços, um dos materiais mais caros no mercado internacional. Cerca de 75% da extração nacional desse quartzito vem da Bahia e é processada no Espírito Santo.

ITM: E qual o volume da produção beneficiada?

Sampaio: São cerca de 7 milhões m3 processados, equivalentes a 100 milhões m2 ou perto de 8% da oferta interna de produtos cerâmicos para revestimento. Exportamos cerca de 17 milhões m2 de rochas beneficiadas e entre 600 e 650 mil t de rochas brutas, na forma de blocos, por ano. É um fenômeno, porque não há setor de pequenas e médias empresas no país que tenha uma exportação regular, nesse nível, há mais de 20 anos. Em valores aproximados são US$ 1,3 bilhão em exportações, contra apenas US$ 50 a 60 milhões em importações por ano.

ITM: Para onde vão essas exportações?

Sampaio: Ao todo, exportamos para 124 países, mas cerca de 60% do valor das nossas exportações vem dos EUA, onde somos os principais fornecedores de chapas de granito e rochas ornamentais, além de mármores. Temos a China também, que compra rocha bruta. Desde o governo Fernando Henrique Cardoso (1995 a 2002), tentamos reverter a tributação excessiva que a China aplica sobre rochas beneficiadas. Precisamos que o Ministério das Relações Exteriores (MRE) sensibilize os interlocutores do governo chinês para uma solução que poderia duplicar as exportações brasileiras de rochas ornamentais, dada a grandeza do mercado chinês. Inclusive, esse tema está na pauta de uma reunião que terei no Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

ITM: Qual é a estimativa de recursos e reservas do setor?

Sampaio: A questão de recursos e reservas tem sido objeto de nossos diálogos com a ANM (Agência Nacional de Mineração) há algum tempo. Segundo nosso consultor Cid Chiodi, diferente de outros bens minerais, a reserva de rocha ornamental deve ser a reserva já lavrada. Imagine que, com o avanço de uma frente de lavra, surjam xenólitos, fissuras ou veios que descaracterizem o material originalmente apresentado ao mercado. Nesse caso, a reserva é zero devido a elementos deletérios que surgiram na rocha e que ninguém tinha como antecipar. Então, será necessário licenciar outra frente de lavra, um processo bastante burocrático e demorado, até porque as condições operacionais da ANM são dramáticas. Além dos aspectos mecânicos, de fissura de um bloco depois de extraído, por exemplo, e de diferenças cromáticas da rocha, há outra variável que pode influenciar no que se considera reserva: a alteração de padrões arquitetônicos, que simplesmente determinam a exclusão de um produto do mercado.

ITM: Como a ANM avalia esse conceito de reserva lavrada?

Sampaio: No diálogo pessoal sempre há disposição para escutar. Mas todos são personagens de um sistema institucional fundado em conceitos muito rígidos. Toda regulamentação se baseia em princípios do direito positivo. Que pune quando se faz o que não se poderia fazer ou quando se deixa de fazer o que é obrigatório fazer. Essa visão punitiva se afasta das possibilidades premiais da Economia moderna, de premiar quem faça algo que signifique um avanço de interesse da sociedade.

ITM: Por exemplo?

Sampaio: Por exemplo, o que chamo de estoques remanescentes – seja estéril ou resíduo sólido –, descartados por não serem mais de interesse econômico para o empresário. Esses materiais poderiam ser objeto de uma política premial de estado, que estimulasse e mesmo financiasse pesquisas para transformá-los em bens de interesse da sociedade. A Abirochas, por exemplo, está custeando junto ao Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), um grande parceiro nosso, uma pesquisa para utilizar rochas ricas em potássio na remineralização de solos e nutrição de plantas. É uma pesquisa muito cara e o ideal é que fosse custeada por recursos públicos.

ITM: O que sempre é difícil de obter…

Sampaio: Exato. Dizem que não há recursos para isso. Mas, por mais de 50 anos, o Brasil usa recursos de toda a sociedade para financiar a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico do agronegócio brasileiro. E foi muito bom que tenha feito isso. Se tivéssemos metade do orçamento anual da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), de quase R$ 4 bilhões, para pesquisar tecnologias de aproveitamento de resíduos, já teríamos dado um salto na imagem da mineração brasileira e na própria indústria mineral. A sociedade contemporânea quer racionalidade. A sustentabilidade é também racionalidade.

ITM: Como foi a evolução tecnológica do setor?

Sampaio: A indústria de rocha ornamental no Brasil é referência em avanço tecnológico. A velocidade com que ela saiu de um estágio relativamente rudimentar para a base industrial mais moderna e eficiente do mundo é extraordinária. Cerca de 60% das máquinas de beneficiamento foram adquiridas da Itália. Hoje, já temos duas ou três empresas brasileiras produzindo teares de fio diamantado, que são a última geração do corte de rochas de alta performance, com desempenho igual ao dos equipamentos italianos e por valores bem menores. Esse é outro desafio: um país com nossa capacidade de explorar, beneficiar, consumir e exportar rochas ornamentais deveria ter também, no âmbito de sua política industrial, um estímulo para desenvolver uma indústria de bens de capital no país.

ITM: Quantas empresas de rochas ornamentais há no Brasil hoje?

Sampaio: Temos uma estimativa de 10 mil empresas, sendo que cerca de 9 mil são marmorarias. São dados antigos, baseados em um levantamento que fizemos nas juntas comerciais dos principais estados brasileiros por volta de 2017/2018. Também não são dados exatos, porque muitas micro e pequenas empresas encerraram suas atividades sem dar baixa no registro. Daquelas 10 mil empresas, cerca de 1.200 são mineradoras, a maioria com plantas de beneficiamento, e 450 são exportadoras.

ITM: O que levou o empresário brasileiro a modernizar o parque industrial?

Sampaio: Eu diria, sem qualquer arrogância, que a Abirochas teve um papel central nessa trajetória a partir de 1999, quando assinamos nosso primeiro convênio com a Apex. Nascia aí a internacionalização do setor que, para acessar as oportunidades de exportação, precisava passar por uma modernização empresarial, gerencial e tecnológica. Aí, surgiu outro problema: superar a barreira tarifária para importar equipamentos da Itália, o que foi feito num esforço conjunto da Abirochas com empresários do setor. Esses avanços levaram as rochas ornamentais à posição de quinto bem mineral mais exportado pelo Brasil em valor, com 80% de produtos beneficiados e apenas 20% de matéria-prima.

ITM: Como está o setor hoje em termos de sustentabilidade?

Sampaio: Eu diria que está à altura dos desafios que se apresentam. Se especificadores, responsáveis por formular os conceitos de arquitetura e urbanismo, tivessem, de fato, um compromisso irredutível com o que se define como sustentabilidade, a pedra natural seria o principal elemento de revestimento em obras. Um produto cujo consumo de energia é bem menor que o de qualquer outro revestimento; que recircula toda a água utilizada na produção desde os anos 1990; e que não utiliza substâncias químicas no beneficiamento. Somem-se a esses fatores, sua durabilidade extraordinária e seu baixo custo de manutenção.


ITM:
Quais são os principais diferenciais da rocha ornamental brasileira em relação à de outros países?

Sampaio: Nosso maior diferencial é a diversidade geológica. Em segundo lugar, nosso avanço tecnológico para os mais modernos padrões de extração e beneficiamento. A Índia, por exemplo, é um grande produtor, mas é muito inferior ao Brasil em tecnologia. Por isso, apesar de exportar mais que o Brasil, só exporta matéria-prima. O Brasil lança no mercado internacional 100 novos padrões de rocha ornamental por ano, algo que nenhum país faz.

ITM: Como a reforma tributária pode impactar o setor de rochas ornamentais?

Sampaio: Tenho conceitos favoráveis e críticos em relação à essa reforma. Primeiro, é preciso entender que ela é parcial, tratando só dos impostos diretos. Significa que os impostos indiretos, a despeito de toda sua reconfiguração, continuarão pesando sobre a sociedade de igual modo, do ponto de vista percentual e desigual, porque a característica regressiva da reforma não foi atacada. Há muitas isenções e reduções de alíquotas, mas se a carga total não for diminuída, haverá aumento da alíquota final do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), para compensar aqueles descontos. Assim também com as desonerações, cujo efeito redistributivo é nulo. Esses são problemas da reforma.

ITM: E quais são os pontos favoráveis?

Sampaio: A reforma tem muitas virtudes: simplifica a apuração tributária e dá transparência ao que é direito do estado ou do ente público e ao que é obrigação do ente privado. Assim, reduz o custo da conformidade tributária. Também traz previsibilidade, mesmo pondo fim à autonomia tributária de estados e municípios, que não poderão mais criar tributos de nenhuma natureza. A reforma faz também uma redistribuição intersetorial, o que é justo porque há uma penalização da estrutura produtiva industrial em favor de segmentos como o de serviços e agronegócio, que pagam muito pouco tributo. Ao se onerar em demasia o bem industrial, inibe-se a demanda efetiva e o crescimento da indústria em qualquer economia.

ITM: E quanto ao Imposto Seletivo, chamado de “Imposto do Pecado”?

Sampaio: Acho um equívoco criar uma tributação diferenciada para a mineração, porque ela vai onerar todo o ciclo produtivo. Há esse viés enganoso de tratar a mineração como algo ruim, quando ela é inevitável e insubstituível. A sociedade deveria considerar que não pode viver sem a mineração e que, ao invés de repudiá-la e virar-lhe as costas, precisa olhar com atenção para ela.

 ITM: Voltando um pouco, como foi a parceria da Abirochas com a Apex?

Sampaio: A Abirochas concebeu um plano de internacionalização, que teve o apoio fundamental da Apex durante uma parceria de 21 anos, de 1999 a 2020. Como parte desse plano, realizamos o primeiro Congresso Mundial de Rocha Ornamental no Brasil, um evento que já se estende a vários países. Também criamos o programa Mercado Interno, para disseminar o uso de rochas naturais no Brasil. Uma de suas iniciativas foi a Academia das Rochas, que buscou subsídios junto a marmoristas de todas as capitais brasileiras, para ampliar o uso das pedras naturais na construção civil. Em 2015, publicamos o Estudo da Competitividade Brasileira no Setor de Rochas Ornamentais e de Revestimento, com o objetivo de criar uma política nacional de desenvolvimento setorial e tornar o Brasil uma plataforma exportadora, integrando mineração, indústria e marmorarias modernas, capazes de realizar obras no exterior.

ITM: Qual foi a razão da ruptura com a Apex?

Sampaio: Na passagem de 2019 para 2020, a Apex passou por uma certa turbulência, com troca de sua presidência e diretores. Por força de uma articulação política e sem nenhuma conceituação ou fundamentação técnica, o convênio foi transferido para outra entidade, a Centrorochas, que não possui expressão nacional nem qualquer experiência em comércio internacional. O resultado foi péssimo. Em 2024, foi vergonhosa a atuação da entidade na Coverings, maior feira do setor na América do Norte, realizada nos EUA. Na abertura do evento, os estandes brasileiros estavam vedados por cortinas pretas porque sua montagem não foi finalizada. Além desse desastre operacional, há uma série de problemas bastante graves. A Abirochas já formalizou uma carta solicitando uma auditoria desse convênio à Apex e estamos buscando a retomada da parceria com a agência.

ITM: Quais são os maiores obstáculos para o desenvolvimento do setor?

Sampaio: A questão logística tem grande peso na dificuldade de se forjar uma base industrial local. Mesmo o Espírito Santo, maior produtor, tem que levar suas cargas por cabotagem até os portos de Açu (RJ) ou Santos (SP), porque o de Vitória não tem capacidade de receber navios de longo curso. Na Bahia, além da logística há outras variantes, como a falta de uma política de estado que amplie a produção de rochas na região do Semiárido, onde ela ocorre e que possui uma grande riqueza geológica. Se 100 pedreiras fossem abertas nessa região, ocupariam uma área de apenas 500 ha, gerando 800 empregos, com produção bruta de cerca de US$ 80 milhões por ano. Se o beneficiamento também fosse feito na Bahia, a receita bruta anual chegaria a US$ 320 milhões. Uma atividade pecuária, nos mesmos 500 ha, empregaria 5 funcionários e geraria uma receita de apenas US$ 240 mil por ano.


ITM:
Você já levou essa ideia ao atual governo da Bahia?

Sampaio: O governador Jerônimo Rodrigues (PT-BA) participou de um evento de construção civil na Bahia, o ConstruNordeste, e ficou encantado com as rochas ornamentais expostas no estande de um empresário, que também é o presidente do Simagran. Henrique Carballal, então presidente da Cia.Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), também me disse que o governador tem todo interesse em implantar essa base minero-industrial de rochas ornamentais no estado. Estamos ansiosos para retomar e avançar nesse diálogo.

ITM: Em sua opinião, o rigor da legislação ambiental brasileira dificulta a atividade de rochas ornamentais?

Sampaio: Nesse caso, acho que o maior problema é a pluralidade de entes públicos atuando sobre o mesmo assunto. A legislação em si não é ruim, é necessária. Mas deve haver uma certa uniformidade para evitar mudanças repentinas. Por exemplo, quando se cria uma Área de Proteção Ambiental (APP) onde já existem direitos minerários, impedindo que sejam exercidos. Ou quando o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) exige que toda atividade minerária tenha um estudo arqueológico. Claro que devemos preservar os sítios arqueológicos, mas de uma forma coerente com a realidade, onde a exigência tenha base científica.

ITM: Qual é sua visão do futuro do setor?

Sampaio: Um dos desafios é o domínio da forma com uma nova tecnologia que abra novas possibilidades e dê à pedra natural uma percepção de maleabilidade, de menor rigidez, estimulando a criatividade de arquitetos e projetistas. Outro desafio, que é uma questão brasileira, é difundir a cultura da pedra junto a especificadores e construtores. No site da Abirochas está disponível um manual de especificação, aplicação e manutenção de rochas ornamentais, envolvendo especialistas no tema. A difusão dessa cultura é importante porque há uma inevitável reprodutibilidade técnica da pedra natural. Assim como se imitam obras de arte, a indústria imita a obra da natureza que é a pedra natural. Mesmo sem a aura da peça autêntica, como dizia o filósofo Walter Benjamin, que jamais surgirá novamente em termos geológicos.


ITM:
Estamos falando do porcelanato, certo?

Sampaio: Principalmente do porcelanato. A indústria cerâmica tem um capital muito mais robusto que a de rochas ornamentais, se coloca na mídia o tempo inteiro, investe em desenvolvimento tecnológico e tem parcerias com especificadores. Hoje, não só pode copiar a pedra natural quando quiser, como está começando a copiar o que quer, seguindo tendências de mercado. Como esse processo é inevitável, precisamos aprofundar o diálogo com especificadores para reforçar que só a pedra natural é capaz de conferir a um projeto arquitetônico o caráter de uma obra prima. Pode ser um pouco mais caro que a cerâmica produzida em fábricas, mas é única. Se conseguirmos conquistar 5% do mercado cerâmico, cresceremos 50% em nosso mercado.

Reinaldo Dantas Sampaio2 

Perfil:

Nasceu em: Amargosa, no Recôncavo Baiano, em 05/09/1953

Mora em: Salvador, capital do estado

Formação Acadêmica: Economia, pela Faculdade Católica de Ciências Econômicas da Bahia (FACCEBA). Especialização em Economia Mineral pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Trajetória Profissional: Grupo Odebrecht, a partir de 1973, nas áreas de produção e administrativa e depois como diretor financeiro de empresas ligadas ao setor minero-industrial. Fundador de mineradoras de calcário e brita e da Peval Mineração, onde ainda participa do Conselho de Administração. Ex-presidente do Sindicato da Indústria de Mármores, Granitos e Similares da Bahia (Simagran) e ex-vice-presidente da Federação das Indústrias da Bahia (Fieb). Há 20 anos na Confederação Nacional da Indústria (CNI), onde é conselheiro. Presidente da Abirochas (2009 a 2020 e 2023 a 2025)

Família: Casado há 44 anos, com um filho, uma nora, que também se tornou filha, e dois netos

Time de Futebol: Botafogo do Rio, meu time do coração. Na Bahia, torço pelo Vitória

Hobby: Ler e caminhar

Um mestre: Celso Furtado, o grande norte de meu pensamento econômico

Decepção: Não tenho registros. A vida tem sido muito generosa comigo

Projeto de vida ou profissional: Fundar um banco de desenvolvimento popular para financiar homens e mulheres com vontade ou necessidade de produção, de maneira a potencializar suas competências

Um conselho a jovens economistas: Leiam todas as correntes de pensamento econômico. Leiam também Filosofia, Sociologia, Direito e História, porque a Economia só se consolida no cruzamento de muitas ciências. É essencialmente social e moral e só existe e serve se pensada para melhorar a vida das pessoas. Economista que não compreender isso nunca será economista. Como dizia a mestra Maria da Conceição Tavares, “não passará de um tecnocrata”

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