A necessidade de inovação para que o setor da mineração possa fazer uma transição energética para a economia de baixo carbono, que gere benefícios para o conjunto da sociedade. A oportunidade de desenvolvimento desses minerais estratégicos, para que seja possível avançar na cadeia de produção. E maior diálogo e transparência com a sociedade, para pôr fim a preconceitos.
Esses foram alguns dos temas predominantes nas falas dos integrantes da mesa de abertura da XI edição do Simpósio Brasileiro de Exploração Mineral (SIMEXMIN), neste domingo (19/5), em Ouro Preto (MG). Esta edição, que tem o slogan ““Mapeando os rumos para a transição energética”, acontece até o dia 22 de maio.
O SIMEXMIN, promovido pela ADIMB – Agência para o Desenvolvimento e Inovação do Setor Mineral Brasileiro -, é um fórum relevante para o desenvolvimento da pesquisa mineral brasileira, reunindo empresas, universidades, institutos de pesquisa, órgãos governamentais e profissionais que atuam no setor mineral brasileiro para debater como os recursos minerais desempenham um papel fundamental, fornecendo os elementos essenciais para a produção de tecnologias de energia limpa e renovável para a transição energética global.
O presidente do Conselho Superior da ADIMB, Marcos André Gonçalves, abriu a mesa destacando os números expressivos desta edição, que conta com 15 empresas patrocinadoras, 62 estandes e mais de 1.400 inscritos, muitos deles de vários países. “Aqui estão reunidos profissionais, pesquisadores, acadêmicos e representantes de setores de governo para compartilhar avanços”.
Ele fez questão de ressaltar os desafios sustentáveis deste caminho. “Vale destacar a transição para a economia de baixo carbono. Ao investir em fontes de energia limpa, buscamos não só reduzir o carbono, mas aumentar a competitividade do Brasil, com empregos de qualidade e saúde pública”, disse ele.
Em seguida, o diretor do Departamento de Transformação e Tecnologia Mineral do Ministério das Minas e Energia (MME), Rodrigo Toledo Cabral Cota, chamou a atenção para a necessidade de diálogo com a sociedade. “Esse é o papel do setor mineral neste processo. É mostrar que não é simplesmente cavar o chão e tirar (o minério) para vender: tem desenvolvimento de tecnologia. O setor da mineração gera muita riqueza e é importante a sociedade saber disso para dissipar preconceitos”.
De acordo com ele, a humanidade precisa fazer a transição energética e os desastres naturais são um aviso urgente dessa necessidade. “Isso significa baterias de ion-lítio. E precisamos de grafita, níquel, cobalto, terras raras. Esse desafio é da mineração. Esforços mundiais precisam ser coordenados nesse sentido. Por isso é fundamental o diálogo, para que esse desafio seja vencido, e que o Brasil aproveite da melhor maneira possível as oportunidades que foram abertas”, completou.
O diretor geral da Agência Nacional de Mineração (ANM), Mauro Henrique Moreira Sousa, elogiou o empenho da organização do evento, uma demonstração da força crescente do setor da mineração no Brasil. Segundo ele, a extensa programação desta edição sintetiza o avanço que a ADIMB vem conseguindo ao longo dos anos e a excelência que tem adquirido, “o que mostra como o setor da mineração está cada vez mais pujante no Brasil”.
Sousa lamentou, no entanto, que numa mesa de 11 integrantes, não houvesse uma única mulher. “É uma pena que nesta mesa não tenha uma representante feminina. Espero que nas próximas edições as mulheres tenham mais espaço, não só nesta mesa, mas em todos as tomadas de decisão, no poder. Não só no trabalho de campo e nos laboratórios. Que possam trazer, cada vez mais, toda sua competência, sua capacidade e seu senso humanitário para o setor, algo muito importante”, disse ele, sob muitos aplausos.
O presidente do Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM), Inácio Cavalcanti Melo Neto, saudou o SIMEXMIN como um evento de extrema importância para o país. “Temos aqui uma oportunidade incomparável de intercâmbio, para estabelecer parcerias, discutir políticas públicas e alinhar práticas com regulamentações atuais”, afirmou.
Segundo ele, é fundamental construir soluções para fomentar o desenvolvimento da pesquisa mineral no Brasil, com foco nos minerais críticos estratégicos, para a transição energética, descarbonização da economia e segurança alimentar. “Nos orgulhamos de poder compartilhar nossas ações e dados mais recentes que contribuem para expandir o conhecimento geológico do país, democratizar o acesso aos dados e impulsionar a descoberta de novos depósitos minerais”.
As mudanças na mineração e no mundo deram o tom da fala do presidente da Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa Mineral (ABPM), Luís Maurício Azevedo. “O fato de termos hoje uma Frente Parlamentar de Mineração Sustentável atuante na Câmara dos Deputados, em Brasília, mostra essa mudança. Além disso, hoje temos 100 empresas listadas em Bolsa, todas com práticas de ESG (Ambientais, Sociais e de Governança) e mineração sustentável. A mineração vai abastecer o mundo, não tenho dúvidas. Nenhuma mineração do mundo cresceu como a brasileira nos últimos anos”, lembrou.
Ele ressaltou o potencial único do Brasil no setor. “Nosso país é sustentável, a energia aqui é sustentável. Ninguém além de nós pode saciar o mundo com seus minerais. Somos uma fronteira praticamente virgem. E a mineração é um setor que conclama adeptos para construirmos um mundo muito melhor”, concluiu.
O diretor de Sustentabilidade do IBRAM (Instituto Brasileiro de Mineração), Júlio Cesar Nery Ferreira, também lembrou da presença das empresas de mineração na Bolsa de Valores, mas fez um alerta: “Das 100 empresas listadas na Bolsa, só temos cinco do Brasil, e precisamos mudar isso. Queria lembrar a necessidade de fortalecimento da Agência Nacional de Mineração (ANM), para que possa receber os recursos previstos em lei”.
De acordo com ele, o país tem hoje uma regulamentação de barragens que é uma das melhores do mundo. “Nós temos que trabalhar fortemente para que desastres como os de Brumadinho (rompimento da barragem de mina da Vale/BHP em 25 de janeiro de 2019, que vitimou 270 pessoas e despejou 12 Mm3 de lama nas instalações de operação, comunidades e no rio Paraopeba, em Minas Gerais) nunca mais ocorram”.
Ele disse que o tema do seminário é fundamental, pois no passado foram perdidas muitas oportunidades de se avançar na cadeia da produção mineral. “Nós temos a oportunidade de desenvolver os minerais de transição energética para irmos além nesta cadeia. Existe uma janela aberta à nossa frente, e é importante que possamos trabalhar para ocupar esse espaço, atraindo outras empresas para que invistam nesta cadeia da transição energética”.
(Por: Paulo Boa Nova)
Fotos: Simexmin/Divulgação