Entre 450 expositores, majoritariamente fornecedores de produtos e serviços para o setor mineral, os visitantes da Exposibram 2022 deparavam-se com estandes de mineradoras que operam no país. Também marcaram presença estatais de pesquisa mineral, como o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral, e de desenvolvimento e inovação tecnológica, caso do Centro de Tecnologia Mineral (CETEM).
As mineradoras apostaram em instalações com design e conteúdo que refletissem temas como inovação, inclusão, meio ambiente e investimentos sociais. Numa outra frente de comunicação, seus executivos ministraram ou participaram de palestras do Congresso de Mineração, posicionando-se em relação às mesmas questões, sob a ótica estratégica específica de cada empresa. O SGB e a CBPM focaram na apresentação de seus ativos de exploração mineral, que serão objeto de futuros leilões ou concorrências públicas; nos bancos de dados de mapeamento geológico de seus territórios e em novos aerolevantamentos para a prospecção básica ou de detalhe de depósitos minerais. O CETEM apresentou projetos de novas tecnologias de processamento de minérios.
Anglo American
A produtora de minério de ferro e ferroníquel projetou seu estande com rampas de acesso, pisos táteis e vídeos com audiodescrição visando ampliar a acessibilidade ao ambiente e conteúdos (Foto). A empresa trouxe para o espaço o programa de realidade virtual que usa no treinamento de seus funcionários na área de Segurança no Trabalho e entregou a visitantes mudas de palmito jussara, espécime ameaçada de extinção que integra programa de replantio da mineradora na região de Conceição do Mato Dentro (MG).
Em entrevista a jornalistas, o CEO da Anglo American Brasil e presidente do Conselho Diretor do IBRAM (Instituto Brasileiro da Mineração), Wilfred Theodoor Bruijn disse que, após os dois anos da pandemia de Covid-19, os resultados de mercado registrados pela mineradora são muito bons e que a visão para o futuro é otimista. “Mesmo com fatores de instabilidade externa, com a Guerra na Ucrânia e o aumento da inflação em nível mundial, e internos, como as eleições no Brasil, a demanda por nossos minérios continua bastante firme e a cotação atual do minério de ferro, por exemplo, em torno de US$ 100, ainda é muito atrativa”, explicou o executivo.
A empresa deve investir cerca de US$ 6,5 bilhões no Brasil até 2025, a maior parte (US$ 4,4 bilhões) em melhorias do Sistema Minas-Rio, preparando o complexo para passar da produção atual de 22 a 24 Mtpa (previsão para 2022) de minério de ferro para 30 Mtpa na virada da década (2030). O restante (US$ 2,1 bilhões) irá para as operações de ferroníquel em Goiás, onde parte da produção pode ser direcionada à produção de baterias para veículos elétricos.
Segundo Bruijn, a Anglo American também tem como meta a descarbonização de suas plantas, através do uso de fontes eólicas ou solares de energia para suprimento de suas plantas, e da adoção do hidrogênio como combustível de seus equipamentos móveis. O projeto de desenvolvimento de um motor movido a hidrogênio, já em estágio avançado em uma mina na África do Sul, será trazido para o Brasil, segundo país, entre aqueles onde a empresa atua, a receber a inovação.
“Ainda não temos uma previsão para que isso ocorra, porque o caminhão que usa essa tecnologia na África do Sul precisa passar por novos testes. A descarbonização é um dos temas que não estava em nossa agenda há dez anos, mas que hoje é muito presente”, disse Bruijn. Ele lembrou, ainda, a grande extensão de florestas preservadas pela mineradora, o que também contribui para o sequestro de carbono. No Congresso de Mineração, o CEO da Anglo American participou dos talk shows “Cenário Macroeconômico Político” e “ESG no Setor Mineral”, realizou uma palestra sobre “Mineração do Futuro” e mediou outra sobre “Economia Mineral”.
AngloGold Ashanti
Um dos destaques no estande (Foto) da produtora de ouro foi a visita virtual com óculos 3D à mina Cuiabá, em Sabará (MG), que opera a uma das maiores profundidades da América Latina, a 1.500 m abaixo do solo. Outra atração foi o People Tracking, sistema digital de localização de pessoas e equipamentos no subsolo em tempo real. Os visitantes também conheceram os avanços do sistema de gestão de barragens da empresa, com destaque para os projetos de disposição a seco de rejeitos. A tecnologia eliminará o envio de rejeito em polpa à todas as suas barragens ainda em 2022, como já ocorre desde setembro de 2021 no reservatório Serra Grande, em Crixás (GO), possibilitando a futura descaracterização dessas estruturas.
A AngloGold também aproveitou a Exposibram para lançar o novo Relatório ESG, que reúne os balanços econômicos, sociais, ambientais e de governança de suas operações em Minas Gerais e Goiás no ano de 2021. Destacam-se no período, os investimentos de R$ 1,5 bilhão realizados no Brasil, sendo R$ 41,7 milhões na área ambiental e R$ 12,7 milhões na área social, e a geração de 8.512 empregos diretos e indiretos.
Bamin
No estande (Foto) da produtora baiana de minério de ferro, um túnel com luzes LED e projeções de fotos direcionava os visitantes para o espaço interno, onde eram apresentados a mina Pedra de Ferro, em Caetité, e seu sistema logístico formado pela Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL) – Trecho 1, com 537 km de extensão cortando 22 municípios, que ligará a mina ao Porto Sul, em Ilhéus, no litoral do estado.
“A FIOL 1 e o Porto Sul formam um importante corredor logístico de integração e exportação não só para a Bamin, mas também para o agronegócio da região, criando oportunidades que vão além do setor mineral”, disse o CEO da empresa, Eduardo Ledsham. A mineradora, que atualmente utiliza caminhões rodoviários para escoar seu minério, planeja atingir uma produção de 26 Mt em 2026, quando os projetos da ferrovia e porto, que devem ser iniciados em 2023, estiverem concluídos. Ledsham também participou do painel “Captação de Investimentos para Projetos de Mineração – Casos de Sucesso”, no Congresso de Mineração.
A Bamin foi uma das três empresas premiadas em um concurso realizado pelo IBRAM, que elegeu os melhores estandes da feira, na categoria “Voto dos Expositores”.
Kinross
No estande (Foto) da produtora de ouro, uma sala imersiva com projeções criou uma experiência interativa e sensorial para os visitantes, transportando-os virtualmente ao interior do Cerrado mineiro, bioma da região onde a empresa mantém suas operações, com ampla biodiversidade em fauna e flora. A tecnologia foi usada, ainda, para um tour virtual pela cidade de Paracatu, sede da mineradora, com detalhes sobre sua culinária, cultura e história.
O conceito da instalação foi embasado na palavra “Somos”, grafada nas laterais superiores da estrutura. “Queríamos compartilhar nosso comprometimento com a mineração responsável, o respeito às pessoas, o território e o meio ambiente. Por isso a palavra “Somos”, significando que somos integração, somos cerrado, somos Paracatu. Somos parte de um ecossistema”, explicou Ana Cunha, diretora de Relações Governamentais e de Responsabilidade Social da Kinross. O estande foi um dos três premiados em concurso do IBRAM, na categoria “Voto da Comissão Organizadora”.
Vale
No estande da Vale, a grande atração foram robôs como o Anymal, disponibilizado por um fornecedor internacional da empresa, e o ROSI – Robô para Serviços de Inspeção (Foto), desenvolvido pelo Instituto Tecnológico Vale (ITV) em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
O Anymal é um robô quadrúpede, criado pela suiça Anybotics e adaptado para as operações de mineração com o apoio de uma equipe da Vale, atuando em inspeções de partes rotativas de equipamentos e auxiliando nas atividades em que o empregado precisa executar uma tarefa em uma posição incômoda, além de dar acesso a espaços confinados com maior segurança.
O ROSI, que teve como foco inicial inspeções em correias transportadoras, expandiu sua atuação ao ganhar um braço robótico. Hoje, o modelo é capaz de reposicionar sensores e coletar amostras em locais de difícil acesso, além de superar com facilidade grandes inclinações. Com desenvolvimento open-source – códigos-fonte do hardware ao software totalmente abertos – e estrutura modular, todas as funcionalidades desenvolvidas para o ROSI podem ser aplicadas em outros robôs ou equipamentos utilizando recursos disponíveis na própria Vale.
SGB (CPRM)
O Serviço Geológico do Brasil (CPRM) apresentou seu portfólio de ativos e projetos de exploração mineral, também compartilhado pelo diretor de Geologia e Recursos Minerais da estatal, Márcio Remédio, em palestra no Congresso de Mineração. Remédio participou ainda do debate sobre o “Futuro dos Minerais Críticos para Transição Energética”, também no congresso.
Nesse painel, Remédio destacou o projeto de lítio da estatal no Ceará, licitado recentemente; o mapa de favorabilidade de cobre no Tapajós (PA); e o potencial de produção de cobalto offshore, além de pesquisas sobre ‘carvão limpo’ no depósito de Candiota (RS), envolvendo a geração de gás natural por meio do processo Syngas.
O diretor também tratou do aumento da demanda por minerais utilizados em tecnologias de energia limpa e reforçou, em alinhamento aos outros painelistas, a escassez global desses minerais e a necessidade de investir em pesquisas sobre suas aplicabilidades, lembrando que o SGB (CPRM) elaborou o Mapa do Potencial de Urânio em Escala Continental que, com a flexibilidade da legislação, pode incentivar a atração de investidores privados. O diretor da empresa, Pedro Paulo Dias, foi um dos palestrantes do painel “Invest Mining – A Rede de Investimentos para Projetos de Mineração”, iniciativa estratégica para o desenvolvimento do potencial econômico da mineração no Brasil.
CETEM
Também com estande próprio, o CETEM trouxe para a Exposibram o projeto “AMINOTEM (Ativos Intangíveis, Inovação e Empreendedorismo”, lançado recentemente. Com duração de 24 meses, a iniciativa visa montar e equipar um ambiente para abrigar atividades de promoção da inovação, além de favorecer ações de disseminação da cultura da inovação pela estatal e pelo ambiente produtivo fluminense.
Outros objetivos do projeto são estabelecer novos parâmetros conceituais e operacionais para a criação de um ambiente planejado de inovação e empreendedorismo no Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) do CETEM e reformular integralmente sua área física, tornando-a um espaço catalisador para a inovação e o empreendedorismo, apoio à área finalística e gestão dos ativos intelectuais de PD&I. No Congresso de Mineração, Paulo Braga, pesquisador e diretor substituto do CETEM, ministrou palestra no “Futuro dos Minerais Críticos para Transição Energética”. O pesquisador Fábio Giusti participou do painel “Gestão do Gasto Público Municipal a partir da Renda Oriunda da Mineração”.
CBPM
O estande da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) celebrou os 50 anos da estatal, que serão completados em dezembro de 2022, e também as riquezas minerais da Bahia e suas empresas de mineração, como a Atlantic Nickel, Largo e Bamin. A empresa apresentou aos visitantes as diversas áreas disponíveis para a implantação de futuros projetos minerários, caso da Areia de Santa Maria Eterna, Ouro de Umburanas, Grafita de Ipirá e Calcário de Jacobina e Coribe.
Outro destaque foi o novo Levantamento Aerogeofísico da empresa, realizado no primeiro semestre deste ano. “A Exposibram trouxe ainda mais visibilidade para a CBPM e para a Bahia, que é a terceira maior produtora mineral do Brasil. Ficamos muito animados com os resultados obtidos nestes dias e, principalmente, com os contatos realizados que, esperamos, resultem em novas parcerias”, avaliou Antonio Carlos Tramm, presidente da CBPM.