SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL – Parte II

SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL – Parte II

Leia a primeira parte do artigo “Sustentabilidade Empresarial”, de Mathias Heider, aqui.

Cases – Os resíduos da mineração (estéreis da mina e rejeitos obtidos no processamento mineral) podem ser aproveitados por um outro processo industrial (mesmo em cadeias produtivas diferentes), possibilitando sua substancial redução e a geração de novas receitas para as empresas. Além disso, destacamos a redução de custos operacionais com a menor movimentação desse material e preparação de áreas para seu armazenamento (barragens, aterros, pilhas, etc). Existe um enorme potencial de reaproveitamento de minérios em barragens de rejeito, além da viabilização de aproveitamento de diversos subprodutos na própria mina que, anteriormente, não eram considerados nos planos de aproveitamento econômico das empresas. Outras empresas, ainda, investem na seletividade de seus estéreis de mineração, segregando material que pode ter uso futuro como minério. Citamos o exemplo do minério de ferro de baixo teor silicificado (itabirito compacto), que passou a ser viável economicamente devido à elevação das cotações do minério de ferro. A iniciativa de algumas empresas de mineração na destinação desse material em pilhas específicas permitiu que fosse viabilizado seu aproveitamento futuro.

A CNI e algumas de suas entidades estaduais no Brasil (FIESP, FIEMG, FIESC, etc) implementaram suas bolsas de resíduos com resultados exitosos. Além disso, essas iniciativas também contribuem para a redução de diversos passivos ambientais, criando uma nova alternativa econômica. Como exemplo, a FIEMG disponibiliza o SIBR – Sistema Integrado Bolsa de Resíduos (veja no site), do qual participam diversas unidades da federação, gerando uma ampla gama de oportunidade de negócios entre as empresas. Diversas empresas de mineração investem na eficiência do uso de recursos hídricos, como a Vale que, em 2012, teve seu índice médio de recirculação de água na ordem de 77% (elevação de 7% em relação a 2011). Isso representou uma economia da ordem de 1,277 bilhões de litros de água, suficiente para abastecer 2 vezes o consumo anual da cidade do Rio de Janeiro. Uma das ferramentas utilizadas foi o Balanço Hídrico nas operações da empresa. Citamos alguns outros exemplos a seguir:

Siderurgia: escórias para usos diversos (cimento, agregados, etc). Além disso, os gases gerados no processo são muito melhor aproveitados (a exemplo do processo de pelotização do minério de ferro) ou comercializados como excedentes. A CSN, que já tem minas de calcário, abriu uma nova frente de negócios, com investimentos no setor de cimento. Cada tonelada de aço gera cerca de 600/700 quilos de resíduos sólidos, mostrando assim o potencial de melhor aproveitamento desse material. A venda de carboquímicos gerados no processo de coque (do carvão) já agrega significativas receitas na CSN, que também aproveita os gases no topo dos altos fornos. A CSN criou um Conselho de Sustentabilidade para apoiar as suas atividades e identificar novas oportunidades. Em 2013, as receitas dos resíduos das empresas de siderurgia no Brasil atingiram a cifra estimada de cerca de US$ 400 milhões.

Minério de ferro: o aproveitamento de minério de ferro existente nas barragens de rejeito trouxe uma nova oportunidade de geração de receitas em diversas mineradoras. Algumas mineradoras de ouro já planejam uma alternativa de aproveitamento de minério de ferro em algumas minas, conforme o tipo de minério. Há também estudos, em algumas minas de fosfato, de aproveitamento da magnetita associada ao minério de fosfato. A construção de barreiras de vento (“Wind Fence”) nas pilhas de estoque de pelotas da Vale, em Tubarão, reduziu em cerca de 77,4% a emissão de poeira na região do Porto de Tubarão, em
Vitó ria/ES. Diversas melhorias no beneficiamento do minério de ferro permitem uma melhor recuperação do minério e a otimização do uso de diversos insumos (reagentes, energia, água, etc). A Vale também lançou, em 2013, um programa de reciclagem das correias transportadoras de minério.

Indústria de alumínio: as antigas plantas de metalurgia do alumínio com baixo rendimento energético perdem sua viabilidade econômica devido à baixa eficiência energética (dentre outros fatores). As empresas com fonte própria de energia renovável possuem uma enorme vantagem competitiva nesse mercado.

Rochas ornamentais: resíduos de mármore são aproveitados por diversas empresas na região de Cachoeiro do Itapemirim/ES, com o objetivo de empregar o carbonato de cálcio na indústria alimentícia, farmacêutica, cosmética e química, o que vem tornando uma importante atividade econômica na região. O reaproveitamento de retalhos de rocha (pisos, peças de decoração, revestimento de paredes, construção civil, etc) e de finos do beneficiamento (cerâmica, argamassa, etc) tem seu uso cada vez mais disseminado e viabilizado. A disseminação do uso de fio e tear diamantado também contribuiu para a redução de resíduos nas frentes de lavra e na etapa de beneficiamento, além de reduzir os custos operacionais.

Ouro: conforme o tipo de minério é possível reaproveitar minério de ferro, reduzindo o custo da produção de ouro. O “Projeto Tucano” da Beadell Resources, no Amapá, já extraí minério de ferro associado ao minério de ouro e estima uma redução de custos da ordem de US$ 100 por onça (Oz) de ouro produzida.

Nióbio: os rejeitos obtidos a partir da metalurgia do nióbio contém elementos terras raras (“ETR”) e a CBMM já desenvolveu um projeto para produzir cerca de 3 mtpa de 4 elementos: (cério, lantânio, neodímio e praseodímio).

Indústria cimenteira: em Brasília (DF), o calcário que não tem uso na fabricação de cimento normalmente seria destinado para as pilhas de estéril. Uma adaptação no processamento com uma nova pilha pulmão e um novo circuito de britagem e classificação, permitiu que esse material fosse aproveitado na produção de agregados. Assim, reduziu a relação estérilminério da mina, com consequente diminuição do custo de produção e do impacto ambiental, além de uma nova fonte de geração de receitas.

Figura 4

Indústria de fertilizantes: no processo de produção de fertilizantes (ácido fosfórico), o concentrado de fosfato é misturado com o ácido sulfúrico, gerando um subproduto (Fig.4) que é o fosfogesso, cada vez mais aplicado como corretivo de solo. Em Kalundborg, na Dinamarca, uma estação de carvão de energia, uma refinaria de petróleo, uma fábrica de placas de gesso, uma planta farmacêutica e o município criaram uma “simbiose industrial”, explorando fluxos dos resíduos de cada etapa/processo em cada empresa. As organizações buscam identificar oportunidade para a troca de material entre um e outro, em vez de operar como unidades isoladas.

Na Carolina do Norte (EUA), foram identificadas potenciais parcerias para reaproveitamento de subproduto numa região com a elaboração de um sistema de informação geográfica (SIG). Um exemplo é o de uma em presa que utilizava “Vermiculita” como material de embalagem e percebeu que poderia usar serragem de uma loja de móveis do outro lado da rua, resíduo que, de outra forma, teria sido depositado em aterro.

A utilização de novas tecnologias, novos insumos e lavra sequencial também trazem expressivos ganhos para as empresas. Um bom planejamento do fechamento da mina e seu posterior uso também é uma ação importante de ecoeficiência ao longo da atividade mineral, visando maximizar os efeitos positivos do empreendimento mineral ao longo de sua vida útil.

Tabela 1Indicadores de ecoeficiência

É importante definir os indicadores que permitem monitorar todos os resultados de cada programa de ecoeficiência. Esses indicadores  devem ser conceitualmente bem fundamentados, relevantes e realistas. O grande desafio é conhecer a fundo os processos que envolvem todo o ciclo do empreendimento mineral e fazer as devidas otimizações e melhorias, aumentando a competitividade e sustentabilidade do empreendimento mineral em questão. Existem diversas metodologias de indicadores com a “GRI” e de ONG’s que podem ser ajustadas para cada metodologia de implementação, visando a avaliação das ações de ecoeficiência.

Citamos abaixo, alguns indicadores utilizados no setor de mineração:

• Recuperação da usina de beneficiamento;

• Teor de corte da jazida em relação aos teores extraídos nas demais minas;

• Quantidade de acidentes ambientais e de trabalho;

• Valor e quantidade de venda de resíduos;

• Volume de efluentes e água por tonelada de produtos gerados;

• Percentual de água recirculada;

• Energia utilizada por massa de produto e por tipo de fonte;

• Quantidade de combustível utilizada por massa de produto;

• Emissão atmosférica por massa de produto;

• Consumo de explosivos;

• Custo de lavra e beneficiamento;

• Custo RH por massa de produto;

• Disponibilidade e utilização dos equipamentos;

• Quantidade de energia reaproveitada (gases do processo de pelotização);

• Quantidade de eventos e programas para a sociedade/comunidade local;

• Geração de emissões e efluentes;

• Empregos gerados e produtividade;

• Indicadores sociais na comunidade

Conclusão

As ações de ecoeficiência trazem a melhoria da competitividade e a maior sustentabilidade das operações da empresa. A percepção da degradação ambiental induziu inúmeras mudanças e novas posturas na sociedade, nos governos e nas empresas. Estão sendo desenvolvidas ferramentas, políticas públicas para o setor mineral, tratados e acordos internacionais, tanto na esfera empresarial quanto governamental, visando o desenvolvimento sustentável. É necessário desenvolver a governança ambiental local e global e buscar a integração de suas ações. Nesse cenário, ressaltamos a crescente importância da questão das políticas públicas e a forma de atuação do controle ambiental e sistema regulatório feito pelo estado, que deve ser permanentemente revista e repensada, conciliando a sustentabilidade e a competitividade, integrando as ações dos diversos agentes envolvidos (“stakeholders”) e a busca da qualidade de vida das populações envolvidas. Também se observa a evolução da crescente influência do mercado como indutor de melhoria ambiental nas empresas por intermédio da atuação de ONG’s, selos verdes, certificações ambientais e pelo estabelecimento de critérios ambientais para financiamentos e investimentos.

Assim, a aplicação do conceito de Ecoeficiência é uma forma das empresas se manterem no mercado, uma vez que, além da redução dos custos, elas ganham em competitividade e sustentabilidade. Além disso, é importante ressaltar que a sustentabilidade é uma exigência cada vez maior no mercado mundial. Da mesma forma, a redução dos desperdícios e novos produtos e subprodutos se traduz em custos menores, novas fontes de receitas e em melhoria da produtividade. Com mais saúde financeira e posição competitiva reforçada, a empresa fica menos vulnerável às oscilações do mercado. Com a Ecoeficiência é possível demonstrar responsabilidade ambiental, que é um conceito que vai muito além do simples cumprimento de obrigações legais. Passa pela cidadania, pelo compromisso com o social, posturas pró ativas, princípios, crenças e valores do conjunto formado por uma empresa, seus empregados e comunidades onde atua.

(Agosto/setembro 2013)

Mathias Helder(*) Mathias Heider é engenheiro de minas do DNPM

 

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