RIQUEZAS A SEREM CATALISADAS

RIQUEZAS A SEREM CATALISADAS

Por Ricardo Gonçalves

biolixiv itatijuca inov 15A biolixiviação é uma tecnologia do ramo da hidrometalurgia, que consiste, quando aplicada ao setor mineral, na utilização de rotas biotecnológicas para a recuperação de metais presentes em minérios oxidados e sulfetados, na fase de solubilização, ou para o pré-tratamento de minérios e concentrados. Trata-se de uma tecnologia de oxidação bacteriana de minérios. De acordo com o MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), uma das melhores instituições de ensino do mundo, a biolixiviação é utilizada em mais de 20% das minerações de cobre de todo o planeta. Outra estimativa é de que 30% do volume total de cobre minerado no Chile passe pelo processo biotecnológico.

Rafael Ferreira, CEO da Itatijuca Biotech
Rafael Ferreira, CEO da Itatijuca Biotech

Amplamente utilizada em outros países onde a mineração é um ramo econômico importante, como Austrália, África do Sul e Canadá, a tecnologia ainda é praticamente desconhecida no Brasil. Alguns motivos contribuem para isso, como a alta qualidade da maior parte do minério brasileiro, a própria falta de cultura e perpetuação de métodos mais tradicionalistas no segmento e a própria falta de P&D no país. “Além disso, as indústrias e as universidades possuem uma relação relativamente distante, o que dificulta a comunicação entre elas”, afirma Rafael Ferreira, CEO da Itatijuca Biotech. Criada oficialmente em 2014, a empresa tenta reverter esse quadro.

Com seis profissionais internamente, 50% deles com doutorado, e consultores renomados, como Denise Belaviqua, doutora em Biotecnologia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) e viúva de Oswaldo Garcia Jr, considerado o “pai” da biolixiviação na América Latina – pela Indústrias Nucleares do Brasil (INB), Garcia foi o primeiro especialista do mundo a produzir urânio utilizando o processo biotecnológico –, a Itatijuca Biotech vende uma alta tecnologia para a mineração, também aplicadas a outros setores, como o agrícola. Hoje, a companhia é a única a realizar o trabalho com biolixiviação no país. No caso, o produto se chama BioMIDAS. Recentemente, o Centro de Desenvolvimento Mineral (CDM) da Vale desenvolveu, em paralelo, uma pesquisa sobre a biolixiviação na extração de cobre contido em minérios não processados na mina do Sossego, em Canaã dos Carajás (PA).

Métodos de Aplicação
Há duas formas claras para a aplicação da biolixiviação na mineração. Uma delas se dá com custos muito mais baixos, no comissionamento de uma planta, partindo do zero. Dessa forma, não há necessidade de uma planta de ácido sulfúrico para o processamento mineral, pois as próprias bactérias utilizadas produzem o ácido. São as chamadas Acidithiobacillus ferrooxidans e Acidithiobacillus thiooxidans, inofensivas aos humanos. Esse método otimiza toda a operação, reduzindo gastos para a mineradora e possibilitando um licenciamento ambiental mais simples. Além disso, o processo ainda consome CO2.

Marcelo Xavier, diretor de Mineração da Pöyry
Marcelo Xavier, diretor de Mineração da Pöyry

A outra forma de aplicação se dá numa planta já em operação. Neste caso, um módulo de biolixiviação é instalado. É um projeto de engenharia muito menos complexo. Uma parceria foi fechada recentemente com a Pöyry, pensando na expertise da empresa no planejamento, comissionamento e gerenciamento de plantas, no start-up. “A Pöyry será o braço de engenharia da Itatijuca e, certamente, iremos cooperar na prospecção de novas oportunidades”, relata Marcelo Xavier, diretor de Mineração da Pöyry. “O interesse do mercado é muito grande, especialmente por empresas cujo produto é a extração e beneficiamento de ouro e cobre. Buscamos empresas inovadoras que possam agregar valor aos projetos, seja em novas tecnologias ou processos, e a Itatijuca procurava uma empresa de engenharia que desse o suporte necessário para a implementação da sua tecnologia”, completa.

biolixiv itatijuca 2 inov 15Mais do que popularizar e divulgar abertamente a tecnologia, a estratégia da Itatijuca Biotech tem sido marcar reuniões com CEOs e diretores das mineradoras para conseguir apresentar seus benefícios e de que forma as empresas podem otimizar suas operações. “Buscamos companhias de qualquer porte. Em outros casos, elas que nos buscam. Somos especialistas em soluções com enxofre e dominamos o processo de separação na metalurgia”, detalha Ferreira. “É importante ressaltar que todos os metais sofrem lixiviação, exceto o ouro, no qual a biolixiviação remove os interferentes (enxofre, cianicidas e matéria carbonácea), expondo o ouro ocluso e permitindo que ele seja recuperado com menor custo por meio da cianetação”.

Especialmente num momento econômico como o atual, as mineradoras precisam buscar formas de obter melhores resultados e alavancar sua produtividade. Para se ter uma ideia do aproveitamento de minérios marginais, polimetálicos e de baixo teor, muitas vezes tratados como resíduos, o depósito de ouro Jinfeng, localizado na província de Guizhou, na China, e pertencente à Eldorado Gold, consegue uma recuperação de 93 a 94% de ouro. A planta, uma das maiores da China, é projetada para tratar até 790 t/dia de concentrado com um teor de enxofre de 9,37% em dois módulos de oito reatores de biolixiviação de 1.000 m³ cada.

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