Para Constantino Seixas, diretor da Prática de Industry X.0 da Accenture, a mineração passa por uma grande revolução tecnológica ao assimilar os conceitos da indústria 4.0, tanto em projetos de capital (greenfield) como em plantas já consolidadas.
Uma mudança comum a várias mineradoras – em algumas, já adotada há cerca de 10 anos -é a implantação de centros integrados de controle, também chamados COI (Centro de Operações Integradas) ou ROC (Remote Operations Center), para toda a cadeia produtiva – mina, plantas de concentração, transporte e logística.Em maior ou menor grau, há também projetos de Autonomous Mine, Precision Mine, Mine to Mil, Digital Safety, Predictive Maintenance, Connected Mine e Smart Mine.
A importância da chegada do 5G
Outra revolução se dará na área de infraestrutura, com a chegada do 5G. Hoje, o que se tem para a frota de AHS (Autonomous Hauling System) são redes WiFi ou 4G (LTE), além de um sistema de HPGPS (High Precision GPS) para posicionamento, que depende de estradas desimpedidas e bem conservadas. “Se um caminhão autônomo se depara com uma rocha no caminho, ele a considera um obstáculo e parará até que ela seja removida”, explica Seixas.
Já para a localização de pessoas e equipamentos em tempo real na planta pode ser necessário, conforme a situação, combinar redes WiFi, LoRA ou BLE. A rede sem fio também serve à manutenção de equipamentos e para o suporte de Connected Worker, permitindo que o operador de campo acesse qualquer documento on-line a partir de um data lake, incluindo roteiros de inspeção, desenhos técnicos e procedimentos de manutenção, ou receba orientação de um colega mais experiente, através de uma interação virtual.
Dry mining: vocábulo da nova era
Em termos de sustentabilidade, a busca é por soluções de beneficiamento a seco e de monitoramento de barragens através de centros integrados. “Sem dúvida, o dry mining faz parte do vocabulário dessa nova era. Dependendo das características da mina, os processos via úmida, como flotação, ainda são muito necessários, mas quase todas as mineradoras possuem projetos de filtragem para reduzir a geração de rejeitos. Aliados às novas técnicas de construção de barragens e ao monitoramento digital, essas tecnologias trarão mais segurança às operações”, considera Seixas.
Outras tendências são os sistemas de monitoramento integrado e de análise de riscos para toda a possibilidade de falhas em processos que possam causar danos a pessoas ou ao meio ambiente; o gerenciamento de energia para redução de consumo; e a mudança da matriz energética para fontes renováveis. Nesse escopo, inclui-se a eletrificação da frota de lavra e o uso de hidrogênio como combustível não poluente em caminhões. Também a redução da geração de poeira é outra preocupação das mineradoras.
Embora hoje vários projetos mineiros já nasçam digitais, uma operação totalmente autônoma ainda é uma utopia, avalia Seixas, e deve passar antes pelo estágio intermediário da operação remota, com uso de joysticks e câmeras (CCTV). Como exemplo,o diretor cita o caso de uma mina cuja operação será observada a 65 km de distância através de 800 câmeras.
Digitalização é um processo evolutivo
Diante do que parece ser um caminho irreversível – a transformação digital -, a mineração, sendo uma indústria mais conservadora, muda mais devagar. Para Seixas a opção por uma mina digital é um processo evolutivo, que não tem sido pautado pelo valor de investimento. “Hoje, as maiores mineradoras estão capitaneando esse processo de transformação, sendo imitadas pelas menores. Na Austrália, as cinco maiores mineradoras já estão bem adiantadas nessa jornada, enquanto no Brasil vemos uma aceleração nesse processo, assim como no Chile e no Peru”, finaliza o executivo.