As emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) precisam ser reduzidas pela metade até 2030 e neutralizadas até 2050. Esse horizonte temporal que agora parece próximo, mostrava-se factível em 2015, quando foi negociado o Acordo de Paris, tratado internacional sobre mudanças climáticas. Afinal, muito poderia acontecer no decurso de 15 anos. Na verdade, aconteceu. Pesquisa e desenvolvimento tecnológico tiveram um grande avanço no período e foram estimuladas mudanças comportamentais de consumo e produção por agentes do setor industrial.
A partir de um inventário de emissões por atividade produtiva, a mineração brasileira, hoje a apenas seis anos de cumprir a primeira meta, foca seu programa de descarbonização principalmente em seus processos de beneficiamento. Nas minas, a frota móvel de lavra e transporte é a prioridade da vez. Outro foco são as emissões de escopo 2 (indiretas), de contratos com operadoras de energia solar e eólica a fornecedores. Para emissões de escopo 3, de clientes da marca, o alcance se dá através dos chamados produtos “verdes”.
Para atingir seus objetivos, as mineradoras entrevistadas nesta edição – ArcelorMittal, Hydro e Samarco – têm em comum a substituição de combustíveis fósseis por gás natural, a otimização do uso de carvão e a melhoria da eficiência energética dos processos. Há exemplos ainda de economia circular: o uso de sucata pela ArcelorMittal, substituindo parcialmente o minério processado, e de resíduos da lavra de mármore pela Samarco, em complementação ao calcário, na produção de pelotas.
O caminho não tem sido fácil. Faltam tecnologias disruptivas com baixa pegada de carbono; linhas de financiamento e incentivos governamentais para fazer frente aos custos operacionais inerentes a uma produção efetivamente limpa; e novas fontes de energia, como o hidrogênio, ainda são caras e de oferta insuficiente para atender à potencial demanda. Mesmo as tecnologias disruptivas, necessárias e efetivas para a descarbonização, precisam se comprovar seguras o bastante para garantir o cumprimento dos parâmetros de qualidade química, física e metalúrgica dos produtos.
Um mecanismo que poderá ser útil, a negociação de créditos de carbono, na dependência da regulação do SBCE (Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa), não atrai, por enquanto o interesse das entrevistadas. Por um lado, a definição e detalhamento das regras, reduzindo as incertezas do mercado e dando transparência a esse comércio, pode ser importante para fins de compensação, no caso do descumprimento das metas de redução ou neutralização das emissões, ou de venda de excedentes de seu cumprimento.
Mas será preciso considerar ainda, como bem lembrado pelo vice-presidente de Operações da Hydro, Carlos Neves, o histórico das empresas que têm investido em ações de descarbonização, para que elas também possam se beneficiar dos créditos de carbono. “O mercado deve pagar prêmios por produtos mais verdes e sustentáveis”, conclui o executivo.
Foto: Operação da primeira caldeira elétrica da Hydro Alunorte
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