A galeria G-95 é parte de um TCLD (Transportador de Correia de Longa Distância) que traz para empilhamento na mina Timbopeba, da Vale, em Ouro Preto (Minas Gerais), o minério de ferro extraído da antiga mina Capanema, hoje Projeto Capanema a Umidade Natural (veja Box). A estrutura, com 95,5 m de comprimento, 4,7 m de largura e peso de 285 t, foi içada a uma altura de 37 m, utilizando guindastes de grande porte em operação simultânea. O vão abaixo da galeria é considerado um dos maiores sob um TCLD na América Latina.

O transporte, montagem e içamento da G-95 mobilizou uma equipe multidisciplinar composta de 54 profissionais, sendo 20 especialistas da Vale em Segurança do Trabalho, Meio Ambiente, Operação, Manutenção e Infraestrutura – e 34 funcionários de sete empresas contratadas e subcontratadas, com atuação nas áreas de Logística, Inspeção de Equipamentos, Transporte, Montagem e Elevação de cargas pesadas e especiais. Os fornecedores foram selecionados com base em certificações de segurança, qualificação técnica e experiência comprovada em operações de içamento de grande porte.
Segundo Daniel Habaeb, gerente de Saúde e Segurança do Trabalho do Projeto Capanema, a elevação da G-95 foi planejada durante sete meses – entre novembro de 2023 e junho de 2024 -, e executada no dia 06 de julho de 2024. “O sucesso da operação foi resultado desse planejamento antecipado e do envolvimento de diversas áreas e profissionais, sempre com um canal de comunicação aberto e transparente e tendo como principal valor a segurança. Não apenas superamos os desafios técnicos e logísticos inerentes ao trabalho, como também estabelecemos um novo marco na engenharia de içamento da América Latina”, afirma o gerente.
OPERAÇÃO
O içamento da galeria G-95 era parte do escopo de um dos maiores contratos do Projeto Capanema, fechado com a Construcap CCPS Engenharia e Comércio (veja matéria nesta edição), sediada na capital paulista. Baseada em estudos técnicos, a empresa realizou uma concorrência para o fornecimento de dois guindastes treliçados sobre esteira, de 450 e 550 t, definidos como os equipamentos mais adequados à operação proposta, já que o peso e dimensões da carga, a posição dos olhais na extremidade da G-95 e as interferências físicas locais não permitiam o içamento com apenas um guindaste.
“O processo foi vencido pela Locar Guindastes e Transportes Intermodais, também de São Paulo, devido à disponibilidade das máquinas – um Manitowoc M2250 (450 t) e um Liebherr LR1550 (550 t) – na data prevista para a execução do içamento”, explica Ivan Mombelli Desidério, supervisor Rigger da Construcap. O plano de Rigging foi elaborado em conjunto pelas áreas de Engenharia das duas empresas. Como equipamentos de apoio, a Locar empregou dois guindastes sobre pneus – Sany STC1100 (110 t) e Tadano Faun ATF220G-5 (220 t) –, um cavalo mecânico Scania G470 6×4, um cambão e duas linhas de 6 eixos cada ligadas por uma plataforma Goldhofer.
Por decisão conjunta da Vale e Construcap, a pré-montagem da estrutura foi dividida em três partes: um módulo central, com peso de 85 t, pré-montado no local do içamento, e dois módulos das extremidades, com peso de 100 t cada, pré-montados em uma área a 2,2 km de distância. “Para definir o modelo ideal do conjunto transportador que levaria esses módulos das extremidades até a operação, foram desenvolvidos estudos dedicados de transporte, que avaliaram a viabilidade geométrica do trajeto, as condições de estabilidade e o ângulo do limite de tombamento do veículo”, lembra Marco Ceriello, Head Comercial da Locar. Em consequência foram necessárias melhorias na via, como adequação do talude, preparação do solo e retirada de placas, entre outras. As redes de energia elétrica, TA e TI (tecnologias de Automação e Informação) também foram desligadas.
No local do içamento, um pátio de armazenagem de minério, foi liberado um espaço restrito para a montagem dos guindastes e pré-montagem do módulo central da galeria. O plano inicial era que os guindastes pudessem se deslocar com os módulos içados até a área da montagem final, uma vantagem de sua configuração sobre esteiras. Num trecho desse trajeto, porém, havia um túnel, cuja capacidade estrutural, somada às condições geotécnicas do solo, inviabilizaram a solução. Os guindastes seguiram sem carga sobre o túnel e só depois içaram os módulos. Os trabalhos foram executados dentro do prazo programado de 60 dias.

APÓS 20 ANOS, A REATIVAÇÃO DE CAPANEMA
A mina Capanema está localizada entre os municípios de Itabirito, Ouro Preto e Santa Bárbara, no Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais. Os primeiros estudos para sua exploração começaram em 1969 e, inicialmente, especulava-se que o depósito conteria minério de urânio. Na década de 1980, essa hipótese foi refutada quando se confirmou a predominância de minério de ferro na jazida, com teor de cerca de 62%, entre diferentes tipos de hematita e itabirito mole. Sua reserva original compreendia as cotas entre 1.738 e 1.400 m e o plano de lavra inicial previa a extração de cerca de 357 Mt de minério, com capacidade anual entre 10,5 a 11,5 Mt.
Foi o avanço tecnológico que, após 20 anos de sua desativação, possibilitou a retomada das operações da mina, agora denominada Projeto Capanema a Umidade Natural. O novo processo elimina a necessidade de barragens de rejeitos ao explorar o minério com base em sua umidade natural. A lavra continua a céu aberto, com reaproveitamento da antiga pilha de estéril e uso de caminhões autônomos. A capacidade atual de produção é de 15Mtpa. As britagens primária, secundária e terciária foram revitalizadas e o material resultante segue para empilhamento em Timbopeba, em Ouro Preto (MG), através de transportadores de correia de longa distância (TCLD), para ser encaminhado à unidade da Vale no Porto de Tubarão (ES).
“A nova fase de Capanema não se resume às inovações tecnológicas. Também abrange condições de trabalho muito mais seguras e o compromisso da Vale com o desenvolvimento local, priorizando a contratação de mão de obra e fornecedores da região, valorizando os municípios ao redor da mina e impulsionando sua economia. Além disso, o Meio Ambiente é uma prioridade, com monitoramentos rígidos de ruído, águas, flora e fauna na área de preservação ambiental onde a mina está situada”, assegura o gerente de Saúde e Segurança do Trabalho do Projeto Capanema, Daniel Habaeb.
Foto em destaque: Montagem final da G-95 por guindastes telescópicos
Crédito: Projeto Capanema/Divulgação