Avançando em uma das frentes de inovação do programa Mina Moderna – a adoção de tecnologias autônomas e teleoperadas – a Anglo American colocou em operação, em setembro passado (2024), a primeira perfuratriz autônoma de sua mina, em Conceição do Mato Dentro (MG). A unidade também está empregando um aplicativo de otimização e inventário de pilhas de minério, objetivando o gerenciamento mais eficiente do estoque para a melhoria do planejamento de curto prazo da mina e a tomada de decisões estratégicas de blendagem para alimentação da planta de beneficiamento.
Com essas iniciativas, entre outras, diz Aurélio Garcia, gerente executivo de Operações da mina, “a Anglo American reafirma seu compromisso em transformar o setor mineral no Brasil, por meio de investimentos em tecnologias inovadoras, práticas sustentáveis e com atenção à inclusão e acessibilidade”.
Tecnologia
A busca pela automação e teleoperação dos equipamentos móveis segue a diretriz de Segurança, considerada prioridade máxima pela Anglo American em suas rotinas de trabalho. As tecnologias devem reduzir ou eliminar a exposição de empregados a riscos, considerando novas abordagens principalmente em atividades de maior periculosidade.
No caso das perfuratrizes, utilizadas em atividades de sondagem, além da segurança, a automação reflete também na melhoria da performance e produtividade dos operadores. O modelo selecionado pela mineradora para a nova frota é o DR412i, da Sandvik Mining and Rock Solutions, equipamento rotativo de grande diâmetro montado sobre esteiras e projetado para mineração de superfície de rochas brandas e duras. A máquina tem capacidade de realizar furos de 203 a 311 milímetros (8 a 12 ¼ polegadas), com profundidade máxima de passagem única de 17,5 metros e profundidade máxima do furo de 75,5 metros.
A solução de automação é o sistema Ardvarc, da Flanders que, desde setembro de 2022, possui um Memorando de Entendimento (MOU) de interoperabilidade para desenvolver e fornecer uma interface digital entre o sistema de perfuração autônomo e as perfuratrizes rotativas iSeries da Sandvik. Essa interface permite que os equipamentos se integrem ao sistema com pouca ou nenhuma modificação e simplificam seu emprego em minas que já adotam o Ardvarc. Esse método de sistema aberto permite que a mineradora mantenha a garantia e o suporte técnico da fabricante.
No projeto da Anglo American foram envolvidas as áreas de Perfuração e Desmonte; Suprimentos; Planejamento; Serviços de Mina; Topografia; Sistemas Embarcados; Manutenção; TI; e Pessoas & Organização. Os operadores que já atuavam com a frota antiga foram capacitados para trabalhar com o novo modelo e, segundo Garcia, mais profissionais devem ser contratados com essa finalidade. A conclusão do projeto deve ocorrer no segundo semestre de 2025, com a implementação de outras quatro perfuratrizes autônomas.
Aplicativo
O sistema de Otimização e Inventário de Pilhas (SIO), desenvolvido pela IntelliSense.io, possibilita a geração de modelos 3D, em tempo real, do material empilhado, armazenado e retomado nas pilhas de ROM (Run of Mine). Ao oferecer informações mais detalhadas e precisas do corpo do minério e suas características, o aplicativo reduz a lacuna de dados entre a mina e a planta de beneficiamento. Utilizado em um estoque de alta granularidade, realiza uma análise minuciosa de suas variações de teor e outras propriedades mineralógicas, aprofundando a compreensão sobre a qualidade do minério.
Esse conhecimento é fundamental para otimizar processos críticos, como os de moagem e flotação, resultando em maior eficiência operacional e redução de custos. Isso porque os procedimentos modernos de controle de minério e processamento mineral exigem maior precisão em relação ao material alimentado, o que não é obtido através de métodos convencionais. Historicamente, a mina da Anglo American, trabalhava com um teor médio único para cada lavra de determinado estoque, o que limitava a capacidade de prever variações.
O SIO emprega modelos de blocos 3D com distribuição espacial de teores e propriedades do minério, além de indicadores de rastreabilidade da movimentação de material entre as áreas de lavra, a alimentação do britador e os estoques. Cada banco da pilha nos eixos x, y e z é modelado como seu próprio domínio geológico, assumindo que os volumes e teores dos materiais depositados são equivalentes aos dados rastreados no sistema de gerenciamento de frota (Fleet Management System – FMS), podendo ser regularizados ou ajustados com o auxílio de um levantamento topográfico.
O processo amplia a visibilidade e o controle das pilhas de estoque, identificando contaminações e movimentações inesperadas. Além disso, aumenta a confiabilidade do material alimentado na usina, especialmente quanto ao teor de alumina, garantindo que o minério certo seja processado no momento ideal. Com isso, a gestão de estoques torna-se mais flexível e há maior precisão no controle de qualidade, assegurando que o produto atenda às especificações estabelecidas. A geração dos modelos tridimensionais em tempo real também aumenta a eficiência dos processos, reduzindo variações indesejadas no teor do minério, evitando interrupções da planta e tornando seu funcionamento mais estável, o que melhora a performance geral da operação.
Entre as ações necessárias na mina, foram realizadas diversas rodadas de treinamento com o corpo técnico de Geologia de Mina e Controle de Qualidade, com o objetivo de implementar polígonos de qualidade para a lavra dos estoques. A medida visa a criação de um modelo específico para cada pilha de estoque, permitindo maior precisão no controle de teores. Gradualmente, a capacitação vem sendo disseminada para as áreas de Operação de Mina e Despacho, uma vez que, até então, não era comum a utilização de polígonos de qualidade para os estoques.