Morreu ontem, dia 8, o professor Onildo João Marini, o professor, como todos o chamavam por sua carreira na Universidade de Brasília (UnB) e na Unesp de Rio Claro (SP). A Direção do Instituto de Geociências, em sua nota de pesar, resumiu bem sua trajetória de vida:
“Um dos fundadores do Curso de Graduação em Geologia da Universidade de Brasília. Durante sua brilhante carreira trabalhou na Petrobras, Nuclebras e DNPM. Na UnB, foi professor titular, chefe de departamento e diretor do IG.
“Sempre ativo na representação da representação das Geociências nos órgãos de pesquisa, o professor Marini foi também presidente nacional da Sociedade Brasileira de Geologia e Presidente do Núcleo Brasília da SBG.
“Obstinado a promover a Pesquisa Mineral no Brasil, participou da fundação da Agência para o Desenvolvimento e Inovação do Setor Mineral Brasileiro, onde atuou até 2018.
“Em 2019, recebeu o merecido título de Professor Emérito da Universidade de Brasília. Além de inúmeras publicações técnicas e científicas, o professor Marini nos deixou um breve relato de sua infância no livro “Guri da Pá Virada”.
Da parte da revista In The Mine, o pesar não é menor. Perdemos um interlocutor sempre solícito, entusiasmado com as boas novas e indignado com regulamentações e determinações que acabavam por desestimular investimentos no setor mineral.
Recuperamos uma entrevista com o Onildo Marini feita pela editora Tébis Oliveira, no final de 2018, ano de uma crise global, que coincidia com uma paralisia dos investimentos internos em pesquisa mineral. O professor Marini, então secretário-executivo da ADIMB, dizia que um ciclo havia se encerrado e Brasil não tinha feito o seu dever de casa, para solucionar tabus anacrônicos e captar maiores recursos quando ainda era tempo. Mesmo pessimista em suas projeções para a pesquisa mineral em 2009, o professor continuava incansável em suas idas e vindas a ministérios, DNPM, Instituto Chico Mendes e outros órgãos públicos.
Ele tinha proposta para criar oportunidades de emprego a geólogos recém-formados e formandos. Defendia a suspensão do aumento da carga tributária do setor e das mudanças no Código de Mineração. E se empenhava em demonstrar que a pesquisa de lavra não precisa de licenciamento ambiental senão numa etapa mais avançada dos trabalhos. Noutra frente, lutava para avançar na autorização das operações minerais na província do Tapajós.
Faça aqui o download da entrevista “O incansável professor”, publicada na edição nº 18 da revista In The Mine, quando ele estava prestes a completar 70 anos. Embora antiga, a entrevista também guarda importantes lições.
Abaixo, um perfil do professor Marini publicado na In The Mine nº 18 e, no final da página, a capa da In The Mine nº 18.
Nasceu em Passo Fundo (RS)
Formado pela UFRS, em 1963
Trabalhou na Petrobras, pesquisando petróleo na Bahia até 1965. Mudou-se para Brasília e foi o primeiro professor do curso de geologia da UnB, onde ficou apenas 6 meses. Solidário à demissão de 16 professores universitários pelo regime militar, saiu do cargo e foi para Curitiba integrar a Comissão da Carta Geológica do Paraná, criada para mapear a região do pré-cambriano no estado. Em 1968, foi para a Unesp SP, em Rio Claro, novamente como professor da primeira turma de geologia da unidade. Voltou a UnB em 1971 e ficou até 1990. Foi professor titular e chefe de departamento. Entre 1991 e 1992, foi diretor da Divisão de Geologia do DNPM
Hobby: Ler, ler e ler, exceto auto-ajuda e religião. Estou lendo “O Totem do Lobo”, de Jiang Rong, sobre os últimos nômades da Mongólia interior, na China antiga.
Família: Esposa e 4 filhos: Miguel Ângelo, biólogo e professor da UnB, Satia (Verdade, em hindu), tradutora, Onildo, biólogo do Instituto Chico Mendes e, o caçula, Adriano, que trabalha na CAPES (Campanha de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior), em Brasília.
Mora em: Brasília. “Acho que não saio mais daqui”
Influências: A colônia italiana do Rio Grande do Sul e a cultura gaúcha do planalto. A Bahia também mudou minha cabeça e adoro São Paulo, Curitiba e o Goiás. Na UFRS, o professor uruguaio Juan Goñi e o geólogo alemão Haenz Herbert, que orientou minha tese de doutorado. Na Petrobras, o geólogo Álvaro Renato Pontes. Na UnB, durante a crise, o Roberto Aureliano Salmeron, físico paulista e pesquisador internacional, que veio da Suíça para coordenar o Instituto de Geociências
Uma realização: A criação, o crescimento e a manutenção da ADIMB.
Um projeto: Fazer a passagem da ADIMB para um sucessor e escrever um livro com minha história de piá (garoto) dos 8 aos 12 anos.
Uma lembrança: O dia em que conheci minha companheira em Porto Alegre, a Selci, em 1964
Maior decepção: Ver a destruição do ideal que existia na UnB em 1965
Um conselho: “A geologia entra pelos pés”. As interpretações virtuais, feitas no computador, são apenas hipóteses a serem confirmadas. É preciso sempre ir para o campo e aprender a usar o martelo.