PADRÕES RÍGIDOS DE ESG E PROJETOS “VERDES”

PADRÕES RÍGIDOS DE ESG E PROJETOS “VERDES”

Para Paulo Castellari, CEO da Appian Capital Brazil, subsidiária do fundo de investimentos privados em mineração Appian Capital Advsory, o país está muito bem-posicionado em minerais críticos para a transição energética, possuindo relevante participação nas reservas globais desses produtos e contando com mais de 50 ativos que têm minerais estratégicos – cobre, níquel, grafite, lítio e manganês, entre outros – como produto primário. A robustez do Código Nacional de Mineração e a capacitação de sua mão de obra local são outros atributos, segundo o executivo, que tornam o Brasil atrativo para investimentos minerais.

Castellari acredita que a empresa está preparada para se posicionar com destaque num cenário de crescente demanda por minerais críticos e estratégicos (MCEs), dado que suas mineradoras – a Atlantic Nickel e a Mineração Vale Verde (MVV) – seguem os mais rígidos padrões de ESG (práticas ambientais, sociais e de governança). “Somos signatários do UNPRI (Princípios para o Investimento Responsável) e nossos processos operacionais atendem às diretrizes do IFC e aos Princípios do Equador, além de estarem mais de 80% alinhados com a certificação IRMA (Iniciativa pela Garantia da Mineração Responsável)”, explica o CEO. O IFC – International Finance Corporation é uma instituição ligada ao Banco Mundial, que atua no desenvolvimento de projetos privados em mercados emergentes, com base em critérios de responsabilidade e sustentabilidade. Os Princípios do Equador são um conjunto de exigências socioambientais, definidas em 2003 pelo IFC e as dez maiores instituições bancárias do mundo, para a concessão de financiamentos a grandes projetos.

Paulo Castellari
Paulo Castellari, CEO da Appian Capital Brazil

Ainda na vertente social, no que se refere ao relacionamento com as comunidades próximas das operações, a empresa reforça uma atuação para além da obtenção da Licença Social de Operação (LSO). “Praticamos um framework de Integração Social buscando fazer parte dos territórios onde atuamos, mantendo um diálogo aberto, ouvindo as demandas da população local e identificando áreas de melhorias, de forma a construir um ambiente social cada vez mais próspero”, afirma Castellari

Ativos

A Appian já atua há cinco anos no Brasil. Seus ativos mais antigos são a MVV, produtora de concentrado de cobre em Alagoas e primeira empresa de metais básicos do estado, e a Atlantic Nickel, uma das maiores minas a céu aberto de níquel sulfetado do mundo, localizada no sul da Bahia, cujas exportações seguem, atualmente, para a China, Finlândia e Canadá. A empresa possui, ainda, a Omnigen Energy, que desenvolve plantas fotovoltaicas, com capacidade de 62,4 MWp (Megawatts-pico) de geração de energia renovável.

Sua mais recente investida no setor mineral é o projeto Graphcoa, de grafita, em Itagimirim (BA), em fase de construção de uma planta piloto. A futura mina reforça o plano de expansão nacional da Appian no Brasil, visando o fornecimento de matéria-prima para a produção de ânodos de grafite.

Em paralelo, o grupo continua buscando novas oportunidades de investimento em MCEs, como cobre, níquel, lítio, cobalto, grafite e manganês, entre outros, em diferentes regiões do país.

Mercado

Segundo Castellari, a demanda crescente por “produtos verdes” influencia positivamente os negócios de cobre, níquel e grafite, metais essenciais para tecnologias sustentáveis, como veículos elétricos e infraestrutura de energia renovável. Redes de distribuição de energia, painéis solares e turbinas eólicas, no caso do cobre, e baterias de íons de lítio para veículos elétricos e armazenamento de energia, no caso do níquel e grafite.

Os preços do cobre permaneceram estáveis no último ano, com pequenas variações, principalmente devido ao equilíbrio entre a oferta e demanda, além da recuperação gradual da economia global após a pandemia de Covid-19 e, com isso, da retomada das obras de construção e infraestrutura, além da transição para fontes de energia mais limpas, diz o CEO. Para ele, nos próximos anos, a tendência é de expansão do consumo per capita de cobre para atender ao crescimento da distribuição de energia elétrica, construção civil, circuitos eletroeletrônicos, motores elétricos e componentes automotivos, entre outros.

Já o níquel vem registrando uma redução do valor da tonelada produzida. Em um ano, de julho de 2023 a julho de 2024, o declínio foi de cerca de 10,4%, resultado do aumento da produção e exportação do minério pelas Filipinas, assim como da recuperação lenta da demanda chinesa. Sua demanda também é impactada positivamente pela necessidade de transição energética dado, como lembra o CEO da Appian Brazil, seu emprego crescente pela indústria de baterias para veículos elétricos, hoje em torno de 5 a 7% do mercado, com projeção de atingir até 30% nos próximos anos. “O Brasil já surge como um expressivo produtor de níquel, com potencial para atingir um patamar semelhante ao existente no Canadá e na Austrália”, acredita o CEO.

Projeto de grafita-Appian
Projeto Graphcoa, de grafita, em implantação

Na contramão, os preços da grafita têm aumentado significativamente, impulsionados por seu uso nas baterias de íon-lítio para veículos elétricos, além de aplicações de alta tecnologia. O mercado também tem sido influenciado pela fabricação de grafite sintético, processo mais intensivo em energia, e pela expansão da capacidade produtiva do minério em países como a China. Segundo Castellari, pesquisas indicam que o Brasil teria a segunda maior reserva de grafita do mundo, sendo seu terceiro maior fornecedor global, com produção equivalente a 27% das reservas totais. “Hoje, a importância desse mineral na economia nacional como gerador de divisas, por meio de exportações, é tão relevante quanto a do minério de ferro e do nióbio”, avalia o executivo.

Estratégias

A Appian vem investido em estudos exploratórios nas minas da Atlantic Nickel e MVV, de forma a expandir a longevidade de sua vida útil. Os trabalhos, onde já foram aplicados mais de R$ 180 milhões, estão nas fases finais de análise de viabilidade. Na MVV, além da exploração mineral, está sendo desenvolvido um projeto para aumentar em mais de 15% a capacidade de processamento da planta até 2026.

Para reduzir as emissões de carbono, a empresa vem buscando sinergias entre seus ativos como a realização de embarques combinados para transportar cobre e níquel sulfetado. Com a medida será possível diminuir em cerca de 30% as emissões totais que seriam registradas, caso os embarques fossem individuais. Ainda na questão de descarbonização, vem sendo implementados projetos para reduzir o uso de combustíveis fósseis e aumentar o de energias renováveis. Um exemplo é a instalação de painéis solares na Atlantic Nickel para fornecimento de energia aos prédios administrativos da unidade.

Em relação ao consumo de água, ambas as mineradoras vêm promovendo diversas iniciativas para reuso no processo produtivo, como a recuperação da água dos espessadores e das barragens, e a redução do consumo por meio de sistemas de irrigação otimizados, entre outras. Os projetos, que serão replicados no projeto Graphcoa e na Omnigen, já resultaram em um reaproveitamento de mais de 89% da água utilizada na operação

Foto em destaque: Planta de flotação da Atlantic Nickel, produtora de níquel (Appian Capital Brazil/Divulgação)

 

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