Por Gabriela Nunes,
Localizada no centro-sul da Bahia, a 365 km da capital, Maracás agora foi colocada também no mapa da mineração como uma grande fonte de vanádio – minério utilizado em ligas metálicas de alta resistência. A Largo Resources, que também desenvolve projetos de tungstênio e molibdênio em Campo Alegre de Lourdes (BA) e de tungstênio em Currais Novos (RN), anunciou dia 21 de fevereiro, em cerimônia pública no próprio local do empreendimento, o início da fase decisiva de implantação, com as obras civis e montagem eletromecânica, de sua primeira operação no Brasil e a primeira planta de vanádio das Américas.
Através da subsidiária Vanádio de Maracás S/A (VMSA), a empresa canadense espera produzir, já a partir de novembro deste ano, 5,1 t de pentóxido de vanádio (V2O5) – com uma expansão prevista de 50% depois de dois anos, atingindo um patamar de 14,t em 2018. Também está prevista uma linha adicional para produção de ferroligas. A implantação do projeto demandará ao todo um aporte de R$ 555 milhões de investimentos, parte vinda do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) e parte dos acionistas do grupo. Segundo o diretor executivo da empresa, Kurt Menchen, a VMSA irá atender polos siderúrgicos, como Canadá, Estados Unidos, Alemanha, Coréia, China, Japão, Índia, Argentina e países nórdicos. A comercialização será realizada através de uma trading com a mineradora suíça Glencore.
Atualmente, o país líder em produção é a África do Sul, com participação de cerca de 35%, seguida de Rússia e China, e o Brasil, segundo Menchen, já entrará no mercado com share de 8%, que irá aumentado gradativamente. “O teor das nossas reservas é de 1,34% equivalente de V2O5, o dobro das minas sul-africanas e, portanto, a operação já ‘nasce’ com um teor mais alto”. Além disso, diz ele, o minério tem um baixo teor de sílica e outros contaminantes, o que diminui o custo de processamento e melhora a qualidade. “Será o vanádio mais puro da indústria”, garante o diretor.
De acordo com o engenheiro de minas Maurício Pablo Coletti, a mina em Maracás tem um porte médio e, por ser a céu aberto, a operação será simples, mas funcionará “24 horas por dia, 365 dias por ano”. A estimativa inicial para a produção da mina é boa. “Nós fizemos vários estudos e chegamos a uma reserva otimizada de 14 milhões de t de vanádio, o que dará uma vida útil de 15 anos para a mina”, explica Coletti. Segundo o engenheiro, essa estimativa é apenas o primeiro passo para viabilizar o projeto, mas a perspectiva é que este período aumente para 29 anos, com uma produção média anual de 11,4 t.
A promessa do emprego
Já em sua fase de obras, a VMSA gerou uma grande expectativa na região. Tanto que a mineradora resolveu organizar um grande evento público no local, que contou com a presença do governador do Estado, o prefeito de Maracás, além de outras autoridades municipais e representantes das comunidades. Presente, o Governador da Bahia, Jaques Wagner, comemorou o fato de que, com os trabalhos da CBPM e as licitações impulsionadas pelo governo, a Bahia já atraiu aproximadamente R$ 5 bilhões em investimento, incluindo o projeto Vanádio de Maracás.
A estimativa da empresa é gerar cerca de 1,2 mil vagas diretas e 8 mil indiretas no auge das obras de implantação. Quando a mina começar a funcionar, a expectativa é de 400 empregos diretos e 3 mil novas vagas indiretas. Prefeito de Maracás, Paulo dos Anjos, destaca o fato de que 75% dos trabalhadores são da própria região. “O compromisso da mineradora com o município é também o de preparar o funcionário para o mercado de trabalho. Assim, quando terminar a implantação da indústria, as pessoas que entraram como ajudante de pedreiro, eletricista, mecânico, se tornarão profissionais qualificados para fazer uma carreira quando forem embora”, diz ele.
O agricultor de 61 anos, Antônio Caetano, também está otimista. Vizinho da fazenda onde a mina está localizada, afirma que a região “nasceu de novo” em se tratando de empregos. “Mais de 90% do pessoal que eu conheço aqui da comunidade, desde Pé de Serra até Porto Alegre, trabalha na empresa. Só não trabalha com eles quem já tem mais idade, como eu”, conta.
O motorista João Pereira de Souza confirma. “Era uma das coisas que o maracaense mais esperava, vai ser um cartão postal para a Bahia inteira”, brinca. Após ter enviado seu currículo e ter feito uma série de testes exigidos pela VMSA, hoje Souza é contratado de uma empresa terceirizada e trabalha como motorista do carro pipa, que além de abastecer a mina e suas instalações, também molha os aterros da estrada. “A minha ‘finalidade’ é crescer cada dia mais na empresa, pretendo fazer outro curso e ficar mais qualificado, para depois entrar no mercado de trabalho”, afirma o motorista.
A fim de promover um programa de qualificação dos funcionários eficaz, a VMSA fez uma parceria com o SENAI, que, inicialmente, treinará em torno de 200 pessoas, com foco maior para áreas como manutenção elétrica, mecânica, instrumentação e operação de equipamentos pesados. “Nosso objetivo é priorizar e exaurir toda possibilidade de aproveitamento local, para depois contratar fora”, assegura o diretor administrativo da empresa, Paulo Silva Viana.
30 ANOS ATÉ A VIABILIDADE
O projeto Maracás não nasceu do nada. A descoberta do vanádio ocorreu em 1979, quando Israel Fernando Nonato, com outros dois geólogos, estava mapeando a região de Maracás por conta de uma campanha geológica da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM). Sua viabilidade, no entanto, só foi confirmada depois de um exaustivo programa de exploração. Em 1984, depois da conclusão do estudo de pré-viabilidade feito pela CEPED (Centro de Pesquisas e Desenvolvimento) do Estado da Bahia, o Grupo Odebrecht estabeleceu uma joint-venture com a CBPM e formou a Vanádio de Maracás Ltda. Nos quatro anos seguintes, diversos estudos e testes foram contratados junto a companhias nacionais e internacionais (veja Quadro 1).
Mesmo porque houve grande oscilação da cotação do vanádio no mercado mundial. Nonato credita a queda de preços nesse período ao término da Guerra Fria. “Com a queda de muro de Berlim havia muito vanádio no mercado, pois os países tinham estocado para a guerra – já que é um mineral usado em aços especiais para tanques e armamentos”.
Os estudos, concluídos em 1990, em todo caso, pareciam bastante promissores e a Odebrecht resolveu trazer para o negócio a CAEMI Mineração e Metalurgia e agregar valor em mineração e metalurgia. Essa sociedade respondeu por todos os investimentos posteriores até 2006, quando a Largo Resources adquiriu, por US$ 10 milhões, 90% de participação na joint-venture (a CBPM manteve 3%) e contratou a consultoria canadense Micon para checar e confirmar todos os dados históricos. Em 2007, com os preços estabilizados, foi definido o modelo de negócio que deu origem á operação atual. Com um detalhe importante: o mesmo Israel Nonato, por ter feito parte da descoberta, foi convidado a continuar com a sondagem e com os testes do minério, e hoje é gerente de exploração da mina.
VISÃO SISTÊMICA NA IMPLANTAÇÃO
Desde que assumiu o projeto, a Largo Resources colocou a serviço da Vanádio de Maracás S/A (VMSA), a Promon Engenharia para dar suporte às diversas fases de implantação do empreendimento. Em uma primeira fase, o escopo ainda foi o estudo de viabilidade técnico-econômico da planta e a interação com os bancos, o que foi decisivo para obtenção do financiamento. Em seguida, a Promon complementou o projeto básico e elaborou os documentos exigidos para a execução das instalações da planta. Na fase atual, são Serviços de Engenharia, Suprimentos e Gerenciamento da Construção e Montagem (EPCM – Engineering, Procurement and Construction Management), ou seja, a empresa foi contratada para executar o projeto básico, projeto de detalhamento, serviços de suprimentos, diligenciamento, inspeção e gerenciamento da obra, e para dar apoio ao comissionamento e operação assistida na implantação da planta.
“Nossa expertise nos permite ter uma visão sistêmica do empreendimento e de participar de todo o ciclo de vida do projeto”, diz Álvaro Bragança, diretor de negócios de mineração e metalurgia da Promon Engenharia. Ele explica que a oferta de serviços inclui avaliação do investimento e do risco, suporte na obtenção de financiamento e em questões regulatórias, a visão sistêmica na área de sustentabilidade envolvendo meio ambiente e aspectos sociais do empreendimento, além de modalidades contratuais que se estendem do EPCM ao EPC (Engineering, Procurement and Construction), além da avaliação, implementação e gestão de empreendimentos logísticos.
Bragança cita, dentre as particularidades desse contrato, a importância do gerenciamento e integração dos vários serviços contratados de outros fornecedores pelo cliente. Para tanto, ele conta com uma equipe dedica na obra e a experiência da Promon em gerenciamento de projetos, para que o empreendimento seja executado dentro do escopo, prazo, custo e qualidade esperados. “Utilizamos uma metodologia que considera uma gestão de recursos, riscos, partes envolvidas, comunicação, aquisições e segurança, meio ambiente e saúde”, garante ele.
Segundo o diretor da Promon, as características do contrato em Maracás, com os desafios logísticos envolvidos e os prazos de implantação, tornam fundamental o planejamento feito no início. “A Promon realizou uma atividade chamada “brownpaper” na qual todas as disciplinas envolvidas no projeto planejam todas as fases do empreendimento, visando controlar os pontos críticos”.
(Fevereiro/março 2013)