O DIAMANTE KIMBERLÍTICO LATINO-AMERICANO VIRÁ DA BAHIA

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Vista aérea da área de desenvolvimento

Não à toa, áreas do semi-árido da Bahia já aparentavam ter diamante desde a década de 1930, mas a evolução foi lenta. Alguns garimpeiros se arriscavam no local, mas o processo não é manual, feito para aventureiros. Até os anos 90, pouca coisa aconteceu na região baiana. Foi quando a gigantesca De Beers, com sede em Luxemburgo e atuais projetos de diamante espalhados pelo mundo, como no Canadá, na África do Sul e Namíbia, veio para o Brasil à procura de novas jazidas.A De Beers descobriu 22 corpos kimberlíticos na Bahia, mas não deu continuidade às pesquisas.

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Exploração por amostragem na Planta Piloto

Semi-Industrial

O depósito de kimberlito B3, onde foi aberto um pipe vertical e lateralmente, localizado na parte sul da planta, foi o alvo prioritário de pesquisas da companhia. Ele apresentou a maior ocorrência do minério e a viabilidade econômica para o projeto. A maior parte da sondagem, que envolveu 91 furos em pouco mais de 14,5 mil m e teste do depósito a uma profundidade de 350 m, foi feita pela Vaaldiam. Dessa forma, a Lipari, em 2010 e 2012, pôde realizar toda a parte de amostragem de grande volume.

A Lipari já recebeu a Licença Prévia (LP) do Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (INEMA), que aprovou o Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) feito pela companhia. “Foi uma conquista significativa, que mostrou o nosso compromisso com as questões legais, ambientais, sociais e, especialmente, com as comunidades da área de influência, que manifestaram expressivo apoio e receptividade ao projeto”, afirmou na época o presidente e diretor executivo, Kenneth Johnson.

“Eu não diria que tivemos uma planta piloto, mas sim uma planta ‘semi-industrial’. Sua capacidade era um pouco superior. Foi a planta utilizada para fazer as amostras de grande volume, para avaliação dos diamantes gerados e estudos de viabilidade. Em 2010, fizemos campanha de trincheiras com grande volume e, em 2012, outra campanha, mas, dessa vez, com 100 m de profundidade e 2,5 m de diâmetro”, comenta Fernando Aguiar, vice-presidente e diretor de operações da Lipari Mineração. O trabalho foi feito gradualmente, com base nas Guias de Utilização emitidas pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). No momento, o projeto se encontra em fase de manutenção.

Operação

A primeira mina de diamantes da América Latina desenvolvida em rocha kimberlítica, a céu aberto, com uma profundidade de 250 m, diâmetro de 340 m e que terá sua lavra em cava por meio de bancadas em espiral, já tem data para sair do papel. “Esperamos que a Licença de Instalação (LI) seja concedida até o fim deste mês de setembro”, relata Aguiar. Se realmente entregue, as obras começam em outubro e a mineradora deve ter 20% das obras executadas já até o fim de 2014. Inicialmente, a Lipari esperava iniciar a produção comercial no primeiro trimestre de 2015, mas será postergada por quase um ano. O atraso se deve ao processo de licenciamento, no qual a empresa deu entrada há três anos. Dentro dos procedimentos ambientais, a LP é estimada em 12 meses e a LI, em seis meses. Em tese, as licenças deveriam ser concedidas em um ano e meio.lipari6

A planta de porte médio vai trabalhar, em capacidade plena, com 60 mil toneladas (mt) de minério de diamante por mês. Em relação ao teor, a média é em torno de 50 quilates (ct) por 100 toneladas (t), internacionalmente conhecido como 50 cpht (sigla em inglês). Isso significa que, numa média da reserva lavrada, existem aproximadamente 50 ct a cada 100 t de minério. Entretanto, a produção estará muito ligada à capacidade de separação em meio denso, moderna tecnologia utilizada em minas sul-africanas que isola o material leve do pesado, podendo aumentar a velocidade de 100 t/h para 150 t/h, devido à carga circulante no sistema. “É o que chamamos de coração da planta, pois é um sistema que recupera o diamante”, relata Aguiar.

Resumidamente, o funcionamento será da seguinte forma: o estéril escavado vai para a pilha de estéril, enquanto o minério escavado vai para o estoque e para o pátio de Run of Mine (ROM). Na única usina da planta de beneficiamento, com britagens primária, secundária e rebritagem (uma espécie de terciária), o diamante será separado do kimberlito (rejeito). O rejeito também será conduzido à pilha de estéril. Todo o kimberlito será processado na planta e o minério, reduzido à faixa de 1 a 25 mm. Esse material será misturado à água, formando uma polpa, que passará pelo módulo de separação por meio denso. Um ciclone de separação vai separar o material leve do pesado. Por ter uma alta densidade, o diamante estará incorporado ao material pesado.

Ele será classificado em quatro faixas de tamanho e seguirá para outro processo, de identificação do diamante, realizado por uma máquina específica. Ela faz a redução por Raio-X de baixa intensidade. O diamante, quando recebe essa emissão, tem a característica de fluorescência. O material coletado irá com um secador infravermelho e cairá numa mesa fechada, onde será feita a coleta manual. Ou seja, o beneficiamento vai até a última etapa, de coleta manual do diamante.

Nos sete anos de vida útil da mina, do Projeto B3, a Lipari vai remover 33 milhões de estéril e processar 4,9 Mt de minério. A média, em termos de relação estéril/minério é de 6,8. Ou seja, para cada 1 t de minério, serão removidas 6,8 t de estéril. Todos os 2,5 milhões de quilates de diamante, do tipo gema, serão exportados para a Europa, via aérea. “O volume é muito pequeno. Estamos falando de aproximadamente 6 kg por mês”, diz Fábio Borges, diretor financeiro da Lipari.

Investimentos

Até aqui, a empresa investiu mais de R$ 80 milhões, com todo o capital aportado pelos acionistas. “Os investimentos  vão depender diretamente do desenvolvimento da construção e isso vai envolver a concessão das licenças. Todo o cronograma está condicionado ao ritmo do tempo de obtenção das licenças. Temos projetado um investimento de mais R$ 80 milhões, que deve ser distribuído ao longo desses próximos anos”, afirma Borges. O montante previsto para a implantação do projeto é de aproximadamente R$ 100 milhões.

Para as obras de instalação a empresa prevê que sejam contratadas 600 pessoas. Indiretamente, serão gerados 2400 empregos. A estimativa é de que, para a operação, sejam criados 230 novos postos de trabalho diretos e mais 936 indiretos. “Queremos treinar e capacitar o pessoal na região junto ao SENAI. Nosso processo exige certo conhecimento. A tradição na produção de diamante só existe em países como Canadá, África do Sul, Rússia e Austrália. Mas dentro de qualquer processo de tratamento de minério, é normal ter operadores de pá-carregadeira, motoristas de caminhão ou auxiliares no tratamento de minério”, destaca o vice-presidente da mineradora.

 

TABELA DE EQUIPAMENTOS PARA OPERAÇÃO NA MINA*

Quantidade

Tipo de Equipamento

Detalhes

02

Escavadeiras Hidráulicas

Capacidade de camba de 4,2 m³

01

Pá Carregadeira

Capacidade de caçamba de 4,3 m³

01

Pá Carregadeira

Capacidade de caçamba de 2,3 m³

08

Caminhões Convencionais

Off-road, com capacidade de 34 t

02

Perfuratrizes DTH

Diâmetro de 6 polegadas

03

Tratores de Esteiras

Potência de 185 HP

02

Motoniveladoras

Potência de 150 HP

02

Caminhões-Pipa

Para 20 m³

Na parte da mina, poucas máquinas foram adquiridas, pois o prazo de entrega é rápido. O desmonte do minério será feito por explosivos. Como avanço tecnológico e inovação para o projeto, a Lipari Mineração trouxe um equipamento da Alemanha. Trata-se de uma centrífuga do tipo Decanter, que fará o desaguamento do rejeito fino. A região tem uma carência grande de água, mesmo com a mina próxima ao Rio Itapicuru. Por isso, a mineradora procurou reduzir ao máximo o consumo de água, não a utilizando na barragem. A característica do minério não era compatível com outros filtros e sistemas, que motivou a escolha da centrífuga. Um espessador pega toda a fração fina, abaixo de 0,5 mm, e tira a água desse material, trazendo-a de volta ao circuito. O material adensado ainda tem em torno de 63% de água e seria bombeado para uma barragem de rejeitos. “Aí que entramos com a centrífuga. Eliminamos a barragem e diminuímos o consumo de água. O equipamento deixa o material fino com, no máximo, 20% de umidade e a água retorna ao processo. Prevemos cerca de 98% de recuperação de água ao circuito. Portanto, utilizaremos apenas 2% de água nova no circuito”, fecha. A opção pelo sistema de desaguamento e não pela barragem de rejeitos faz com que apenas 10 m³/h de água sejam bombeados e aumenta a água recirculada em 20 m³/h.

TABELA DE EQUIPAMENTOS PARA BENEFICIAMENTO

Quantid.

Tipo de Equipamento

Marca

Detalhes

01

Britador de Mandíbulas

Metso

Modelo C100, para britagem primária

02

Britadores Cônicos

Metso

Modelos HP 200, para britagem secundária e rebritagem

09

Transportadores de correia

Metso

Variados comprimentos, o maior com 85 m, e larguras, o maior com 750 mm

01

Espessador de rejeito

Westech

Diâmetro de 11 m

07

Bombas de água

KSB

Diversas configurações

16

Bombas de polpa

Weir

Diversas configurações

 

Futuro

O Projeto B3 tem vida útil de sete anos. No entanto, a companhia pode estender a produção de duas formas. Uma delas é a possibilidade de lavra nas partes central e norte da planta – no sul, está o B3. Parte do minério nesses locais, por questões geotécnicas, vai ser lavrado e estocado. Isso representa cerca de 1 Mt. “É uma estratégia, pois quando desenvolvemos estudos superficiais dessa área, o teor não se mostrou viável economicamente”, diz Aguiar. “Porém, fizemos apenas estudos na superfície dessas áreas, precisamos testar o teor de uma profundidade de até 250 m”, completa. Dessa forma, o projeto poderia ser estendido no mínimo por mais um ano e meio e, no máximo, por mais três anos.

Isso sem falar da segunda alternativa. A Lipari Mineração também já fez estudos preliminares para o potencial de uma mina subterrânea, com uma sondagem acusando presença do minério a uma profundidade de 350 m. “Precisamos de mais estudos para ver se vai mais fundo e a qual espessura. Nos dois ou três primeiros anos de operação do B3 já devemos ter uma definição, com maiores detalhes sobre a mina a céu aberto e sobre a qualidade do diamante”, conta Aguiar. A companhia vai definir os furos e a profundidade, para posteriores estudos geotécnicos. A última etapa será o estudo de viabilidade. Outro ponto a ser definido já no segundo ou terceiro ano de produção do B3 se deve ao fato de que, no quinto ou sexto ano de lavra, a Lipari já precisaria iniciar o desenvolvimento da mina subterrânea. Assim, quando chegasse ao sétimo e último ano de produção do B3, haveria a continuidade da operação, sem interrupção.

Para se ter uma ideia da importância do projeto, a Mina Braúna vai elevar em cinco vezes a produção brasileira de diamantes. Em todo o mundo, há apenas 22 minas semelhantes a que será implantada em Nordestina. É a introdução de um novo conhecimento e de novas técnicas no País.

Licenças em pauta

A concessão das licenças para a construção de uma mina e futura produção envolve discussões entre mineradoras, órgãos ambientais e instituições ligadas ao Governo. “O grande aspecto positivo é que os processos nos colocam muito próximo à comunidade. Fazemos trabalhos juntos dela e podemos conhecer bem todas as situações da área, por exemplo, a questão de água em Nordestina (BA). Temos mais detalhes do projeto e uma compreensão mais ampla”, diz Fernando Aguiar, vice-presidente e diretor de operações da Lipari Mineração. Em termos negativos, as empresas costumam apontar o atraso e a burocracia. “A equipe do órgão ambiental na Bahia é pequena ainda. O agendamento e as conversas levam bastante tempo. Com as implantações de grandes projetos no Estado, pela nossa empresa, Mirabela, Largo Resources e Bahia Mineração (Bamin), a equipe deve ser redimensionada para um atendimento mais rápido”.

Benefícios para a comunidade

Nordestina (BA) é um município com 13 mil pessoas e a maior parte da população vive no campo. Para ajudar a formar uma comunidade com maior qualificação, a Lipari tem parceria com escolas da região e faz a doação de livros para crianças, no projeto “Baú da Leitura”. “Criamos campeonatos esportivos infantis. Estamos também desenvolvendo, junto de uma consultoria, uma análise do hospital da cidade, pois queremos ajudar no atendimento melhor das pessoas. Queremos prover melhorias rápidas e que todos se beneficiem do projeto como um todo”, afirma Fábio Borges, diretor financeiro da Lipari. (Por Ricardo Gonçalves)

 

 

 

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