O COBRE DO AGRESTE DE ALAGOAS

O COBRE DO AGRESTE DE ALAGOAS

O Projeto Serrote, da Mineração Vale Verde (MVV), em Craíbas (AL), foi inaugurado em 16 de junho. A implantação da produtora de cobre foi iniciada em 2018 e contou com investimentos de cerca de R$ 1 bilhão. Ao longo da vida útil de 14 anos do empreendimento serão produzidas 50 mtpa de concentrado de cobre com 22 mtpa de cobre equivalente, destinadas ao mercado asiático em sua totalidade. A mina a céu aberto tem reservas confirmadas de 52,7 Mt de minério.

O evento observou um rígido protocolo de prevenção à Covid-19, com testagem prévia (48 h) e aferição da temperatura dos convidados, disponibilização de totens de álcool em gel e escolha de local aberto para a realização da cerimônia, entre outras medidas.

Participaram da inauguração o governador de Alagoas, Renan Calheiros Filho, o secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do MME (Ministério de Minas e Energia) Alexandre Vidigal e o CEO do grupo AppianBrazil, Paulo Castellari . A seguir, todos os detalhes do empreendimento publicados na edição 89 da revista In The Mine:

Capa-ITM89

Histórico do empreendimento

Ainda na década de 1960, foram encontradas evidências de ocorrências minerais na região do Agreste de Alagoas, no Nordeste do Brasil. Os estudos para aprofundar esses mapeamentos iniciais foram intensificados a partir de 1982. Mas, somente em 2007, seria criada a Mineração Vale Verde (MVV) para desenvolver o então chamado Projeto Serrote da Lage, centrado em um afloramento na parte sul do depósito mineral. Serrote era uma referência às pequenas serras existentes na área e Laje ao formato das rochas ali encontradas.

No final de 2017, a canadense Aura Minerals vendeu a Vale Verde para o fundo londrino de investimentos Appian Capital Advisory LPP, que já investiu mais de R$ 700 milhões na construção do Projeto Serrote, como hoje é chamado. Situada em Craíbas, amina deve ter produção ROM de 4,1 Mtpa de cobre, dedicadas a uma planta de beneficiamento com capacidade instalada para a produção de 50 mtpa de concentrado de cobre, com teor de aproximadamente 40% Cu.A estimativa inicial para a mina é de 21 anos de vida útil, prazo que poderá ser ampliado ao longo de sua operação.

“O potencial mineral de Alagoas está aflorando. Na região do Agreste, nosso Projeto Serrote está se tornando a primeira mineradora de metais básicos do estado, o que nos motiva ainda mais a trabalharmos com foco, ética, responsabilidade e segurança”, diz Paulo Castellari, CEO do Grupo Appian Brazil.

Jazida e lavra

O perfil litológico da jazida mineral da MVV indica a presença de magnetito,norito, biotitito, magnetitito e gabro, que detêm majoritariamente os sulfetos de cobre que interessam à extração.As reservas estão atualmente estimadas em 85 Mt de minério. Segundo Castellari, por meio de um software especializado foi possível compor o modelo geológico 3D da mina e, na sequência, atualizar o modelo de bloco para as perfurações.Mais de 650 furos (DD, RC) foram executados na região, totalizando mais de 90 mil metros de extensão, para a definição do jazimento de cobre. O Estudo de Viabilidade Definitivo foi concluído em 2019. A projeção é que a mina alcance cerca de 250 metros de profundidade.

A lavra é a a céu aberto, com relação estéril/minério LOM (Life of Mine) 2:1, utilizando as usuais quatro principais atividades em uma mineração: perfuração, desmonte, carregamento e transporte. A operação é terceirizada para a Fagundes Construção e Mineração, que emprega uma frota móvel de três escavadeiras de 60 t e 18 caminhões rodoviários de 35 t para o carregamento de minério.

Já o desmonte controlado é 100% eletrônico e emprega emulsão bombeada como agente detonante. O monitoramento de ruídos e vibrações, nas portas de residências e estabelecimentos comerciais da região, é feito por técnicos da empresa com o uso de sismógrafos e tem seus indicadores divulgados para as autoridades e população locais. “Todo esse processo tem seguido rigorosamente os padrões estabelecidos dentro da legislação brasileira e internacional”, garante Castellari.

Beneficiamento

A britagem do minério ROM é realizada em três estágios, todos com equipamentos Metso: a britagem primária, com um britador de mandíbulas, e as britagens secundária e terciária, com britadores cônicos. Esse minério britado será estocado na Pilha Pulmão, com volume útil de 9 mil t, suficiente para manter a alimentação do moinho por 18 h.O diferencial do minério da MVV está no teor considerado alto, de 0,6% de cobre. O produto britado final ficará abaixo de 1/2″ (P80 = 8mm).

A partir da pilha, o minério segue para um moinho de bolas FLSmidth, com potência de 10.8MW. O produto dessa etapa (80% passante e 100 mícrons) alimenta a flotação, constituída de cédulas da Outotec (Rougher) e Woodgrove (Cleaner) e dois estágios de remoagem (Outotec), passando então pelas fases de espessamento e filtragem.O rejeito da flotação é encaminhado para a barragem — que teve sua construção concluída pela Fagundes. O concentrado é filtrado em filtros de prensa verticais da Metso e, posteriormente, transportado ao porto. A MVV fechou um contrato de produção de smelter com uma trader internacional, que direcionará o material aos mercados, com foco em sua exportação.

Paulo Castellari, CEO do grupo Appian Brazil
Paulo Castellari, CEO do grupo Appian Brazil

Inovação

Em termos de tecnologia, o Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento da MVV, que conta com especialistas em Sistemas de Informação e Ciência da Computação, desenvolveu um Sistema Integrado de Gestão da Mineração, o SIGMIN, que funciona nos moldes de um sistema ERP (Enterprise Resource Planning), integrando todos os dados e processos da empresa. Segundo Castellari, o SIGMIN tem sido fundamental para automatizar e dar maior agilidade aos processos da mineradora, já que trabalha de forma espacial e é baseado em fluxos, servindo como um banco de dados em permanente atualização. O sistema foi dividido  em módulos — um para cada área da empresa —, tendo como principal plataforma a Internet.

Outra inovação do projeto está no desmonte de rocha, totalmente controlado e seguro, utilizando emulsão bombeada e acessórios de alta tecnologia, como espoletas eletrônicas.O sistema de detonação conta com Inteligência Artificial (IA)que, por exemplo, identifica o teor de umidade do local de desmonte e, constatando que ele está acima do nível recomendado, suspende a execução do procedimento. “Esse controle é muito importante para mantermos a nossa implantação com Zero Lesão, cumprindo nosso principal valor que é a segurança”, afirma Castellari. Cada desmonte tem duração máxima de cinco segundos. A operação é realizada pela Enaex Britanite, subcontratada da Fagundes, e conta com aval do Exército Brasileiro, nos termos da legislação vigente, e dos moradores da região, segundo o executivo.

Sustentabilidade

Em dezembro de 2019, o Centro de Educação Ambiental (CEA) da MVV recebeu da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) o certificado de Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Caatinga (RBCAAT). A certificação, relacionada ao programa global “O Homem e a Biosfera” e a segunda concedida a uma iniciativa relacionada a esse bioma no Brasil, foi entregue na sede do Instituto de Meio Ambiente de Alagoas (IMA/AL), em Maceió.

Criado em 2013 e localizado na Fazenda Uruçu, entre os municípios de Arapiraca e Craíbas, o CEA produz anualmente mais de 40 mil exemplares de espécies nativas, contribuindocom as comunidades e áreas urbanas, além das milhares de mudas já produzidas e plantadas na área do Projeto Serrote devido à sua implantação. A unidade abriga mais de 40 espécies da caatinga e recebe cerca de 750 visitantes por ano (exceto em 2020, por conta da pandemia), entre estudantes e professores de universidades e escolas da região, empresários e representantes do poder público. Além da coleta de sementes para a produção de mudas nativas, o CEA fomenta aobservação do bioma, a produção de mel e ovos (nãocomerciais) e a realização de estudos e pesquisas locais.

Em 2014, foi instalada no centro uma Unidade de Demonstração (UD) de Avicultura, que dá assistência técnica a agricultores da região para a produção de ovos caipiras. Nesse ano, foram produzidas cerca de 65 bandejas de ovos por mês, com curso de capacitação e construção de aviários, envolvendo os moradores das comunidades vizinhas ao Projeto.Os cursos foram realizados em parceria com o Sebrae e o Senai de Alagoas.

A MVV também realiza o Programa Guardiões da Caatinga, junto com o Instituto SOS Caatinga, que uma vez por mês recebe 25 alunos de Craíbas, em cursos voltados à educação ambiental; botânica; tratamento e disposição de resíduos; reciclagem; fauna e flora do bioma caatinga; identificação de animais com riscos à saúde humana; e conhecimento de entidades governamentais relacionadas à conservação do bioma, entre outros temas.

CEA produz mais de 40 mil exemplares por ano de espécies nativas da Caatinga

Economia local

Sendo a primeira mineradora de Alagoas e o maior investimento privado no estado dos últimos 10 anos, a MVV, com a implantação do Projeto Serrote já gerou mais de 2 mil empregos diretos até dezembro de 2020 e, na operação, deve gerar outros 600 e royalties para Craíbas e Arapiraca. Mas além dos empregos atuais, a empresa já impulsiona o crescimento econômico da região e tem desenvolvido uma série de programas para a capacitação profissional de moradores e a qualificação de fornecedores locais.

Em 2019, seu Programa de Qualificação Profissional, em parceria com o Senai/AL, fomentou a capacitação de 488 pessoas dos dois municípios através de cursos para pedreiro, eletricista montador, carpinteiro, armador, servente, pintor, caldeireiro,encanador industrial, mecânico montador, montador de andaimes e soldador, com entrega de certificado com validade em todo o território nacional, objetivando aumentar sua empregabilidade para o mercado de trabalho, independente da demanda da mineração. A MVV também promoveu o Programa Aprendiz Operacional, que teve 1.340 inscrições para concorrer às 50 vagas abertas para a população e Craíbas e Arapiraca. Desses 50 aprendizes, 41 foram selecionados e estão passando por um treinamento prático para assumir o cargo de Operador de Planta na mineradora. Os alunos do curso, inédito no Agreste alagoano, receberam bolsa-auxílio, transporte e alimentação.

Ainda em 2019, dois outros programas foram direcionados a fornecedores. Um deles, o de Desenvolvimento de Fornecedores Locais, selecionou, através de um edital, 50 empresas com atuação nos setores de locação de veículos; buffet; transporte de cargas; fardamento; mecânica; alimentação; manutenção de ar-condicionado e comunicação, entre outros, para capacitação no fornecimento de produtos ou serviços. Algumas dessas empresas foram ou ainda estão prestadoras de serviços para a MVV até hoje. Outra iniciativa foi o Programa Social de Desenvolvimento de Fornecedores, em parceria com o Sebrae/AL, que realizou um diagnóstico para identificar demandas de negócios locais, promovendo cursos de capacitação, consultoria financeira e regularização fiscal de pequenos empreendedores da região.

Projeto Serrote
Panorâmica da planta da MVV na fase anterior à inauguração

Programa #AtingindoMetas

Vários marcos importantes do projeto foram alcançados durante 2020, a maioria antes do planejado, segundo Castellari, que destaca a construção da instalação de armazenamento de rejeitos; a assinatura de um contrato de offtake com um trader internacional; a construção e montagem da linha de transmissão de 230kV, com 21 km de extensão; e a construção da maioria das principais infraestruturas da planta de processamento. As atividades de pre-stripping da Fase I foram concluídas e as de pre-stripping geral foram adiantadas, em relação ao planejamento inicial, com 6 Mt de terra movimentadas. Também o armazenamento de minério para a operação foi antecipado.

Esses marcos são resultado do Programa #AtingindoMetas, realizado no ano passado, com 10 milestones definidos. Em 2021, há outros 5 milestones a serem cumpridos. “Definitivamente, 2020 foi um ano muito desafiador para todos nós. Realizamos a mudança de nossa sede, da Fazenda Melancia para o Sítio Lagoa do Mel, na zona rural de Craíbas. Enfrentamos fortes chuvas no período – quatro vezes mais que o previsto – e a pandemia do novo coronavírus (Covid-19), que foi certamente uma máxima para todas as empresas, não só as de mineração. Nos adequamos a todos os protocolos de sanitização e distanciamento recomendados pelos órgãos governamentais e de Saúde e somos muito gratos por todas as conquistas que alcançamos graças aos nossos colaboradores”, conclui Castellari.

1 comentário em“O COBRE DO AGRESTE DE ALAGOAS

  1. Sou filho natural de Igaci Al acompanhei o lançamento deste empreendimento pela internet. Apesar de ser da região mas resido em Maceió mim entusiasmo com o crescimento da nossa região e acompanho as informações sobre os locais que foram encontrados meninos no estado desde os anos 70 quando da existência da extinta empresa de recursos naturais codeal assim temos ferro mica baushite em Igaci. O ideal é que uma indústria de transformação destes minérios focem implantada nesta região fabra de condutores de cobre e outros derivados do produto assim como indústrias de produtos eletronicos etc.porque levar ara o exterior e não produzir aqui. José leão desejo resposta convicente

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