MINERAÇÃO PERDE ALEXIS YOVANOVIC

MINERAÇÃO PERDE ALEXIS YOVANOVIC

Faleceu em 06 de maio de 2024, o engenheiro civil-químico Alexis Yovanovic, chileno radicado no Brasil desde o final da década de 1980 e fundador e diretor da MOPE – Modelo Operacional, sediada em Belo Horizonte (MG). A especialização da empresa em otimização e controle de processos de beneficiamento mineral baseia-se em uma metodologia criada pelo próprio Yovanovic – a Concentração Seletiva. Essa rota de processamento considera a heterogeneidade do minério, com sua fragmentação seletiva já na etapa de britagem, seguida da retenção de parte da ganga trazida da mina no peneiramento, tornando sua posterior moagem, totalmente desnecessária.

Essa modelagem, dizia o engenheiro, torna o processamento muito mais eficiente. Sob vários aspectos: amplia as reservas minerais do depósito ao reduzir o teor de corte; evita o acúmulo de poeira na usina e, com isso, o uso de reagentes; e reduz o consumo de energia na moagem, além de ser aplicável ao aproveitamento de minérios de baixo teor. O tempo de flotação desse material também será menor, já que a geração de rejeitos hidrofóbicos será de menos de 5% do ROM – Run of Mine (link para entrevista à revista In the Mine em 2018).

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Testes de moagem no laboratório da Fundação Gorceix (MG)

O conceito, considerado inovador à época, mas que Yovanovic dizia ser apenas “lógico”, bateu de frente com uma tecnologia amplamente difundida entre mineradoras: a da moagem semi-autógena (SAG). Para o consultor, o moinho SAG não passava de um “cavalo de Tróia” dos grandes fabricantes de equipamentos e fornecedores de insumos e serviços, que com ele invadem e dominam as usinas de beneficiamento de minério, transformando-se de despesa de capital (CAPEX) em despesa operacional (OPEX), por toda a vida útil da mina.

Círculo vicioso

A escassez de depósitos minerais de classe mundial e a redução dos teores de minério nas operações ativas, obrigou as mineradoras a tratar cada vez mais ganga para manter sua escala de produção. É o “mói e flota tudo”, como Yovanovic jamais cansou de repetir. “Esse é o principal problema da mineração, que se converteu em mero gerador de oportunidades para grupos globais provedores de maquinários, serviços e insumos. Um expectador atento poderá observar que a maior parte das iniciativas de “melhoria” são voltadas para os rejeitos: filtrar, fazer “tijolos”, descobrir “tesouros escondidos” ou terras raras dentro das barragens etc. Ou seja, continuar gastando com aquilo que poderia ter sido radicalmente reduzido em sua origem”, explicava.

O engenheiro era ainda mais contundente quando se referia à mineração chilena, que conhecia como ninguém: “A mineração chilena se parece com uma velha impressora, que abre cada vez mais espaço para o verdadeiro negócio da mineração global: a venda de toner (…). As associações patronais clamam por maiores investimentos (ou pelo risco de sua eventual redução), mas, na realidade, ao longo das últimas duas décadas, quase US$ 10 bilhões, em média, foram investidos anualmente no Chile, apenas para moer e comprar mais tinta para a impressora. Se hoje é moído e flotado o dobro de minério para produzir a mesma quantidade de cobre fino que era produzida há 20 anos, é evidente quem ganhou (com o negócio) foram os fornecedores globais de máquinas, insumos e serviços, hoje agrupados em pouquíssimos grupos.”

Trajetória

Formado em Engenharia Civil-Química pela Universidade Católica do Norte (UCN), no Chile, onde foi professor-auxiliar até sua formatura em 1973, Yovanovic iniciou sua carreira na Codelco, estatal chilena de mineração de cobre, em 1974, como engenheiro de Projetos, passando a assessor metalúrgico do Departamento de Concentração, chefe geral de turno da Usina Colon e chefe da Divisão de Concentração e Fundição do Departamento de Engenharia Industrial, até sua saída da empresa em 1980.

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Visita à mineração da EroBrasil em Nova Xavantina (MS)

Como consultor autônomo, atuou para a Vale nos anos de 1987 a 1990. No Pará, participou da avaliação da usina piloto e dimensionamento das instalações de moagem do projeto de ouro Igarapé-Bahia; da pesquisa metalúrgica e preparação da engenharia básica do projeto de cobre Salobo (PA) e, posteriormente da recuperação de ouro contido no minério de cobre; e do estudo para tratamento dos rejeitos dos fornos de redução de alumínio da Albras e da Valesul. No Mato Grosso do Sul, atuou no projeto de Engenharia Básica e especificação de equipamentos para a usina de britagem de manganês da Mineração Urucum. Em Minas Gerais, realizou a modelagem matemática da flotação para a recuperação de finos de minério de ferro na mina Casa de Pedra, da CSN – Cia.Siderúrgica Nacional e da pesquisa tecnológica do projeto de titânio Tapira, onde também promoveu a otimização do fluxograma de beneficiamento de nióbio.

Entre 1991 e 2002, foi engenheiro sênior e consultor da Divisão Comercial da Leme Engenharia, participando do projeto de Engenharia Conceitual para empilhamento e desaguamento dos concentrados finos de minério de ferro da mina Alegria, da Samitri Mineração (MG) e da checagem dos dados operacionais para o startup e acompanhamento das operações iniciais do sistema de moagem do projeto de ouro Igarapé-Bahia, da Vale (PA). Também proferiu palestras técnicas para a otimização de processos minerais para as minas de ouro Fazenda Brasileiro (BA) e Igarapé-Bahia (PA), da Vale, e Morro Velho, da AngloGold Ashanti (MG); e de ferro Casa de Pedra, da CSN (MG); nas usinas de fosfato da Arafértil (MG), Goiasfértil e Fosfértil (GO); de potássio (SE) e ferro (PA), da Vale e para o Centro de Tecnologia Mineral – CETEM (RJ). Foi ainda o responsável pela área de processos no Estudo de Viabilidade Técnico-Econômica do Projeto Caulim do Rio Capim, também da Vale à época.

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Equipe da Mope na Bahia Mineração (Bamin)

Em 2002 fundou a MOPE, passando a atuar na preparação de diagnósticos técnicos, com indicações de otimização operacional e racionalização de insumos para diversas usinas de beneficiamento da Vale, Bahia Mineração – Bamin, RHI Magnesita e EroBrasil, entre outras empresas no Brasil e, atualmente, finaliza a implementação da ferramenta MopeControl, de otimização de processos, para rearranjo da moagem seletiva em duas usinas de beneficiamento de minério de ferro no Chile.

Exímio violonista e apaixonado por música latino-americana, com especial destaque para a Bossa Nova brasileira, Yovanovic, carinhosamente chamado pelos amigos mais íntimos de “João Gilberto Paraguaio”, fundou os grupos Clube da Bossa Nova e Los Brasileños (veja apresentações nos links).

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Grupo Los Brasileños no teatro da Assembleia (MG)

O engenheiro também publicou dois livros – “Engenharia da Cominuição de Moagem em Moinhos Tubulares” e “Engenharia da Concentração e Massa por Flotação – Volume 1: Fundamentos da Flotação” (faça o download clicando no link). Deixou ainda uma terceira obra manuscrita, que será postumamente editada em sua homenagem.

Fotos: Mope/Divulgação

 

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