Com o risco iminente de perder a sua principal fonte de renda e de emprego, e à espera de uma decisão favorável do Supremo Tribunal Federal que reverta a situação, a cidade de Minaçu, no interior do norte de Goiás, promoveu uma das maiores mobilizações da sua história, na noite de terça-feira (26/02). Em apelo à continuidade das atividades de produção para exportação da Sama – a maior mina de amianto crisotila das Américas e única do Brasil em operação, há mais de 50 anos –, uma audiência pública organizada pela Câmara Municipal dos Vereadores reuniu cerca de 4 mil pessoas na sede da Assembleia de Deus. Presentes moradores e trabalhadores da mineradora, além de políticos de todas as esferas – municipal, estadual e federal –, representantes do governo estadual e diretores e conselheiros da companhia.
A ata da audiência e as assinaturas dos moradores colhidas em abaixo-assinado serão entregues ao Supremo. Na tarde desta quarta-feira, ocorreu um encontro de parlamentares que representam a bancada do Estado de Goiás e do prefeito de Minaçu com a ministra do STF Rosa Weber.
As dezenas de depoimentos e discursos ouvidos durante a audiência foram emocionados, todos à favor da retomada do funcionamento da mina, que teve que suspender os trabalhos, no último dia 18 de fevereiro, por conta do fim do prazo de uma liminar do Supremo.
“O que está em julgamento pela Justiça é o futuro da cidade de Minaçu, que depende da mina para sobreviver. O nosso grito é de indignação. Queremos pedir aos representantes da Justiça que não tirem o pão da mesa do povo de Minaçu. Que concedam um prazo de pelo menos 10 anos para o fechamento gradual da mina, para que a cidade possa se planejar de forma adequada e não abrupta”, disse o presidente da Câmara dos Vereadores, Admilson Seabra Campos.
Slogan “Somos Todos Sama” estampados em camisetas e bandeiras
Vestidos com camisetas onde se lia #SomosTodosSama e agitando bandeiras com os mesmos dizeres, moradores reforçaram o pedido de autoridades e entidades representativas do setor para que o STF conceda um efeito suspensivo até que sejam analisados os embargos de declaração. Dessa forma, a mina poderia retomar suas atividades enquanto é aguardada a decisão definitiva da Corte sobre o futuro do local. Caso contrário, existe um grande risco de descontinuidade das operações da Sama de forma irreversível, pelo descumprimento dos contratos com os clientes do mercado internacional.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Minaçu, Adelman Araújo Filho (Chiru), lembrou que todo o amianto extraído da mina já é direcionado ao mercado externo e não mais ao mercado nacional. “Nós não estamos pedindo ao STF que mude de ideia sobre o banimento do amianto do Brasil. O que estamos pleiteando tem a ver com a garantia dos direitos dos mais de 30 mil habitantes de Minaçu e a garantia de emprego dos trabalhadores com responsabilidade, segurança e racionalidade”, enfatizou Chiru, que trabalha na mina há 29 anos.
O prefeito de Minaçu, Agenor Ferreira Nick Barbosa, complementou: “O momento mais próspero para Minaçu foi quando a mina funcionava em sua capacidade máxima de produção. Eu mesmo já fui funcionário na Sama e aprendi muita coisa da empresa. O povo precisa do trabalho que a mina gera e de todos os outros benefícios, na forma de impostos e benfeitorias para a cidade”.
Representando os parlamentares da bancada do Estado de Goiás na Câmara dos Deputados, o deputado federal João Campos reiterou o apoio ao movimento: “Vim até Minaçu para reafirmar o meu compromisso com essa causa. Estamos engajados em sensibilizar o STF e é importante estar aqui e ver essa grande mobilização de todos vocês”.
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, enviou um vídeo que foi transmitido em telão. “Estou aqui em Brasília trabalhando junto à Procuradoria da República e ao Supremo Tribunal Federal para que busquemos uma nova negociação, uma modulação gradual, para que as pessoas possam se adequar e preservar aquilo que a Sama tem feito. Ou seja, produzir amianto para exportar, tendo como um dos maiores compradores os Estados Unidos. Nada mais justo do que preservar a nossa riqueza, melhorando a qualidade de vida do povo”.
Liderança do Grupo Eternit destaca responsabilidade socioambiental
“Esperamos poder liderar a transição responsável da Sama, em todos os aspectos sociais, econômicos e ambientais, de 2019 até 2029, em cooperação com todos. Estamos juntos para trabalhar por Minaçu, por Goiás, pelo Brasil e pela Sama”, afirmou o presidente do Conselho de Administração do Grupo Eternit, Marcelo Gasparino.
O presidente do Grupo Eternit, Luís Augusto Barbosa, explicou que a empresa não consegue manter a mina parada sem definições por muito tempo, deixando de atender aos acordos firmados com os clientes no exterior. “É inviável financeiramente e comercialmente. O risco de paralisação definitiva das atividades nunca foi tão grande na história de mais de 50 anos da Sama. A nossa expectativa é conseguir uma decisão favorável do STF e agradeço a todos por terem vindo dar esse forte e emocionado sinal de apoio”, disse o executivo.
Também participaram da audiência Cristiano Gomes, da Secretaria de Indústria e Comércio, Serviços e Mineração do Estado de Goiás; Claudio Scliar, ex-secretário de Mineração do Ministério de Minas e Energia; e os vereadores de Minaçu Carlos Silvio da Costa Tavares, Custódio de Oliveira, Fábio de Souza Santana, Gilvan de Souza Costa, Ivonete Virginia Tavares Duarte, Raimundo Nonato Barros, Rodolfo Torres de Souza, Santino Alves de Moura, Silvio Nogueira da Silva, Valdemir Souza Dias e Vilmar da Silva Queiroz.