MEJILLONESITA NO ESPAÇO

MEJILLONESITA NO ESPAÇO

Foi assunto recorrente na grande imprensa e em publicações científicas o retorno da sonda espacial japonesa Hayabusa 2, em 6 de dezembro de 2020, e a posterior divulgação dos resultados da análise das 5,4 gramas de amostras (Foto 1) que o equipamento coletou, em 2019, da superfície e do interior do asteroide Ryugu, próximo à Terra.

Muito se falou dos minerais identificados nesse material: nódulos de filossilicato, magnetita, sulfeto de ferro, carbonáceo associado a cristal de carbonato e sulfetos de ferro, carbonato com inclusões de magnetita e sulfeto de ferro e cristais de olivina, isolada ou associada a piroxênio de baixo teor de cálcio. Também foi constatada a ocorrência ocasional de dois tipos de minerais de fosfato – apatita e mejillonesita.

mejillonesita
Foto 1

O que não se falou é que a mejillonesita foi encontrada pela primeira vez no Chile e descrita em 2012 por um brasileiro – o professor e pesquisador do Instituto de Geociências (IGC), da Universidade de São Paulo (USP), Daniel Atencio, o maior descobridor de minerais no Brasil e um dos mineralogistas mais reconhecidos do mundo. O nome do mineral deriva do Cerro Mejillones, localizado na Península de Mejillones, em Antofagasta, onde foi encontrado. A descrição consta do artigo “Mejillonesite, a new acid sodium, magnesium phosphate mineral”, publicado no prestigiado jornal American Mineralogist, da Mineralogical Society of America (MSA).

mejillonesita
Foto 2

É nessa descrição que os pesquisadores japoneses se basearam para identificar a mejillonesita nas amostras do Ryugu. Diz o trecho do artigo: “O tamanho do grão de Na-Mg-fosfato é muito pequeno para caracterizá-lo completamente. Apesar disso, a posição da banda Raman, relativa ao PO43- a 970 cm-1, e as abundâncias dos principais elementos – [Na2O] 9,7 ± 1,3 (1SD), [MgO] 26,1 ± 0,6 (1SD), [P2O5] 44,2 ± 1,6 (1SD) e [H2O] 19,9% em peso -, sugere que o fosfato de NaMg é mejillonesita.

mejillonesita
Foto 3

As amostras do Ryugu, um asteroide condrito carbonáceo (CI), se mostraram bastante diferentes de amostras de meteoritos CI encontradas na Terra, o que levou os pesquisadores a considerá-las as mais primitivas e puras já analisadas em um laboratório. A datação radiométrica dos minerais indica que sua formação ocorreu apenas 5 milhões de anos após a do próprio Sistema Solar, de forma que ambos os processos foram, provavelmente, constituídos de matérias bastante semelhantes. Também foi constatada a presença de material orgânico representado por mais de dez tipos de aminoácidos, hidrocarbonetos semelhantes ao petróleo terrestre e vários compostos de nitrogênio.

Fotos:
Destaque, 2 e 3: Atencio/Arquivo Pessoal
Foto 1:Yada, et al./Nature Astronomy

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.