GESTÃO ESTRATÉGICA E COMPARTILHADA DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

GESTÃO ESTRATÉGICA E COMPARTILHADA DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

Marcus Vinicius  (3)
Por Marcus Vinicius Andrade Silva(*)

 

A concentração de profissionais e pesquisadores ligados à geologia, torna a mineração um segmento muito fértil para o desenvolvimento de trabalhos nas áreas de hidrogeologia, principalmente na delimitação de aquíferos e definição do fluxo hídrico subterrâneo, em função das pesquisas geológicas. Os modelos hidrogeológicos conceituais e numéricos são mais precisos em comparação aos trabalhos desenvolvidos em outros segmentos, a exemplo das áreas urbanas e regiões agrícolas, onde muitas vezes os poços utilizados para abastecimento ou para irrigação não possuem monitoramentos ou sequer são outorgados, situação esta que inibe o usuário a disponibilizar dados dos poços devido ao receio de problemas junto a fiscalização, comprometendo estudos hidrogeológicos nestas áreas.

Apesar da excelência da mineração na geração de mapas e modelos hidrogeológicos, as empresas mineradoras, principalmente as que possuem algum tipo de concorrência, dificilmente compartilham seus dados para trabalhos regionais, por questões estratégicas ou por preservação de segredos industriais e/ou informações sigilosas oriundas das pesquisas minerais. Porém, é importante ressaltar que as águas, em especial as subterrâneas, não respeitam cercas, porteiras, áreas de pesquisa ou decretos de lavra. Ou seja, elas transitam livremente pelo subsolo independente das regras existentes (limites de propriedades privadas, poligonais do DNPM, etc…).

Recentemente foi apresentado na Conferência Nacional de Segurança Hídrica um trabalho de mapeamento e modelagem hidrogeológica desenvolvido em parceria pela Vale Fertilizantes e Anglo American, que possuem minas em um mesmo ambiente geológico (Domo Catalão I), visando uma gestão compartilhada e estratégica dos recursos hídricos, principalmente as águas subterrâneas. Em alguns cenários, segundo o estudo, uma empresa poderá fazer uso das águas subterrâneas oriundas do rebaixamento da mina vizinha, assim como alocar seus poços de abastecimento em áreas estratégicas para o rebaixamento da mina vizinha, de forma acordada técnica e juridicamente entre ambas, evitando assim transtornos causados pela superexplotação, onde poços de rebaixamento poderiam impactar a produção dos poços de abastecimento, ou mesmo, poços de abastecimento que venham a causar interferências entre si.

A gestão compartilhada pode ser adotada tanto por empresas agrícolas quanto pelos usuários das águas em áreas urbanas, onde vizinhos (residências, empresas ou órgãos públicos) poderiam ligar seus poços em horários alternados e predeterminados, mediante monitoramentos e mapeamentos, mantendo um nível seguro da superfície e dos volumes das águas subterrâneas e evitando conflitos entre vizinhos.

A gestão estratégica e compartilhada das águas subterrâneas é uma ferramenta que deve ser adotada por todos os segmentos da sociedade, principalmente em momentos de crise hídrica.

(*) Engenheiro Geólogo graduado pela Escola de Minas da UFOP; Hidrogeólogo da Vale Fertilizantes; Professor de Gestão Estratégica de Recursos Hídricos do Instituto Minere, Coordenador da Câmara Técnica de Outorgas e Cobrança do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Araguari e representante do IBRAM no órgão

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