GEODATA QUALITY MANAGEMENT- REVISÃO DO WORKFLOW – PARTE 4

Glaucia

(Série de artigos técnicos iniciada na edição ITM 103, sobre os componentes do GeoData Quality Management, metodologia de avaliação da qualidade de dados geológicos)

Nas edições anteriores foram discutidas todas as etapas do módulo Validação do Acervo de Dados Históricos da metodologia GDQM (1 – Verificação da fonte dos dados; 2 – Avaliação e gestão da materialidade; 3 – Identificação e integração dos sistemas de gerenciamento; 4 – Análise exploratória de dados; 5 – Aplicação dos testes de consistência; 6 – Atribuição de confiança; e 7 – Identificação de áreas críticas).

A realização integral dessas etapas permite conhecer todo o PASSADO das campanhas de sondagem, amostragem, preparação e análise de uma empresa e identifica, qualifica e atribui o grau de confiança aos dados existentes.

Uma vez compreendido todo o cenário histórico do projeto mineral ou operação, há que se verificar se todas as práticas e condutas vigentes (PRESENTE) estão adequadas, alinhadas às orientações e recomendadas ou preconizadas pelos padrões internacionais de declaração de recursos e reservas, para corrigir e redirecionar a rota das boas práticas e cessar a geração de erros.

Com a correção e o realinhamento de estratégias de aplicação do módulo Revisão de Workflow, garante-se que os futuros dados gerados estarão isentos de inconsistências e erros dos mais diversos tipos ou, ao menos, irão minimizá-los às suas formas fundamentais, não derivadas ou decorrentes de ações humanas, tais como erros intrínsecos aos processos de amostragem de minérios (vide teoria de Pierre Gy). Desta forma, os princípios de Transparência, Materialidade e Competência estarão atendidos e demonstrados, além de, oportunamente, reduzir-se o tempo para disponibilização do uso do dado, evitando o retrabalho sistemático de verificações por parte das equipes técnicas.

O desenho (e sua revisão) do workflow (Process Design) de uma empresa, seja qual for a etapa em que ela se encontra no ciclo de vida, é feito com o levantamento e a sistematização das atividades relacionadas à aquisição de dados geológicos, mapeando as principais tarefas de cada processo, representadas e documentadas em fluxograma. São também identificadas as oportunidades de melhoria dos processos e os problemas ou fragilidades mais frequentes, que afetam negativamente o fluxo de trabalho e a confiança nos dados adquiridos.

Os participantes desse trabalho devem ser, principalmente, os profissionais que realizam o processo no dia a dia e que, além de relatar e fazer o depoimento sobre sua execução, apontam as necessidades de melhoria, indicando ainda as evidências e os documentos para complementação e comprovação das avaliações.

Etapa A: Modelagem de processos

A modelagem de processos é parte de uma visão mais ampla da gestão estratégica que, para ser atingida, exige a avaliação e medição dos processos que fazem parte da rotina operacional da empresa. No caso particular, os processos em questão são aqueles referentes à rotina de aquisição de dados geológicos utilizados para as estimativas de recursos minerais.

Uma das interessantes ferramentas utilizadas na gestão de negócios para a otimização dos resultados das organizações é o BPM ou Business Process Modelling, para a sistematização dos processos individuais, com definição de recursos, tarefas, objetivos, responsabilidades, clientes e fornecedores, dentre outros pontos de integração.

Para criar os mapas de processos recomenda-se a versão gratuita da ferramenta Bizagi Modeler, que utiliza o padrão internacional BPMN (Notation). A escolha de uma ferramenta de software aderente ao padrão BPMN é importante, pois os diagramas criados nesse projeto podem servir de base para fluxos de trabalhos (workflows) em futuros estudos de melhoria de processos e automação de fluxos.

A modelagem permite uma série de visões sobre os processos, tais como: agilidade e aumento em produtividade, compliance e rastreabilidade, visando trazer dimensões importantes para a análise. São conduzidas entrevistas com os participantes de todos os processos de geração, armazenamento e utilização de dados dentro da organização, buscando-se compreender a arquitetura da empresa, funcionamento e utilização dos dados, regras, normativos, padrões e outras condutas. A Figura 1 ilustra as etapas de trabalho para a organização das informações dos modelos.

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Figura 1 – Etapas realizadas para definição dos Modelos As Is e To Be

Cada processo é composto por tarefas e têm as seguintes características:

  • Atividades que consomem recursos – tempo, finanças, equipamentos e outros;
  • Ferramentas de softwares utilizadas (exemplo, sistema de gerenciamento de dados geológicos);
  • Indicação do tempo e ciclo de execução, cujos passos devem ser reprodutíveis, repetitivos, rotineiros e podem ser refeitos ou analisados; e
  • Processos que podem ser auditados.

Todos os locais de geração de dados devem ser verificados durante a atividade de mapeamento e modelagem de processo, com acompanhamento das tarefas pelos executores e responsáveis, assim como os procedimentos operacionais disponibilizados, de forma a avaliar sua eficiência e clareza.

O cenário atual é denominado As Is e o cenário futuro To Be contendo, respectivamente, as informações detalhadas da forma atualmente executada e as sugeridas para a execução das tarefas. Os dois conjuntos de mapas (As Is e To Be) são importantes para que se possa estabelecer como e quais evoluções de processos serão feitas, de acordo com planejamento e estratégias corporativas.

Após diagnosticar os processos que geram dados e informações em cada projeto ou operação mineira, são descritas suas características, tais como:

  • executores das tarefas e processos;
  • procedimentos e orientações para realização das tarefas;
  • formas de mensurar o desempenho;
  • tempo de execução das tarefas, ciclos e processos; e
  • recursos utilizados na execução das tarefas: profissionais envolvidos, materiais, capital, equipamentos e outros.

A Figura 2 organiza todos os processos verificados para a cadeia de valor do dado geológico. A Figura 3 ilustra um BPMN conceitual, para primeiro nível.

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Figura 2 – Processos de aquisição de dados em projetos e operação mineira
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Figura 3 – Exemplo de BPMN nível 1 (Cadeia de valor: Gestão de Dados Geológicos)

Na próxima edição iremos para as próximas etapas do Módulo 2 do GDQM, para otimização do fluxo de trabalho dos projetos e operações mineiras. Continue por aqui!

1Geóloga e Mestre em Recursos Minerais pelo IGc-USP, Doutora em Engenharia Mineral pelo PMI-EPUSP e Diretora Executiva da GeoAnsata Projetos e Serviços em Geologia

REFERÊNCIAS:

CUCHIERATO, G. (2022), A importância da qualidade da informação no processo de declaração de recursos minerais. 293 f. (Tese de Doutoramento em Engenharia de Minas). Departamento de Engenharia de Minas e do Petróleo da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2022.

 

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