GDQM: GEODATA QUALITY MANAGEMENT

GDQM: GEODATA QUALITY MANAGEMENT

Glaucia

Nas edições anteriores da revista In The Mine, foram discutidas algumas das etapas dos módulos Validação do Acervo de Dados Históricos e Revisão de Workflow do GDQM, metodologia de avaliação da qualidade de dados geológicos, baseada nas recomendações das práticas internacionais padronizadas para declaração em bolsas de valores, da divulgação de riscos e incertezas para investidores e da demonstração de credibilidade de projetos e operações mineiras.

Para finalização desta série de artigos destacam-se, ainda duas importantes etapas que são realizadas durante a gestão da qualidade dos dados geológicos, com o objetivo de atender às práticas internacionalmente recomendadas.

Módulo Validação do acervo – Etapa Integração de Sistemas

O investimento para obtenção dos dados durante as atividades de sondagem e amostragem é uma das porções mais onerosas de um programa de exploração e parte significativa do orçamento da operação, já que os dados coletados são determinantes cruciais para o sucesso do projeto.

Os dados devem ser representativos, precisos e acurados, válidos, seguros, auditáveis e auditados. Sua gestão deve apresentar alvos e metas para a qualidade almejada, com identificação de possíveis dificuldades dos processos de aquisição, com plano de ação para adequação e melhorias.

O gerenciamento de dados sem um sistema especialista e dedicado pode ser complexo, demorado e propenso a erros, além de adicionar um grande risco às decisões tomadas com as informações armazenadas.

A metodologia aqui proposta recomenda que os dados das sondagens e amostragens estejam estruturados em um software comercial de sistema de gerenciamento de dados geológicos ou em um banco de dados estruturado e relacional desenvolvido pela empresa, uma vez que planilhas não são a correta ferramenta para fazer análises avançadas e responsivas, tampouco armazenar apropriadamente grandes volumes de dados.

O sistema de gerenciamento deve atender às demandas mínimas de segurança, confiabilidade e rastreabilidade, conforme as boas práticas internacionalmente recomendadas, com tabelas identificadas por registros indexados por uma chave primária (por ex.: ID do furo de sondagem – HOLE_NUMBER) e chaves estrangeiras, que definam as demais relações entre tabelas e assegurem a integridade dos dados.

Recomenda-se que o sistema atenda, com inteligência, padrão e eficiência, a:

  • controle efetivo de permissões de acesso através de perfis de usuários com restrições por área, atividades, funções e responsabilidades;
  • entrada de dados feita pela interface do programa, com máxima restrição ao uso de digitação, por meio de importações eletrônicas dos dados de equipamentos periféricos, sem manipulação de arquivos;
  • integração com equipamentos de coletas de dados (topografia, desvios, susceptibilidade magnética, qualidade da rocha, densidade);
  • ferramentas de validação, com estabelecimento de regras de validação consistentes, durante a importação e inserção de dados;
  • gestão automática durante a criação do despacho de lotes de amostras para os laboratórios, com inserção sistemática, aleatória ou programada de controles de qualidade;
  • integração com outros sistemas de dados (ex: Laboratory Information Management System – LIMS), com ferramentas de aceitação e rejeição de resultados, vinculada a ações de uma tabela lógica de falhas e arquivamento dos laudos e certificados;
  • categorização do status dos furos, lotes e amostras (aprovado, rejeitado, certificado, autorizado) pelos(as) PQs, com identificação de confiança dos dados (flag);
  • disponibilização (Saída – output) de dados para os usuários de modelagem geológica pela interface ou via linguagem SQL/ODBC; e
  • parâmetros de segurança documentados e visibilizados, com medidas para garantir que dados não foram corrompidos ou manipulados ao longo do tempo, rastreabilidade com registro e logs de edição e versões, backup programado de sistemas locais e centrais e acessos para auditoria.

Existem diversos fornecedores mundiais desse tipo de sistema, que se adequam ao porte do empreendimento, fase, commodity, orçamento e estratégias corporativas.

Adicionalmente à gestão de dados, empresas globais declarantes de recursos e reservas também se valem do serviço de sistemas de declaração, para gerenciar PQs de diversas especialidades, em diversos países, sob regulamentações de bolsas de valores distintas e condutas nacionais específicas, entre outras particularidades, que devem atender a inúmeros eventos em linhas de tempo simultâneas e não coincidentes. Existem poucas soluções comerciais disponíveis, que são, geralmente, ajustadas para atender às demandas das empresas, com mecanismos de aprovação em níveis, acesso por tipo de usuário e função e módulo de entrega e visualização configurado para auditores e revisores, entre outras excelentes funcionalidades. A depender do porte e localização geográfica das unidades operacionais da empresa, torna-se inviável a gestão adequada sem um sistema especialista.

Módulo Revisão de Workflow – Etapa Ampliação QAQC Geológico

Já foram detalhados conceitos, definições e práticas para o QAQC Analítico, que qualifica e quantifica precisão, exatidão e contaminação das etapas de amostragem, preparação física e análise química.

Adicionalmente aos controles realizados para essas importantes etapas, há que se garantir e controlar o posicionamento correto de cada uma das amostras utilizadas, bem como os parâmetros que os qualificam e quantificam (e, portanto, assuring and controlling e, também, usar das práticas do QAQC). O QAQC Geológico é aplicado de uma forma mais ampla, às demais etapas:

Execução da sondagem:  

  • Descrever fornecedores, responsabilidade, método, procedimento, equipamento e materiais), com monitoramento e avaliação do desempenho;
  • Identificar controladores (“drivers”) de qualidade de processo, com indicação de pontuação;
  • Definir todos os itens dos boletins diários de sondagem, especialmente aqueles feitos com anotação manual, que podem ser controlados por outros profissionais por validação cruzada;
  • Repetir as validações das empresas de sondagem quanto à recuperação por manobra e por intervalo amostral;
  • Implementar controles de cadeia de custódia desde a colocação da caixa do testemunho, armazenamento e acessos na praça de sondagem e transporte até os galpões.

Posicionamento do furo de sondagem

  • Confirmar a utilização de datum SIRGAS 2000, conforme resolução do IBGE;
  • Fazer medição da coordenada topográfica da boca do furo por outra equipe, 1:50 – precisão por repetibilidade;
  • Fazer medição da coordenada topográfica da boca do furo por outro equipamento, de resolução similar, 1:100 – precisão por reprodutibilidade;
  • Para liberação da sonda e autorização da medição do furo, o(a) geólogo(a) responsável deverá comparar elevação (z) com a superfície topográfica atualizada. Caso não atenda às definições do plano de sondagem, solicitar nova medição ou novo furo.

Desvio da trajetória do furo de sondagem

  • Medir a inclinação com bússola na haste da sonda. Iniciar a configuração da leitura com informação de azimute e dip de saída, por equipamento que tenha buscador automático de norte;
  • Determinar o desvio dos furos de sondagem pelo melhor método de leitura disponível no mercado (com giroscópio e acelerômetro, sem utilização de métodos magnéticos, com buscador de norte para ratificar a orientação);
  • Verificar o valor absoluto de cada leitura coerente a cada 3 m, com definição de aceitação. Acompanhar dados com histograma de validação;
  • Comparar os valores de desvios medidos na descida (IN) e na subida (OUT) do instrumento, com aceitação do desvio padrão relativo à profundidade inferior a 2% na comparação da 1ª perfilagem com a 2ª perfilagem, por intervalo;
  • Comparar duas leituras subsequentes de uma mesma perfilagem para azimute e inclinação. Para leituras a cada 3 m, é aceito até 4,2º de diferença entre leituras;
  • Fazer validação gráfica (checagem visual) dos furos em 3D nos softwares de modelagem geológica, para verificação de quebras bruscas e descontinuidades;
  • Fazer medição do desvio por outra empresa ou equipamento, 1:100 – precisão por repetibilidade | reprodutibilidade.

Descrição Geológica e Geotécnica

  • Fazer descrição por pares de geólogos e geotécnicos, na mesma data, mantendo o sigilo durante o processo, a cada 5% da metragem descrita no mês;
  • Realizar campanhas de redescrição dos testemunhos armazenados: verificar integridade, preservação e eventual contaminação das amostras remanescentes;
  • Garantir que todos os profissionais atuantes estejam treinados nas últimas versões dos Procedimentos Operacionais (PROs);
  • Fazer validação gráfica em software de modelagem – comparação das litologias esperadas quando do planejamento da sondagem;
  • Fazer verificação dos intervalos amostrais pela comparação com resultados analíticos;
  • Verificar assertividade da descrição geológica por comparação em furos gêmeos, resultados analíticos e fotografia (machine learning de imagens digitais).

Ensaios de densidade

  • Verificar a efetiva correlação entre os dois ou mais métodos, por campanha sistemática de determinação de densidade;
  • Fazer ensaio de determinação de densidade por outro método (reprodutibilidade), caso seja possível, 1 a cada 50 ensaios, se a amostra não for contaminada ou destruída no primeiro ensaio;
  • Fazer nova medição por diferente profissional, sem acesso ao ensaio original (repetibilidade).

Furos Gêmeos

  • Fazer um furo gêmeo a cada 50 furos, com distância máxima de 2 a 5 metros do furo “original”, mesma orientação e inclinação;
  • Fazer a descrição geológica e geotécnica com as mesmas recomendações do procedimento do furo original ou indicar as alterações de procedimento e correlação. Sempre que possível, utilizar o suporte amostral original;
  • Estudar o resultado do comportamento de todos os parâmetros avaliados e definir os limites de variações aceitáveis;
  • Caso a correlação entre os furos seja aferida como inconsistente, a descrição dos dois furos deve ser revisada para entender como funcionam as zonas de isofraturamento que poderão não apresentar correlação horizontal.

Assim, finalizamos a apresentação dos principais pontos das questões técnicas da metodologia GeoData Quality Management. A Figura 1 organiza em quais edições da revista In the Mine foram descritas as etapas do GDQM.

Figura 1 no alto da página – Etapas da Metodologia GDQM apresentadas nas edições da revista In the Mine

Nas próximas edições, traremos temas novos, voltados para o mercado financeiro, discutindo como as informações são fundamentais para que os investidores possam avaliar eficientemente quais projetos podem e devem focar seus recursos disponíveis.

1Geóloga e Mestre em Recursos Minerais pelo IGc-USP, Doutora em Engenharia Mineral pelo PMI-EPUSP e Diretora Executiva da GeoAnsata Projetos e Serviços em Geologia

REFERÊNCIAS

CUCHIERATO, G. (2022), A importância da qualidade da informação no processo de declaração de recursos minerais. 293 f. (Tese de Doutoramento em Engenharia de Minas). Departamento de Engenharia de Minas e do Petróleo da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2022

 

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