Um dos menores felinos selvagens do mundo e espécie ameaçada de extinção, o gato-mourisco (Herpailurus yagouaroundi) foi registrado pela primeira vez no Legado Verdes do Cerrado – Reserva Particular de Desenvolvimento Sustentável de propriedade da CBA (Companhia Brasileira de Alumínio), localizada em Niquelândia (GO).
O registro foi feito pelas câmeras de monitoramento de fauna, por meio do projeto Monitoramento Participativo da Biodiversidade, conduzido pela Reserva desde novembro de 2020 para o levantamento de espécies no território. O animal que aparece nos vídeos tem a coloração mais amarronzada, dando até a impressão de cor preta, e aparência jovem e saudável, mas não é possível determinar seu gênero pelas imagens.
As armadilhas fotográficas possuem uma câmera digital embutida com sensores de temperatura e movimento. Quando eles detectam a movimentação de algum animal, ao mesmo tempo em que identificam uma temperatura diferente daquele ambiente, a câmera começa a capturar imagens – em vídeo ou foto, sem qualquer contato com o animal, possibilitando registros de espécies mais difíceis de serem avistadas, como o gato-mourisco.
O registro foi feito no final de 2022 e após análises do registro por biólogos foi confirmada que se trata do gato-mourisco.
O projeto de monitoramento da fauna no Legado Verdes do Cerrado já registrou outros animas raros, como a onça-pintada e a onça-parda, em um total de mais de 30 espécies animais, como lobo-guará, veado, anta e tamanduá-bandeira.
Para David Canassa, diretor da Reservas Votorantim, o registro inédito reforça a importância de áreas como o Legado Verdes do Cerrado para a conservação de espécies ameaçadas. “A cada vez que conseguimos identificar uma nova espécie no território é uma conquista na missão de conhecer melhor a biodiversidade. Isso também reforça o sucesso do nosso modelo de gestão, que promove o múltiplo uso do solo e a conservação do bioma, aliando negócios da economia convencional com a nova economia. Ou seja, é possível desenvolver o território e ainda ser um refúgio para espécies ameaçadas de extinção”.
Particularidades da espécie
O gato-mourisco, também chamado de jaguarundi, está nas listas oficiais de espécies ameaçadas de extinção do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e do Ministério do Meio Ambiente, na categoria vulnerável.
De acordo com Stephanie Simioni, bióloga do Onçafari, associação criada para estudo e conservação da vida selvagem, o gato-mourisco vive em áreas abertas e de mata, em biomas variados, e é mais ativo durante o dia. “Embora seja um animal diurno, ele evita o contato com humanos. Sua importância ecológica está ligada ao fato de serem predadores na cadeia alimentar, ajudando a garantir o equilíbrio do ecossistema”, explica a bióloga.
Stephanie complementa que dentre os gatos selvagens, o gato-mourisco tem características bem específicas. “Por exemplo, diferentemente da maioria dos felinos selvagens, o jaguarundi prefere caçar durante o dia. Outra característica curiosa da espécie é a sua capacidade de emitir sons, como assobios, vibrações, ronronados e até chiados de pássaros, usados para atrair suas presas”, diz.
A bióloga também explica que ele tem pernas curtas, é esguio e pode ser confundido com outros felinos, como a irara. Mede de 48 a 83 cm de comprimento, pesando de 3,5 a 9 kg. Tem a cauda mais longa entre os pequenos felinos (de 27 a 59 cm) e possui pelagem em tons que variam do preto a tons avermelhados, passando por castanho e cinza-escuro.
O felino é carnívoro: a base de sua alimentação é de mamíferos de menor porte, roedores, cobras, lagartos, peixes, insetos, aves e anfíbios. É um animal de hábitos solitários, que por muito tempo foi classificado na categoria Puma, junto com a onça parda, até uma revisão ter o colocado sozinho como Herpailurus.
O Onçafari é parceiro da Reservas Votorantim – gestora do Legado Verdes do Cerrado e do Legado das Águas, no Vale do Ribeira, no Estado de São Paulo – no monitoramento de grandes felinos. A parceria teve início em 2020, no Legado das Águas. O Onçafari atua no Pantanal, Cerrado, Amazônia e Mata Atlântica com o objetivo de promover a conservação do meio ambiente e contribuir com o desenvolvimento socioeconômico das regiões em que está inserido por meio do ecoturismo e de estudos científicos. O projeto é focado na preservação da biodiversidade em diversos biomas brasileiros, com ênfase em onças-pintadas e lobos-guarás.