Com quais garantias efetivas o mercado investidor pode contar para financiar pesquisas de mineração e atividades ainda em implantação? Esse foi o tema central do painel “O financiamento da pesquisa e do desenvolvimento mineral do país”, nesta quarta-feira, no XI Simpósio Brasileiro de Exploração Mineral, em Ouro Preto (MG).
A mesa contou com a presença de Ricardo Fonseca, sócio da Genial Investimentos; Leonardo Resende, superintendente do Relacionamento com Empresas da B3 (bolsa de valores brasileira), e Pedro Paulo Mesquita, gerente de Inteligência do Mercado de Mineração do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O painel teve mediação do presidente da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa Mineral e Mineração (ABPM), Luis Maurício Azevedo.
Essas garantias constituem hoje um desafio para o setor bancário, de acordo com Ricardo Fonseca. “Existe um desconhecimento do setor financeiro no momento, em relação a projetos minerais. Os bancos não sabem o que fazer com o direito mineral caso o título seja objeto de uma execução (extrajudicial). Eles não almejam ter esse direito, mas sim recuperar o dinheiro que emprestaram”, disse. De acordo com ele, quanto mais se precifica esta garantia, fica mais fácil seu entendimento para o investidor.
Ele reforça a necessidade de se simplificar o pacote de garantias. “Eu não preciso de uma decisão da Agência Nacional de Mineração (ANM) para exercer meu pacote de garantias. Trabalhamos com cálculo de risco e retorno: quanto menos risco associado, menos juros e vice-versa. Quanto mais simples esse pacote de garantias, mais fácil e em condições melhores acontece a liberação do empréstimo. Por isso, hoje é mais fácil financiar uma empresa em andamento, geradora de caixa, do que um projeto mineral em implantação”, explicou.
Nesse contexto complexo, padronizar a informação para o investidor é um item fundamental, avalia Leonardo Resende. “Está muito claro para todos aqui que projetos de mineração envolvem riscos geológicos. O que não pode haver é risco informacional. A gente não precisa inventar a roda, pois já existe um padrão de comunicação internacional nos outros mercados. Queremos importar os bons conceitos para somar mercados, somar bolsas. Potencializar o setor partindo do nosso país. Para que isso aconteça, o mais importante, de início, é padronizar a informação para o investidor”, afirma.
O mediador Luis Azevedo dirigiu-se ao representante do BNDES com a pergunta: como o banco pode ajudar as empresas que não possuem fluxo de caixa? Em sua resposta, Pedro Dias disse que o banco tem programas que ajudam as junior companies. Além disso, elas podem trazer a parceria de outra instituição.
“Um ponto que trava o relacionamento direto com o BNDES é o projeto de uma empresa que não é grande geradora de caixa. Mas é importante dizer que o banco consegue baixar significativamente o nível do custo de capital necessário para essas empresas, por meio do programa “Mais Inovação”. Além disso, elas também podem trazer a parceria de outra instituição”, diz.
Outro ponto importante, que tem relação com a licença ambiental, é o aspecto social. “O banco faz uma análise social de todos os seus projetos. Incluindo o potencial de geração de empregos e a perspectiva de desenvolvimento local, a partir da sua implantação e entrega para a sociedade. Nossos créditos são de longo prazo. Para nós é importante que, daqui a dez anos, por exemplo, aquela comunidade se sinta atendida e a mineração naquele local seja sustentável. Não se trata apenas de uma visão do governo: o empresário precisa entender que isso é imperativo para o sucesso do seu negócio. Por isso, queremos receber projetos já com essa visão”.
Ricardo Fonseca disse que as captações estão mais ágeis, o que também é muito importante para o mercado financeiro. “Isso é credibilidade. E a melhor coisa para testar o seu projeto é conversar com o investidor. Essa troca com o mercado vai fortalecendo o projeto. É preciso falar a língua das pessoas que estão querendo comprar o projeto e ouvir seu feedback”.
Outro aspecto destacado foi o timing do mercado, o monitoramento constante.“As pessoas se dedicam mais quando veem no empresário essa parceria. Se você ganhar junto com o seu investidor, é o melhor caminho. Por isso, os empresários que cultivam essa prática colhem muito mais benefícios. O ‘ganhar com’ é muito levado em consideração no meio”, concluiu Fonseca.