A infraestrutura logística é o diferencial para o desenvolvimento socioeconômico da Bahia. Mesmo sendo o terceiro maior produtor mineral do país, o estado sofre com a falta de eficiência da sua infraestrutura logística, uma vez que depende quase que exclusivamente da malha rodoviária para fazer com que as suas produções cheguem até aos seus destinos finais ou até aos portos.
Esse foi um dos motivos que levou a CBPM (Companhia Baiana de Pesquisa Mineral) a encomendar um estudo da infraestrutura ferroviária do Estado da Bahia à Fundação Dom Cabral (FDC). A instituição tem uma experiência de mais de 40 anos, já desenvolveu o Plano Estratégico de Ferrovias para o estado de Minas Gerais, e também realizou Estudos Logísticos Ferroviários para a Federação das Indústrias do Espírito Santo.
Na última quinta-feira (29/09), o segundo relatório preliminar apresentado pela Fundação Dom Cabral, mostrou o andamento do processo de pesquisa e o que já foi possível concluir. A apresentação, contou, dentre outras, com a participação do secretário de Planejamento da Bahia, Claudio Peixoto, do presidente da CBPM, Antonio Carlos Tramm, do coordenador executivo de projetos especiais na SEPLAN, Antônio Valença, do diretor executivo da Associação de Usuários dos Portos da Bahia (Usuport), Paulo Villa, representantes da Secretaria de Infraestrutura do Estado da Bahia, da BAHIAINVESTE, e do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (Crea-BA), além dos coordenadores do estudo.
Estudo traz novos potenciais
Com duração de sete meses, o estudo que teve início em junho, deste ano, mostrou o potencial de demanda por ferrovias no Estado da Bahia. Na apresentação, algumas propostas foram realizadas, a exemplo da criação de novos ramais ferroviários. De acordo com o coordenador geral do projeto e do Núcleo de Infraestrutura, Supply Chain e Logística da FDC, Paulo Resende, algumas regiões do estado são bastante impactadas com a falta de trens e serão bastante favorecidas com a implantação da malha ferroviária.
“Um importante destaque é a Região Oeste e Centro Sul da Bahia onde a ausência da ferrovia é total, mas que apresenta demandas significativas de minério e granéis agrícolas, além de um destaque para a carga geral em determinados trechos”.
A carga geral é uma das principais apostas do estudo. Esta modalidade permite o transporte de diversos tipos de mercadorias, a exemplo de produtos manufaturados, alimentos e bebidas processados e combustíveis. Conforme informações da Associação Nacional dos Transportes Ferroviários (ANTF), a movimentação de Carga Geral é muitas vezes feita por contêineres e revela uma diversificação bastante relevante no portfólio de produtos.
Além da carga geral, a necessidade de construção e reforma da malha ferroviária existente em bitola larga (largura prevista para distanciar as faces interiores das cabeças dos trilhos) dos atuais 1 metro para 1,6 metros é de grande importância para que o estado siga o padrão que é utilizado em grande parte do país facilitando desta forma o deslocamento das cargas entre ramais ferroviários distintos. Conforme, Resende, ao transformar a ferrovia baiana para a bitola larga ela destrava várias restrições uma vez que a malha interligada acaba com o isolamento logístico da Bahia tornando-a mais competitiva.
Até o final do projeto outras constatações importantes deverão ser elencadas, gerando uma visão estratégica da participação de ferrovias na infraestrutura das regiões. Segundo Resende, o estudo pode contribuir para uma racionalização da atividade logística, no ordenamento do território a partir dos potenciais de produção e consumo, no fomento à multimodalidade, com o aproveitando máximo das vantagens de cada modal de transporte.
E também na promoção de ganhos socioambientais; na busca permanente do desenvolvimento econômico regional; e no aumento da competitividade das empresas e das regiões, onde o transporte sai de uma condição periférica para se constituir em elemento fundamental de manutenção da competitividade sustentada no longo prazo.
Importância do estudo para a Bahia
Uma infraestrutura logística eficiente é de grande importância para o desenvolvimento socioeconômico, por possibilitar a criação de novos negócios, a geração de emprego e renda e o desenvolvimento de setores específicos à margem da linha férrea. Por esse motivo, o estudo de oportunidades é de grande importância para a Bahia.
O diretor executivo da Usuport, Paulo Villa diz que esse estudo é uma referência para o desenvolvimento logístico da Bahia.:
“Quando você fala de logística, temos que pensar em ferrovia, rodovia e porto, pelo menos. Nós temos uma ferrovia no estado, que não funciona, e o que nós queremos é transformá-la em uma ferrovia moderna, que possa atingir aos portos, e que possa servir a todo o setor produtivo da Bahia”.
Para o presidente da CBPM, esse estudo também é importante para a ampliação e competitividade da produção mineral do estado:
“A Bahia possui 10 portos e Tups (Terminais de uso privado) que poderiam ser melhor aproveitados se houvesse interligação com os trens para o escoamento da produção, enfatiza Tramm que também ressalta que esse diagnóstico especializado irá respaldar a luta pelo trem da Bahia. “Nós sempre discutimos a falta de trens do estado e agora teremos um material para poder argumentar com mais precisão e embasamento técnico”.
A opinião também é compartilhada pelo secretário de planejamento, Cláudio Peixoto.
“É muito importante esses estudos logísticos para o desenvolvimento do estado, sobretudo nesse momento em que se avizinha um processo de ruptura da concessão da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), pela VLI, e o estado precisa ter elementos, informações, estudos consistentes para apontar novos caminhos. Precisamos chegar fortes nas discussões nacionais para reinserir a Bahia nessa temática”.
Foto em destaque: Construção da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol)/ Elói Corrêa/ GovBa