FINANCIAMENTO: POTENCIAIS E GARGALOS DO SETOR

FINANCIAMENTO: POTENCIAIS E GARGALOS DO SETOR

A pauta do painel apresentado no início da tarde de terça feira (21/5), no no XI Simpósio Brasileiro de Exploração Mineral (SIMEXMIN), em Ouro Preto, é no momento o grande desafio que se coloca hoje para a mineração no país: como criar mecanismos de financiamento e um ambiente de negócios favorável para que o Brasil possa se tornar um grande player da mineração.

O tema em discussão, “Soluções para o Mercado de Capitais para a Mineração no Brasil” foi apresentado pelo coordenador da rede Invest Mining, Miguel Nery, e atraiu um grande público, formado por investidores, geólogos, engenheiros e estudantes. Além de Nery, a mesa foi formada por Pedro Dias, do BNDES; José Ricardo Pisani, presidente da Comissão Brasileira de Recursos e Reservas (CBRR); Leonardo Resende, da B3, e Ricardo Fonseca, da Genial Investimentos.

O Invest Mining é uma rede colaborativa, formada por entidades privadas e pelo setor público, que desenvolve ações que possam melhorar o ambiente de negócios no país. E a “menina dos olhos” da rede no momento é atrair investidores para esse mercado no Brasil, para que o país possa ter uma Bolsa Venture Capital focada na mineração.

Miguel Nery, da Invest Mining2
Miguel Nery, da Invest Mining

Miguel Nery explica que existem várias frentes de trabalho em andamento, para que o investidor brasileiro possa se convencer das vantagens de investir no setor. “Nós trabalhamos pela ampliação da pesquisa, o direito minerário e o consequente aprimoramento da regulação. Estamos confiantes em apresentar no Congresso um projeto de lei que possa desonerar o investidor, semelhante às leis já existentes de renúncia fiscal. Quem investir em pesquisa mineral poderá ter dedução do Imposto de Renda. Com uma regulação consolidada, o mercado ganha outra credibilidade para atrair investimentos”, conclui.

No momento, os esforços estão voltados para a criação de um braço da Bolsa, semelhante ao que já existe na Austrália e no Canadá, exclusivamente voltado para a mineração. O objetivo é apoiar as Juniors companies, definidas como não operacionais, que são as empresas que correm os maiores riscos no trabalho de descoberta de jazidas.

A evolução das pesquisas e a confirmação do sucesso das pesquisas minerais, apontando a existência de minerais nos territórios, irá valorizar as ações destas empresas, de acordo com ele. “Precisamos criar esse ecossistema no país e garantir aqui os bons profissionais, para que o minerador brasileiro não tenha que recorrer a bolsas internacionais para se capitalizar”, completou.

O BNDES irá publicar um edital sobre Fundo de investimentos que vai lastrear condições para que investidores qualificados possam se habilitar a esse mercado. “O papel do BNDES nesse contexto é da maior importância. No contexto do que a gente imagina esse processo, pensamos que a empresa vai atender a critérios mínimos para integrar essa listagem”, observa.

Pedro Paulo Dias, gerente de Inteligência de Mercado de Mineração e Transformação Mineral do BNDES, reforçou a necessidade do financiamento para a mineração. “Reconhecemos a importância dos minerais estratégicos, e colocamos os mecanismos de financiamento em prol do avanço desse setor. Sabemos também que isso precisa acontecer por meio de um alinhamento estratégico com a transição energética”, disse.

Sobre a entrada na Bolsa, o presidente da Comissão Brasileira de Recursos e Reservas (CCBR), José Ricardo Pisani, disse que o setor mineral precisa de profissionais que atestem essa viabilidade. “É necessário fazer o registro do profissional qualificado dentro dos padrões pré-estabelecidos, para trazer esse conforto ao investidor. Assim, ele terá a segurança de que o trabalho está sendo feito nos melhores padrões aceitos pelo mercado, padrões que geraram cases de sucesso no mundo inteiro”, explicou.

Pisani alertou que o setor precisa estar preparado para entregar isso ao mercado. “O papel da CBRR é trazer essa segurança para esses investidores não habituados a investir em mineração no Brasil. É preciso criar esse ecossistema. Esse é o esforço que fazemos”.

Leonardo Resende, da B3, reforçou o perfil de mercado que o investidor precisa: dividendos, lucros calculados e mensurados, e empresas que dão conforto ao mercado sobre suas operações. “Tudo que falamos aqui são instrumentos para que o investidor possa entender a tecnicalidade. Como trazer essa realidade no mercado brasileiro?

Acredito que temos um grande potencial para impulsionar o setor. Temos caminho aberto para listagens de ações, debêntures e securitização, para que negócios se viabilizem. Precisamos educar o investidor brasileiro, para atraí-lo”, observou.

Ricardo Fonseca, da Genial Investimentos, concorda que convencer o investidor brasileiro a investir em projetos minerais é uma grande tarefa. “Esse é o ponto diferente da mineração em relação ao agro, por exemplo. São dados que podem demorar muito para sua execução, e não há controle quanto aos prazos. Isso gera um desconforto. Levantar dinheiro no mercado para um projeto pré-operacional é um desafio a ser trabalhado”. Ele lembra, no entanto, que o novo cenário na mineração pode virar esse jogo. “Hoje a transição energética atrai 100% da atenção desse público no mercado financeiro. O tema está aquecido na Faria Lima”, diz ele.

Ele acredita que a perspectiva é otimista, mesmo com o dever de casa que se coloca na mesa. “Temos vários pilares que estão convergindo num momento único e não podemos perder essa chance. A transição energética acontece em várias partes do mundo. Se a gente se unir com ADIMB, IBRAM e Invest Mining e tivermos uma regulação consolidada, podemos explorar muito bem os potenciais que temos”, conclui.

(Por: Paulo Boa Nova)
Fotos: Paulo Boa Nova/In the Mine

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