EXPANSÃO PRODUTIVA E NOVAS PARCERIAS

EXPANSÃO PRODUTIVA E NOVAS PARCERIAS

A Indústrias Nucleares do Brasil – INB fornece a totalidade dos combustíveis nucleares utilizados nas usinas Angra 1 e Angra 2, em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Assim, quase toda a sua produção é vendida no mercado interno, com eventuais exportações, que a empresa trabalha para ampliar, especialmente com o projeto Santa Quitéria – PSQ, no Ceará.

O empreendimento é conduzido pelo Consórcio Santa Quitéria, formado pela INB e pela Galvani, produtora de fertilizantes. A expectativa é de produção de 2,3 mtpa de concentrado de urânio (U3O8), suficientes para suprir 3,1 vezes a demanda de todas as usinas nucleares, incluindo Angra 3 que se encontra em construção. Também serão produzidas 1,05 Mtpa de fertilizantes fosfatados de alto teor para nutrição de plantas e 220 mtpa de fosfato bicálcico para ração animal. O projeto está em fase de licenciamento.

Luiz Antônio da Silva, diretor de Recursos Minerais da INB
Luiz Antônio da Silva, diretor de Recursos Minerais da INB

Em outra frente, a INB também trabalha para estabelecer novas parcerias, valendo-se do bom momento dos preços internacionais e da flexibilização do monopólio do urânio. “A Lei 14.514/2022 trouxe novos horizontes para a INB, possibilitando parcerias em diversos modelos de negócio”, explica o diretor de Recursos Minerais da empresa, Luiz Antônio da Silva. Segundo ele, no entanto, ainda faltam regulamentações ao dispositivo legal, que ofereçam maior segurança jurídica à INB e seus parceiros e tornem as possibilidades de negócio no Brasil ainda mais atrativas aos grandes players internacionais.

Mesmo tendo o urânio e o combustível nuclear, onde concentra seus esforços e investimentos, a INB, a exemplo de outras empresas de mineração, busca, atualmente, diversificar seu portfólio de produtos para incluir outros minérios e minerais críticos. Esses projetos, no entanto, ainda estão em uma fase bem inicial de avaliação, segundo Silva.

Contexto

Até a eclosão do conflito entre Rússia e Ucrânia, em fevereiro de 2022, o preço do U3O8, que vinha de um longo período de relativas baixas, entrou em fase de grande recuperação. O impacto da geopolítica sobre a cotação do produto, diz Silva, segmentou o mercado, alavancou os preços e fez com que as utilities se precavessem, comprando no longo prazo e ampliando seus estoques, o que afetou significativamente a oferta e a demanda do material. Nesse contexto, os preços que variavam entre US$ 30 e US$ 40,00/libra, em 2021, hoje chegam a US$ 85/libra (05/07/2024), uma valorização superior a 100%.

O reconhecimento da energia nuclear como uma solução sustentável para a geração de eletricidade, que resultou no aumento da demanda global por urânio, também é um fator de influência na manutenção ou elevação dos preços. Assim, não só a transição para fontes de energia de baixo carbono, como a expansão de novos projetos nucleares em países como China, Índia e na União Europeia (UE) têm aumentado a necessidade de urânio.

A oferta do minério, por seu lado, é impactada pela instabilidade geopolítica em regiões-chave para sua mineração e por tensões comerciais globais, especialmente entre grandes economias. Também contribuem para a elevação dos preços, os custos operacionais de mineradoras, a escalada dos custos de transporte e a necessidade de investimentos em novas tecnologias, além de políticas de aumento de estoques estratégicos de urânio por parte de grandes empresas e países, devido à previsão de escassez futura e à volatilidade do mercado.

“A transição enérgica dos combustíveis fósseis para novas fontes de energia passa por um planejamento de ampliação da oferta de energia compatível com os compromissos de redução das emissões de CO2 (dióxido de carbono), sem prejuízo do crescimento econômico”, considera Silva. Baseada nesse pressuposto, a INB projeta um crescimento significativo na demanda por urânio e produtos nucleares, tanto no Brasil quanto no cenário internacional.

Globalmente, essa expectativa de aumento da demanda deve ocorrer com a expansão dos projetos nucleares em diversos países, como forma de reduzir suas emissões de carbono e alcançar suas metas climáticas. A indústria nuclear também vive um bom momento internacional, com a ampliação de investimentos para a extensão da vida útil de reatores e em novas tecnologias, como a dos SMR (Small Modular Reactor), de fissão nuclear.

Já no Brasil, avalia Silva, a expansão da demanda depende da conclusão das obras da usina Angra 3 e da construção de novos reatores convencionais, como previsto no Plano Nacional de Energia (PNE). “Esse ganho em escala de usinas é necessário para a sustentabilidade do setor nuclear brasileiro e para garantir um futuro de suficiência de energia elétrica descarbonizada e de crescimento econômico para o país. Precisamos disseminar esse entendimento para destravar as resistências que ainda existam contra a expansão do Programa Nuclear Brasileiro”, explica o diretor.

Minério de urânio britado em pátio de estocagem
Minério de urânio britado em pátio de estocagem

Evolução

De forma geral, Silva avalia que a INB está preparada para enfrentar um cenário mais exigente em termos de responsabilidade social, ambiental e de governança (ESG). Nesse sentido, o executivo destaca alguns pontos de atenção da empresa.

Em primeiro lugar, o diálogo aberto e permanente com as comunidades locais e a participação em projetos de desenvolvimento social e econômico em suas áreas de atuação. Na sequência, o avanço na implantação de um Sistema de Gestão Ambiental ­– SGA, a adoção de práticas ambientais rigorosas e o investimento em tecnologias para minimizar os impactos ambientais das operações. Por fim, do ponto de vista da governança, uma estrutura transparente, sólida e ética para a tomada de decisões e a gestão dos processos.

Segundo o diretor, há um processo constante de melhorias nas três áreas, mas a INB ainda precisa evoluir, em termos de política e cultura organizacional, o que demanda recursos expressivos. “Esse, contudo, é um assunto de total interesse da Alta Gestão e a INB tem trabalhado para atender cada vez mais a um ESG alinhado com sua missão, visão e valores”, conclui.

Em relação à demanda crescente do mercado por produtos mais sustentáveis, o diretor lembra que, como qualquer atividade produtiva, o setor de mineração está diretamente atrelado ao uso dos recursos naturais. “Nessa condição, o que torna nosso produto “verde” é a responsabilidade ambiental e um ciclo operacional eficiente que diminua os impactos ambientais da atividade produtiva”, define Silva.

Tambor de concentrado de urânio (yelow cake)
Tambor de concentrado de urânio (yelow cake)

Entre as várias iniciativas focadas nesse propósito está a política interna de não contratar veículos com mais de 5 anos de uso e de realizar manutenções periódicas em sua frota própria e nas caldeiras, visando a redução de emissões de CO (monóxido de carbono) e CO2. Na mina, também contribui para a descarbonização, a revegetação promovida pelo Programa de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD), já que as espécies arbóreas plantadas absorvem mais carbono do que emitem.

No que se refere à aquisição de produtos mais sustentáveis, a empresa possui diretrizes para o uso de produtos menos tóxicos em seu dia a dia, como a substituição de lâmpadas fluorescentes, o emprego de detergentes, lubrificantes e desengraxantes biodegradáveis, a proibição de compra de telhas de amianto e a logística reversa de resíduos, entre outros. Já a gestão de água, outro insumo crítico da operação mineral, objetiva as melhores práticas

operacionais para a redução de seu consumo e reaproveitamento. Um exemplo é o projeto para reciclagem e uso de água concebido para a Unidade de Concentração de Urânio localizada em Caetité, na Bahia, região do alto Sertão nordestino. “Ao reduzirmos a pegada ambiental de nossas operações, reforçamos o papel da INB como fornecedora de soluções sustentáveis para a transição energética global”, conclui Silva.

Depósito de elementos combustíveis em Resende (RJ)
Depósito de elementos combustíveis em Resende (RJ)

DA MINERAÇÃO AO COMBUSTÍVEL NUCLEAR

A Indústrias Nucleares do Brasil – INB é uma empresa pública de capital fechado, controlada pela Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar), vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME). Seu principal negócio é fornecer combustível nuclear para os reatores brasileiros, além de projetar, construir e operar as usinas. O Brasil é um dos únicos três países do mundo que tem reserva de urânio e domina toda a tecnologia do ciclo do combustível nuclear.

Para a fabricação do combustível nuclear, produto de alto valor agregado, a INB atua nas etapas de mineração e fabricação de concentrado de urânio, enriquecimento, reconversão, produção de pastilhas e montagem do combustível. A empresa também responde pela comercialização de materiais nucleares, além de prestar serviços de engenharia do combustível nuclear e em reatores nucleares, no Brasil e no exterior. Com unidades em Resende e Buena (RJ), Caetité (BA), Caldas (MG) e em Itu e São Paulo (SP), a INB tem sede na cidade do Rio de Janeiro e escritório em Fortaleza (CE), base do Projeto Santa Quitéria.

Na Unidade de Concentração de Urânio (URA), situada em Caetité, está implantada a única mineração de urânio em atividade no país. Nessa instalação é iniciado o ciclo do combustível nuclear, que consiste na mineração e beneficiamento do minério para a produção do concentrado de urânio (U3O8). No conjunto de unidades industriais da Fábrica de Combustível Nuclear (FCN), em Resende, são realizadas as quatro etapas restantes do processamento nuclear: o enriquecimento isotópico de urânio, a reconversão, a produção de pastilhas e a montagem do Elemento Combustível que abastece os reatores das usinas nucleares, principal produto da INB.

Atualmente, a INB desenvolve ações de descomissionamento na Unidade em Descomissionamento de Caldas (UDC), Buena (UDB), São Paulo (UDSP) e Botuxim, em Itu (UEB).

Foto em destaque no alto da página: Amostra de minério de urânio da mina em Caetité (BA)
Fotos: INB/Divulgação

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