A palestra “A importância econômica da mineração no cenário da transição energética”, durante o Invest Mining Summit 2024, realizado em 08 de outubro, na B3 – Bolsa de Valores de São Paulo, foi proferida por Joaquim Levy, diretor de Estratégia Econômica e Relações com Mercados do Banco Safra, um dos patrocinadores do evento. Ex-ministro da Fazenda (2015) e ex-diretor gerente do Banco Mundial, o executivo traçou um panorama do cenário da taxa anual de juros dos Estados Unidos, lembrando seu movimento de alta e baixa – de quase 5% para 3,6% – nos últimos dois anos, podendo chegar a 3,5% neste ano e a 3% em 2025. “Esse cenário abre boas possibilidades para o Brasil e pode nos ajudar no combate à inflação”, afirmou. Segundo ele, a tendência da inflação no Brasil é de queda, influenciando também a queda da SELIC, que pode ser de 11,5% em 2024, 10,5% em 2025 e 8,5% em 2026.
Uma das razões para esse quadro, diz Levy, é que a economia brasileira vai bem, embora não apresente um crescimento excepcional. Para embasar sua avaliação, ele fala das vendas no varejo, que está em recuperação mediana. Outro fator é o de serviços, também em alta moderada. No setor fiscal, despesas pagas no primeiro semestre do ano, como o pagamento de precatórios extraordinários, não se repetirão no segundo semestre, dando espaço ao crescimento econômico, superando a estimativa de 2,5% ao ano, inicialmente prevista. A concessão de crédito também está estável. Esse conjunto de circunstâncias, promove um PIB relativamente estável. “Uma das maneiras de se obter crescimento econômico é a obtenção de investimentos. No que a transição energética pode contribuir”, considerou o ex-ministro.
Há previsão de investimentos da ordem de R$ 2 trilhões em energia, infraestrutura e mineração, com geração de cerca de 3 milhões em empregos, no período de 2024 a 2035. Parte desse investimento terá de ser privado e externo e uma grande contribuição vem das exportações. No setor mineral, as exportações totalizam US$ 62 bilhões, contra US$ 16 bilhões de importações (carvão, fosfato e potássio). Os investimentos em mineração, segundo projeção do IBRAM (Instituto Brasileiro de Mineração), são da ordem de US$ 26 bilhões.
Para Levy, será possível aumentar as exportações minerais em cerca de 50%, entre 5 e 8 anos, com o aumento da produção de cobre e níquel e a industrialização do setor, através da inserção de produtos minerais brasileiros beneficiados (com maior valor agregado) em planos estratégicos dos Estados Unidos (IRA), Europa (Clean Energy) e China. São exemplos, os anodos-eletrolizadores, os vidros ultra-transparentes para painéis solares, o alumínio ultra-purificado e as baterias, entre outros. De seu lado, a legislação mineral deve apoiar a mineração industrial, com grande atenção aos aspectos socioambientais que darão competitividade ao produto brasileiro.
Entre os minerais estratégicos, Levy destaca as Terras Raras, que colocam o Brasil no terceiro lugar do ranking de países com maior produção (500 t em 2021) e reservas (21 Mt), atrás da China e do Vietnam. “Nossa produção ainda é pífia diante da Austrália (22 mil t) e, principalmente, dos Estados Unidos (43 mil t)”, comparou o executivo. Baseado em projeções de mercado e em operações e projetos em curso, Levy diz que o Brasil pode alcançar uma produção de 21 mil t nos próximos anos, o que nos aproximaria da produção australiana.
Levy lembra que o plano decenal do SGB (Serviço Geológico do Brasil), para o período 2025-2034 estará focado em minerais críticos e estratégicos para a transição energética (lítio, cobre, terras raras, níquel, urânio e grafita) e para a segurança alimentar (potássio, fosfato e remineralizadores). Outra medida positiva é o reforço do quadro da ANM (Agência Nacional de Mineração) com a contratação de 220 servidores concursados e o fortalecimento do CETEM (Centro de Tecnologia Mineral). Mas, segundo ele, ainda é necessário: reformar e fortalecer o SGB e ampliar sua capacidade de execução de pesquisa mineral; reformar e fortalecer a ANM, inclusive no tocante a sua infraestrutura, disponibilização de dados e recirculação de áreas devolvidas; fortalecimento do registro e custódia dos direitos; requerimentos mais consistentes para a obtenção do direito sobre áreas; e incentivos à produção em áreas concedidas.
Foto: Joaquim Levy, diretor de Estratégia Econômica e Relações com Mercados do Banco Safra