Realizado em 08 de outubro, em parceria com a B3, bolsa de valores de São Paulo, o Invest Mining Summit, em sua segunda edição, discutiu junto a especialistas dos setores financeiro e mineral o avanço de instrumentos de regulação, além de mecanismos de financiamento, incluindo o Fundo de Investimentos e Participação, do BNDES (Banco de Desenvolvimento Econômico e Social), a projetos de exploração mineral em estágio inicial e avançado no Brasil.
Na abertura do evento, Miguel Cedraz Nery, coordenador do Invest Mining, rede composta por entidades governamentais e privadas que busca conectar investidores a projetos de mineração, lembrou que a entidade atua em quatro frentes: melhoria do ambiente regulatório; ESG (princípios e práticas ambientais, sociais e de governança); Hub de projetos para atração de investimentos; e melhoria do ambiente de investimentos para abrir espaço na B3 à listagem de junior companies, como já ocorre na Austrália e no Canadá, através da consolidação de um ecossistema que reuniria mineradoras, investidores, construtoras e escritórios de advocacia, entre outros agentes.
Novo ciclo
A vice-presidente de operações da B3, Viviane Basso, lembrou a importância do setor de mineração, responsável por 4% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional e das companhias já listadas no mercado de capitais brasileiro, que atuam em operações de minério de ferro, ouro e siderurgia. “Queremos abrir nossas portas também a empresas que ainda se encontram na fase pré-operacional de seus projetos, realizando pesquisa mineral e mapeamento geológico. Para construir esse caminho precisamos entender as demandas das mineradoras e dos investidores”, afirmou. A executiva parabenizou o BNDES pela criação do FIP que, financiando o estágio inicial de exploração mineral, poderá contribuir para o avanço do projeto e viabilizar sua listagem em bolsa, e ao Ministério das Minas e Energia (MME), por possibilitar a emissão de debêntures por empreendimentos focas em minerais críticos.
João Pieroni, superintendente de Indústria e Inovação do BNDES, disse que o banco de fomento é um parceiro histórico da mineração brasileira, tendo financiado cerca de R$ 8 bilhões a mais de 1.800 empresas ligadas ao setor. A partir de 2023, segundo ele, teve início um novo ciclo em que a indústria foi recolocada como uma das principais prioridades da instituição. “O governo brasileiro define uma política industrial mais moderna, que olha a descarbonização e transição energética como uma oportunidade gigante de inserir o país nos mercados internacionais. Para isso, os minerais críticos são fundamentais”, explicou. O executivo considera dois principais gargalos no setor mineral: o financiamento da exploração de minerais críticos por junior companies e o avanço desse estágio para o de beneficiamento, de forma a agregar valor ao minério lavrado. Há linhas de crédito disponíveis no BNDES, além do Fundo Clima – hoje com recursos de R$ 10 bilhões -, para realizar esse investimento, mas ainda são necessários outros financiadores e o mercado de capitais, concluiu Pieroni.
Apoio e atração
Thiago Lofiego, diretor de Relações com Investidores da Vale, destacou duas grandes tendências consideradas pela companhia: a descarbonização e a transição energética. Somente nas operações de cobre e níquel, rumo a essas metas, o investimento nos próximos anos será da ordem de US$ 4 a US$ 6 bilhões. Outra frente é a produção do chamado minério de ferro verde, para a fabricação de um aço de baixo carbono. “O Brasil pode ser um dos líderes mundiais nessas pautas. E, nesse sentido, nosso apoio ao FIP, com um aporte de até R$ 250 milhões, faz todo o sentido, visando promover a criação de um ecossistema financeiro na mineração”, afirmou o executivo.
Ana Paula Bittencourt, diretora de Desenvolvimento Sustentável na Mineração, da Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral (SGM), vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME), disse que, se a mineração por um lado tem seus desafios, por outro é um poço de oportunidades. “A missão do MME é extrair da mineração as principais entregas, em termos de renda, emprego, receita pública, bens e serviços. A mineração serve à sociedade”, considerou. Segundo ela, a grande oportunidade que o Brasil tem hoje está no cenário da transição energética. Tanto que o país tem sido reiteradamente procurado por representantes dos Estados Unidos (EUA), União Europeia (UE) e Ásia. “O Brasil é absolutamente atrativo para investidores nacionais e internacionais, em termos de transição energética. Mas essa trajetória precisa estar balizada na sustentabilidade no seu tripé clássico. Acima de tudo no compromisso social que a mineração precisa ter. Precisamos, por exemplo, buscar a melhor solução para a repactuação de Mariana (rompimento da barragem da Vale em Minas Gerais), uma questão que o setor precisamos superar”, acrescentou. Concluindo, Bittencourt disse que o Brasil não deve ser apenas uma referência em reservas minerais, mas também em produção mineral.
Abertura (da esq.p/dir.): Viviane Basso, Ana Paula Bittencourt, Miguel Nery, Thiago Lofiego e João Pieroni
Fotos: ITM