Considerado um dos principais produtores mundiais de grãos, o Brasil figura como quarto maior consumidor de fertilizantes do planeta e, apesar dessa condição, importa cerca de 90% de um insumo fundamental para o agronegócio: o cloreto de potássio (KCl). Entretanto, um projeto da empresa Potássio do Brasil, que tem entre seus principais acionistas o banco canadense Forbes & Manhatann, está prestes a reverter esse quadro. Com investimentos estimados em US$ 1,8 bilhão, ela planeja produzir 2 milhões t/ano de KCl no município de Autazes (AM), localizado a 120 km de Manaus.
A empresa já concluiu as pesquisas e sondagens na região, bem como os estudos preliminares de engenharia e de viabilidade econômica do projeto. “Vamos completar os estudos de impacto ambiental ainda este ano para entrar com o pedido de licença prévia em 2015 e iniciar a construção da planta em 2016”, afirma Hélio Diniz, diretor de operações da Potássio do Brasil.
Paralelamente, a empresa prossegue com o detalhamento de engenharia e dos estudos de viabilidade, mantendo a meta de iniciar as operações em 2018, já que a implantação do projeto demandará dois anos de trabalho. As projeções são otimistas, uma vez que as sondagens, contratadas junto à alemã Ercosplan, apontam para uma reserva de 725 milhões t de minério, com 31,4% de KCl. Os levantamentos de campo, que envolveram 39,54 m de perfurações distribuídas em 34 furos de até 4 m de diâmetro, conferem à mina uma vida útil de 30 anos, com uma produção de 2 milhões t/ano de KCl.
Custos atrativos
Segundo Diniz, a lavra será em sistema convencional de mina subterrânea, por câmaras e pilares. “Como o minério está disposto em uma profundidade rasa, entre 680 m e 840 m abaixo do nível do solo, teremos menos custos com shaft e ventilação que outros projetos de extração de potássio em operação no Brasil”, ele comemora. A formação geológica contribui para a atratividade do projeto, uma vez que o corpo mineral se estende por uma área de 18 km por 12 km, contando com espessura variável de 2 a4 m. Mas este não é o único fator a alimentar o otimismo dos investidores.
Afinal, a mina fica próxima ao Linhão de Tucuruí e ao Gasoduto Urucu-Manaus, o que garante o abastecimento de energia a custos competitivos, e conta com uma logística privilegiada para escoar a produção aos seus principais mercados. “Os estudos preliminares indicam um opex de US$ 75/t, o que nos confere uma margem fantástica considerando que o preço FOB do produto está cotado em cerca de US$ 400/t.”
Os ganhos logísticos se devem ao fato de Autazes ficar na rota da Hidrovia do rio Madeira, por onde escoa a produção de soja do Cerrado brasileiro em direção ao mercado internacional. “Vamos vender o KCl na boca da mina, proporcionando uma redução de US$ 112/t no custo de transporte em comparação com o produto importado da Rússia ou do Canadá, que chega ao Centro-Oeste do país com um acréscimo de US$ 209/t, em função do frete.”
A expectativa é que os mesmos navios tipo Panamax que adentram a hidrovia a montante, para retirar a soja, parem no porto de Autazes para o carregamernto de KCl destinado aos agricultores e produtores de fertilizantes do Cerrado brasileiro. Segundo os cálculos do executivo, a região consome cerca de 4 milhões t/ano de cloreto de potássio, o equivalente à metade do volume importado pelo país.
Tecnologia de operação
Hélio Diniz explica que a lavra será por sistema mecanizado, com o emprego de mineradores contínuos, também conhecidos no setor como “marieta”. O sistema de beneficiamento, por sua vez, será por lixiviação a quente (hot leach), diferentemente do sistema por flotação, utilizado nas plantas de produção de KCl em operação do Brasil. “Trata-se de uma tecnologia consagrada mundialmente a estamos considerando nos estudos preliminares porque, apesar de consumir mais energia, ela proporciona maior recuperação no processo, próxima de 100%.”
As preocupações com a sustentabilidade também figuram como uma marca no desenvolvimento do projeto, que contempla a adoção de tecnologia backfill, com a utilização dos rejeitos do processo para enchimento da cava. “Esse material, uma mistura de argila e sal (NaCl), ficará armazenado temporariamente em uma barragem de rejeitos, mas no prazo de cinco anos de operação não teremos nada impactando o meio ambiente, pois todo ele terá retornado para a cava.”
O licenciamento da barragem de rejeitos já se encontra em curso e, com a adoção dessa tecnologia, Diniz ressalta que a emprega ganha segurança e rapidez no avanço da lavra, devido à maior estabilidade da estrutura. A empresa também está desenvolvendo a engenharia financeira para a implantação do projeto, que deverá contar com 40% de recursos aportados pelos acionistas e com 60% em financiamentos. Entretanto, pelo potencial da reserva e por outras descobertas recentes da mineradora, os investimentos não devem ficar restritos aos valores previstos inicialmente (veja quadro abaixo).
Projetos na Bacia do Amazonas
Pelas estimativas da Potássio do Brasil, o consumo nacional de cloreto de potássio (KCl) deve atingir a marca de 15 milhões t/ano em 2025, ajudando a consolidar o país como “celeiro agrícola” do planeta. Considerando o valor estratégico desse insumo, a produção de Autazes deverá corresponder a pouco mais de 13% da demanda brasileira em uma década. Outros projetos da mineradora, entretanto, podem se integrar aos esforços de autossuficiência na produção de KCl.
Segundo Hélio Diniz, outras descobertas da empresa nos municípios amazonenses de Itapiranga, Novo Remanso, Itacoatiara, Fazendinha e Arari apontam que o país teria a quarta maior reserva do minério no mundo. “Em uma geração, essa região pode se equiparar à de Saskatchewan, no Canadá, e dos Urais, na Rússia, pois apresenta geologia similar e, naqueles países, contamos com até 20 minas operando uma ao lado da outra.”
A mineradora detém 261 licenças de exploração e 54 pedidos de exploração em uma área de 25,6 km2 ao longo de 400 km da Bacia do Amazonas. Somente em Fazendinha e Arari, as primeiras sondagens apontam para volume total de reservas de 1 bilhão de t de minério, valor ainda sujeito a confirmação mediante o avanço das pesquisas.
Além da Potássio do Brasil, outras mineradoras avançam em seus projetos de prospecção do minério no país, como a MBaC e Rio Verde. Com isso, em poucas décadas o país poderá ingressar no seleto grupo dos grandes produtores mundiais de KCl, posição condizente com a de quem consome quase um quinto da produção global desse fertilizante.