Por Tébis Oliveira (*)
Já caminhando para o final do primeiro semestre do ano, fomos transportados de volta não só ao primeiro trimestre como a uma década atrás. Foi quando os dados do IBGE sobre o PIB do Brasil revelaram que a produção da indústria extrativa recuou 6,3%, entre janeiro e março, em comparação ao período de outubro a dezembro de 2018. Era para ter crescido 3,2%. Não cresceu e também é o pior resultado desde 2008. Nesse ano, nosso PIB desceu a ladeira em razão de uma crise financeira global. Em 2019, foi mesmo por conta da mineração.
Noves fora – se é que alguém ainda lembra dessa regra matemática – as figuras de linguagem usadas, o texto é uma hard news. Ou seja, uma notícia objetiva sobre um fato relevante da economia brasileira. Há outras hard news sobre a mineração nos exemplos a seguir, para o bem e para o mal.
Para o bem: “Vale reserva R$ 1,9 bilhão para descomissionar 9 barragens de rejeito”. “S11D já exportou US$ 1,45 bilhão de fevereiro a maio de 2019”. “Mining Hub divulga primeiros projetos de startups para mineração”. “CBPM faz primeira licitação de exploração mineral em três anos”. “Geólogo JC Cavalcanti lança projeto de minério de ferro da Cia.Vale do Paramirim”. “SGB (CPRM) divulga estudo sobre setor mineral de Rondônia”. “Volta da Samarco vai render R$ 2,3 milhões mensais para Mariana”. “RS tem projetos de quase R$ 2 bilhões para a mineração”.
Para o mal: “Justiça determina 6ª paralisação de Onça Puma”. “Comissão de Meio Ambiente do Senado quer tornar imprescritíveis os crimes ambientais de mineradoras”. Moradores do Pindaí temem construção de barragem de rejeitos da Bamin”. “Sama demite 400 funcionários”. “CPI de Brumadinho deve indiciar até 15 diretores e funcionários da Vale e da Tüv Süd”. “Justiça manda parar mina de Brucutu” (fev/19). “Justiça libera retorno parcial de Brucutu” (abr/19). “Justiça manda parar Brucutu novamente” (mai/19).
Não precisa ser nenhum alienígena para abduzir do paralelo entre essas notícias a impressão de que a mineração está enredada em um “caleidoscópio sem lógica”, como diz a música dos Paralamas. Entre a resiliência de avançar e o recuo forçado à estaca zero há uma enorme energia despendida. Resta saber, se ela servirá à construção de algo novo. Ou à destruição do que existe.
(junho-2019)
(*) Tébis Oliveira é Editora de Novos Projetos, da revista In The Mine
tebis@inthemine.com.br