A DIALÉTICA DA MINERAÇÃO
O conceito de dialética, palavra de origem grega – διαλεκτική(τέχνη) –, foi objeto de correntes de pensamento diversas e aplicado à economia pelo filósofo alemão Karl Marx em relação ao sistema capita – lista. Para Marx, assim como os elementos básicos da dialética – tese, antítese e síntese –, o capitalismo, ao concentrar o capital e os meios de produção nas mãos de uma minoria (tese), carregava em si sua própria contradição (antítese).
Seria, então, inevitável que o proletariado se sublevasse contra a expropriação de seu único recurso, a força de trabalho, e sendo maioria, se apropriasse dos meios de produção (síntese). Hoje, sabemos que, exceto por algumas experiências mal sucedidas, a derrocada do capitalismo não aconteceu. A contradição do sistema, contrariamente às previsões de Marx, em lugar de inverter sua pirâmide econômica, construiu pontes entre classes sociais, criando um movimento cíclico de permuta, às vezes ascendente, às vezes descendente.
Pensei na remota aula de história ao concluir esta terceira edição do Anuário Brasileiro de Meio Ambiente em Mineração. Por razões obscuras de equivalência, conclui que, assim como o capitalismo de Marx, a mineração tem sua própria dialética. A contradição que a tornaria impraticável, em médio prazo, é a de degradar o meio ambiente para extrair seu produto. A cada ano, embora acidentes ambientais e problemas sociais ocorram, vejo que a mineração, como o capitalismo, fez outra síntese de sua antítese.
A cartilha da sustentabilidade integra os programas de gestão das mineradoras como confirmam as fichas ambientais e cases publicados nesta edição. De outro lado, o “proletariado” não se sublevou tampouco. Acumula cada vez mais TVs de LED, celulares, IPads, Iphones, ITouchs e que tais. Como já disse João Cabral de Melo Neto, citado no MineGaleria, toda palavra “em estado de palavra” é “mineral”. A humanidade, em seu estágio atual, também o é. Cada vez mais.
Tébis Oliveira – editora- tebis@inthemine.com.br