O Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) divulgou nesta 5ª feira (20/10) dados inéditos sobre o desempenho da indústria da mineração no 3º trimestre de 2022 (3T22). Os resultados do 3T22 são, no geral, superiores aos do 2º trimestre (2T22), mas abaixo dos registrados no 3º trimestre do ano passado (3T21).
Na comparação entre o 3T22 e o 2T22 o faturamento apresenta elevação de 33%, de R$ 57 bilhões para R$ 75,8 bilhões. Mas, na comparação entre o 3T22 e o 3T21, o IBRAM informa que houve declínio no faturamento: de R$ 108,7 bilhões para R$ 75,8 bilhões (-30%). Nesse período de comparação houve destaque para as quedas nos preços de commodities – principalmente do minério de ferro, que é líder em produção e em exportação entre os minérios.
A produção mineral brasileira cresceu 3% em toneladas no 3T22 na comparação com igual período de 2021 (3T21): passou de 355 milhões para 365 milhões de toneladas. Este valor é uma estimativa do IBRAM, em razão de a Agência Nacional de Mineração (ANM) ainda não ter divulgado os dados oficiais.
Segundo o diretor-presidente do IBRAM, Raul Jungmann, o desempenho do setor no 3T22 representa uma evolução em relação ao 2º trimestre, porém, sinaliza que o fechamento do ano será aquém dos resultados de 2021. “É um setor historicamente cíclico, sazonal, que sofre influências de diversas fontes. Ainda assim, mantém posição fundamental para a prosperidade econômica do Brasil, ao proporcionar oportunidades de emprego e arrecadação de tributos e encargos de forma expressiva” – R$ 26,1 bilhões de arrecadação de tributos e encargos no 3T22.
A redução da produção e da demanda de aço na China é um dos fatores que influencia o preço do minério de ferro e, consequentemente, o desempenho da mineração brasileira em termos de produção e exportação. Restrições à produção industrial na China em razão da covid-19, fenômenos climáticos, como tufões e chuvas intensas, também influenciam o mercado e a produção de aço naquele país, principal consumidor de minério de ferro brasileiro – entre outros minérios. As consequências do conflito na Ucrânia também estão prejudicando os mercados, acrescenta o IBRAM, com reduções na oferta de minério e crise de energia reduzindo a produção de aço na Europa.
Investimentos no Brasil
Raul Jungmann também destaca que no período 2022-2026 a indústria da mineração irá investir US$ 40 bilhões no Brasil, sendo cerca de US$ 4 bilhões em investimentos socioambientais. “É um imenso volume de capital, que poderia ser muito maior, se o Brasil contasse com instrumentos de financiamento da atividade mineral, como mantém para outros setores igualmente importantes, como o agronegócio”, afirma. Em termos de empregos, de janeiro a agosto o setor criou mais 5,6 mil vagas, totalizando 203,8 mil vagas diretas, segundo dados oficiais (Novo CAGED). De janeiro de 2021 a agosto de 2022 são 18.313 vagas criadas.
Faturamento
Em termos de faturamento, o minério de ferro representou, no 3T22, 64% do faturamento total da indústria da mineração. O desempenho de faturamento desse minério apresentou queda de 43%, sendo R$ 48,2 bilhões no 3T22 e R$ 85,1 bilhões no 3T21. Na comparação com o 2T22 o faturamento cresceu 35%. Importante observar que o preço médio desse minério apresentou queda de 37,3% no 3T22 na comparação com o 3T21.
O faturamento relacionado ao ouro no 3T22 caiu 4%. Foi de R$ 6,4 bilhões no 3T21 e de R$ 6,2 bilhões no 3T22 (na comparação com o 2T22 o faturamento cresceu 20%). O ouro representou 8% do faturamento da indústria mineral no 3T22. O preço médio do ouro apresentou queda de 3,5% no 3T22 na comparação com o 3T21.
O cobre teve queda de 13% no faturamento. Ele baixou de R$ 4,6 bilhões no 3T21 para R$ 4 bilhões no 3T22 (na comparação com o 2T22 o faturamento cresceu 39%). O cobre respondeu por 5% do faturamento total no 3T22. O preço médio do cobre apresentou queda de 19,3% no 3T22 na comparação com o 3T21.
Comparativamento ao 3T21, calcário dolomítico (35%), bauxita (51%) e granito (46%) apresentaram altas expressivas em faturamento no 3T22: R$ 3,2 bilhões; R$ 1,8 bilhão; R$ 1,5 bilhão, respectivamente.
MG e PA apresentam queda; GO teve crescimento
Os principais estados mineradores, Minas Gerais e Pará, observaram queda no faturamento. Ela pode ser justificada pelas reduções de preços das commodities metálicas, principalmente.
MG registrou faturamento de R$ 47,8 bilhões no 3T21 e de R$ 29,7 bilhões no 3T22, uma redução de 38%; o PA registrou R$ 47,2 bilhões no 3T21 e R$ 29,7 bilhões no 3T22, queda de 37%. No 3T22 MG e PA responderam, cada um, por 39% da produção mineral nacional. Na comparação entre o 3T22 e o 2T22, MG apresentou crescimento de 19% no faturamento e PA de 60%. O Pará teve aumento de 20% nas suas exportações em relação ao 2T22, enquanto MG teve queda de 12%.
Goiás registrou crescimento no faturamento total de 30%. Passou de R$ 2,2 bilhões no 3T21 para R$ 2,9 bilhões no 3T22. GO respondeu por 4% da produção mineral brasileira no 3T22. Na comparação entre o 3T22 e o 2T22, GO apresentou crescimento de 74% no faturamento. O aumento no faturamento do estado pode ser atribuído ao aumento no faturamento do calcário dolomítico e fosfato, pois o estado é um dos maiores produtores destas substâncias. Goiás também é importante produtor de níquel, nióbio, ouro e cobre.
A Bahia registrou faturamento de R$ 2,6 bilhões no 3T21 e 3% a menos no 3T22 (R$ 2,5 bilhões) – o estado respondeu por 3% da produção mineral brasileira no 3T22. Na comparação entre o 3T22 e o 2T22, a BA apresentou queda de 14% no faturamento.
São Paulo registrou aumento de 20% no faturamento no 3T22 (R$ 2,2 bilhões), na comparação com o 3T21, principalmente em relação à produção de agregados para a construção civil e granito, sendo que o estado também é importante produtor de água mineral e fosfato; em relação ao 2T22 o aumento no faturamento foi de 44%.
Mato Grosso registrou aumento de 25% no faturamento no 3T22 (R$ 2,1 bilhões), na comparação com o 3T21, muito em razão da produção de ouro e calcário dolomítico, este muito usado na correção de solos; em relação ao 2T22 o aumento foi de 16%. SP e MT respondem, cada um, por 3% da produção mineral brasileira.
Exportações declinam e importações aumentam
O saldo mineral, que é a diferença entre exportações e importações de minérios, teve queda no 3T22 em relação ao 3T21: 56,40% menor, em dólar; as exportações declinaram 36,8% e as importações cresceram 86,7%. O saldo mineral (US$ 6,8 bilhões) equivale a 51% do saldo Brasil (US$ 13,4 bilhões) no 3T22. É um resultado que representa evolução em relação ao 2T22, já que naquele período a equivalência se situava na casa dos 34%. Porém, representa uma queda em relação ao 3T21, quando ele equivalia a 81% do saldo Brasil. Outro fator a ser considerado para calcular essa equivalência é a queda de 31,4% no saldo comercial brasileiro no 3T22, que totalizou US$ 13,4 bilhões (era US$ 19,5 bilhões no 3T21).
Em relação ao 3T21, o Brasil faturou menos nas exportações minerais – pela queda nos preços das commodities minerais –, porém, exportou 1,3% a mais em toneladas de minérios no 3T22: 105 milhões. Assim, as exportações de minérios totalizaram US$ 11,6 bilhões no 3T22, 36,8% abaixo do total no 3T21 (US$ 18,4 bilhões e 103,7 milhões de toneladas). As exportações ficaram estáveis, em dólar, em relação ao 2T22 (+0,4%).
No 3T22 o minério de ferro foi responsável por 70,5% das exportações, em dólar; ouro, cobre e nióbio foram responsáveis por 11%, 7% e 4,3%, respectivamente.
As exportações de minério de ferro no 3T22 aumentaram 1,5% em toneladas, de 100 milhões para 101,5 milhões de toneladas, porém, declinaram em dólar: de US$ 14,9 bilhões no 3T21 para US$ 8,2 bilhões no 3T22, uma queda de 44,7%. Na comparação entre o 3T22 e o 2º trimestre (2T22), o país exportou mais 23,3% em toneladas de minério de ferro, com declínio de 3,2% em dólar.
No 3T22 os países que mais compraram minério de ferro do Brasil foram: China 72,2%; Malásia 5,9%; Japão 3,1%; Barein 3,1%; Omã 2,5%.
As exportações de ouro no 3T22 caíram 4% em toneladas e -4,5% em dólar. No 3T21 totalizaram US$ 1,3 bilhão para a venda de 27 toneladas; no 3T22 os dados são: US$ 1,28 bilhão e 25,9 toneladas. No 3T22 os países que mais compraram ouro semimanufaturado do Brasil foram: Canadá 36,4%; Índia 18,5%; Reino Unido 15,7%; Suíça 12,1%; Emirados Árabes Unidos 4,5%; Itália 3,2%. Na comparação entre o 3T22 e o 2T22, o país exportou mais 20,2% em toneladas de ouro, com aumento de 10,4% em dólar.
As exportações de cobre no 3T22 cresceram 3,2% em toneladas, mas declinaram 12% em dólar: de US$ 938,5 milhões (320,9 milhões de toneladas) no 3T21 para US$ 825,9 milhões (331,1 milhões de toneladas) no 3T22. No 3T22 os países que mais compraram cobre do Brasil foram: China 20,3%; Alemanha 17,8%; Suécia 15,6%; Polônia 13,8%; Bulgária 11,2%; Finlândia 6,8%; Espanha 6,6%. Na comparação entre o 3T22 e o 2T22, o país exportou mais 75,6% em toneladas de cobre, com aumento de 47,8% em dólar.
As exportações de caulim se destacaram positivamente, crescendo tanto em toneladas (38,5%) quanto em dólar (54%): no 3T21 totalizaram US$ 28,1 milhões para a venda de 221 milhões de toneladas; no 3T22 totalizaram US$ 43,3 milhões para a venda de 306 milhões de toneladas. No 3T22 os países que mais compraram caulim do Brasil foram: Bélgica 36,1%; Canadá 22,2%; Estados Unidos 18,6%; Itália 8,5%; China 4,3%; Espanha 3,0%; Egito 2,0%. Na comparação entre o 3T22 e o 2T22, o país exportou mais 0,6% em toneladas de caulim, com aumento de 3,7% em dólar.
Importações em alta
Em relação às importações, o país gastou US$ 4,8 bilhões para comprar cerca de 9,7 milhões de toneladas no 3T22. No 3T21 havia gasto US$ 2,6 bilhões para comprar 12,1 milhões de toneladas. Assim, no 3T22 a importação em toneladas foi 20,5% menor, mas o crescimento do gasto em dólar foi de 86,7%. Na comparação com o 2T22, o país reduziu as importações: em cerca de 23% em dólar e em toneladas.
No 3T22 o Brasil observou crescimentos expressivos, em dólar, na importação de carvão mineral (65,1%), potássio (133%), enxofre (112,1%) e rocha fosfática (80,7%). Mas, em toneladas, houve declínio nas compras desses minérios, à exceção do enxofre, cujas compras foram maiores, tanto em dólar quanto em toneladas, na comparação com o 3T21:
- carvão mineral: responde por 24,3% das importações de minerais no 3T22. O Brasil comprou 5,6 bilhões de toneladas por US$ 693,3 milhões no 3T21; no 3T22 comprou 3,78 bilhões de toneladas (-32,5%) por US$ 1,14 bilhão (65,1%). Os países que mais venderam carvão ao Brasil no 3T22 foram: Estados Unidos 37,0%; Austrália 31,7%; Colômbia 19,0%; Rússia 7,4%;
- potássio: responde por 62,1% das importações de minerais no 3T22. O país comprou 4,15 bilhões de toneladas por US$ 1,25 bilhão no 3T21; no 3T22 comprou 3,4 bilhões de toneladas (-17,7%) por US$ 2,92 bilhões (133%). Os países que mais venderam potássio ao Brasil no 3T22 foram: Canadá 47,3%; Rússia 19,8%; Alemanha 11,7%; Israel 11,8%;
- enxofre: responde por 5% das importações de minerais no 3T22. As compras de 625,1 milhões de toneladas no 3T21 custaram US$ 110,4 milhões; no 3T22 o país comprou 627,11 milhões de toneladas (+0,3%) por US$ 234,3 milhões (112,1%). Os países que mais venderam enxofre ao Brasil no 3T22 foram: Estados Unidos 32,6%; Cazaquistão 19,8%; Emirados Árabes Unidos 12,6%; Canadá 10,8%; Turcomenistão 4,0%;
- rocha fosfática: responde por 1,7% das importações de minerais no 3T22. O Brasil comprou 558,8 milhões de toneladas ao custo de US$ 44,5 milhões no 3T21; no 3T22 comprou 484,3 milhões de toneladas (-13,3%) ao custo de US$ 80,5 milhões (80,7%). Os países que mais venderam rocha fosfática ao Brasil no 3T22 foram: Peru 39,5%; Marrocos 19,5%; Egito 14,5%; Jordânia 10,2%; Argélia 7,4%;
- pedras e revestimentos: responde por 0,2% das importações de minerais no 3T22. O Brasil comprou US$$ 7,6 milhões no 3T21; no 3T22 comprou US$ 8,3 milhões (8,9%). Os países que mais venderam ao Brasil no 3T22 foram Turquia 23,5%; México 22,9%; Espanha 15,2%; Itália 13,8%; China 5,4%; Egito 4,1%.
As importações de cobre (0,5% das importações minerais) se destacaram pelas quedas em dólar e em toneladas. No 3T21 o país importou 80,5 milhões de toneladas ao custo de US$ 146,7 milhões; no 3T22 foram compradas 14,5 milhões de toneladas (-82%) ao custo de US$ 24,3 milhões (-83,4%).
Na comparação entre o 3T22 e o 2T22 houve variações, em dólar: carvão -46,1%; cobre -69%; enxofre 57,5%; potássio -13,6%; rocha fosfática -3,2%; pedras e revestimento -22,1%.
Mineradoras recolhem mais tributos e CFEM
A indústria da mineração recolheu R$ 26,1 bilhões em tributos e encargos no 3T22. Na comparação com o 2T22 houve aumento de 33%, passando de R$ 19,7 bilhões no 2T22 para R$ 26,1 bilhões no 3T22 – este total inclui o que foi recolhido em termos de Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM). Na comparação com o 3T21 (R$ 37,5 bilhões) houve queda de 30,3%.
O recolhimento da CFEM no 3T22 (R$ 1,96 bilhões) apresentou elevação de 8,8% na comparação com o 2T22, mas queda de 40,5% na comparação com o 3T21, quando foram arrecadados R$ 3,3 bilhões.
O recolhimento de CFEM sobre minério de ferro representou 85% do total nacional no 3T22, com um valor e R$ 1,66 bilhão, 43,8% a menos do que no 3T21. A CFEM referente ao ouro (4,8% do total nacional) foi de R$ 93 milhões no 3T22 (-4,6%). A CFEM sobre cobre (4,1 do total nacional) foi de R$ 80 milhões no 3T22 (-12,3%). A CFEM sobre bauxita (2,6% do total nacional) foi de R$ 50 milhões no 3T22 (+44%).
O recolhimento de CFEM por estado apresentou variação negativa nos principais estados mineradores. Em Minas Gerais o valor foi de R$ 837 milhões no 3T22, ou seja, 46,8% a menos do que no 3T21; no Pará foi de R$ 833 milhões (-44,2%). Na Bahia o valor de CFEM foi de R$ 44 milhões no 3T22 (-17,8%). Em Goiás o recolhimento aumentou: R$ 50 milhões, ou seja, 22% a mais no 3T22; no Mato Grosso também foi positivo: R$ 32 milhões, ou seja, 14,1% a mais.
Apesar das quedas na comparação entre o 3T22 e o 3T21, houve crescimento na comparação com o 2T22 em MG e no PA: 5,2% e 42,5%, respectivamente. GO apresentou elevação de 56,7%; MT crescimento de 33,5% e a Bahia queda de 19%.
No 3T22 os estados com mais municípios beneficiados pela CFEM, segundo a ANM, são: MG (502 municípios); SP (346 municípios); RS (213 municípios); SC (191 municípios); BA (182 municípios); PR (176 municípios); GO (142 municípios).
No 3T22 os 15 municípios que registraram maior arrecadação de CFEM são: Parauapebas – PA; Canaã dos Carajás – PA; Conceição do Mato Dentro – MG; Itabirito – MG; Mariana – MG; São Gonçalo do Rio Abaixo – MG; Itabira – MG; Congonhas – MG; Nova Lima – MG; Marabá – PA; Itatiaiuçu – MG; Ouro Preto – MG; Brumadinho – MG; Belo Vale – MG; Paracatu – MG. Desses, a maioria, 9 municípios, apresenta Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) superior ao IDH de seus respectivos estados.