“O setor mineral brasileiro: perspectivas públicas e privadas” foi o tema do painel de abertura do XI Simpósio Brasileiro de Exploração Mineral (SIMEXMIN), na manhã desta 2ª feira (20/05), em Ouro Preto. Fizeram parte da mesa o diretor do Departamento de Transferência e Tecnologia Mineral do Ministério de Minas e Energia, Rodrigo Cota; o diretor geral da Agência Nacional de Mineração, Mauro Henrique Moreira Sousa; o gerente geral de Exploração da Anglo American, Rodrigo Martins, e o geólogo e advogado Frederico Bedran de Oliveira.
O diretor do Ministério, Rodrigo Cota, iniciou a sua fala reforçando a importância da transição energética, tema desta edição do simpósio. “É um imperativo para a sobrevivência do ser humano. O que acontece agora no Rio Grande do Sul, já ocorreu antes, em maior ou menor escala. Em 2023 tivemos chuvas horríveis, com calor no inverno e chuva no verão”, lembrou.
Segundo ele, essa necessidade urgente abre também uma janela de oportunidades para o Brasil, decorrente do processo de eletrificação dos veículos, uma tendência global. “Precisamos das baterias para viabilizar a transição da fonte fóssil para eólica, ou solar. Algumas reviravoltas podem acontecer, mas no momento atual, a transição energética se faz com muitas baterias”, disse.
A boa notícia para o Brasil e para o mundo, de acordo com Cota, é que os minerais estratégicos são vitais para a fabricação destas baterias, e o país tem reservas de todos esses minerais. “Somos o 2º maior produtor de grafita, atrás da China, e 3º de terras raras e níquel, além de termos potencial para crescer no fornecimento de cobre e lítio. Como a China coloca restrições para exportação, nosso potencial de crescimento é grande. O Brasil pode se tornar um grande player no fornecimento destes materiais”.
Além do ótimo negócio proporcionado pela exportação de minério, Rodrigo Cota destaca outra janela importante: a indústria de processamento destes minerais. “A China controla todo esse processamento, e americanos e europeus não querem depender da indústria chinesa. Mas eles não têm todos esses minerais, nem energia limpa, e muito menos mão de obra competitiva. Nós temos energia limpa, minerais, mão de obra competitiva e capacidade p desenvolver o setor tecnológico”.
O presidente da ADIMB, Marcos André Gonçalves, (na foto ao alto em destaque), mediador do painel, perguntou aos presentes: diante do cenário atual, como evitar erros do passado e maximizar as oportunidades?
De acordo com o diretor geral da Agência Nacional de Mineração, Mauro Sousa, é preciso uma grande reflexão sobre o que somos e o que queremos ser. “Temos os elementos necessários: estabilidade política, regulação, matérias primas. Se faz necessária uma conjunção de esforços, que não pode estar dissociada da atuação do poder público”.
Há muito o que se fazer, nas palavras do advogado e geólogo Frederico Beldran. “São taxações a toda hora, dentro da necessidade de cada governo de arrecadar. A mineração precisa ser melhor tratada. Falta mais carinho e atenção pelo poder público.
E como se comunicar melhor? Essa é uma falha nossa, a gente vive falando isso para nós mesmos. Temos potencial, geologia favorável, estabilidade politica e conseguimos caminhar nesse ambiente. Nossa missão é repensar: o que esperamos daqui a dois anos, no próximo evento?”, indaga. Ele reforça a necessidade de união do setor, para se comunicar melhor e envolver as pessoas. “Precisamos trazer o governo para uma discussão adequada. Só assim poderemos reverter a falta de direção em que nos encontramos no momento”.
Para o diretor do Ministério das Minas e Energia, o Estado é complexo. “Está sempre sofrendo pressões de todos os lados, e boa parte delas não ficam públicas. Não aceitá-las às vezes é pior do que o contrário”. Ele diz que o papel do gestor publico é procurar ser objetivo, avaliar os prós e contras e trabalhar com a melhor informação disponível. “É um cenário muito incerto e erros serão cometidos. O importante é não ter medo de errar agora. Muitas vezes, a administração pública está sendo levada à paralisação diante das dúvidas. Para mim está claro que temos que aumentar a oferta dos minerais e trazer o processo pra cá”. O que mais o motiva é a necessidade de se fazer a transição energética. “O que acontece no Rio Grande do Sul não pode se repetir. Temos que ter coragem para enfrentar os riscos e aumentar a nossa oferta”, completou.
O segundo painel da manhã, com o tema “A produção e o potencial geológico de minerais estratégicos no Brasil”, foi apresentado pelo chefe de divisão de Geologia Econômica do Serviço Geológico do Brasil, Guilherme Ferreira da Silva. Ele iniciou sua fala dizendo que a exploração mineral talvez precise de uma disrupção. “Os suprimentos são limitados, as descobertas estão diminuindo, e cada vez se investe mais para a descoberta de menos depósitos minerais”.
Segundo ele, o conceito de matéria crítica pode variar de país para país, de acordo com a perspectiva de cada país. “Uma resolução de 2021, com a relação de minerais estratégicos do Brasil, tinha como objetivo exatamente definir o que era estratégico para nós. Aqui produzimos ferro, alumínio e ouro, por exemplo. Se tiver ferro e ouro, quase tudo é critico para boa parte do mundo. Por isso estamos bem posicionados. Temos uma legislação consolidada, que obviamente tem que ser aprimorada, além de matriz elétrica e mão de obra especializada. E ainda estamos formando muita gente boa. É um cenário totalmente favorável”, saudou.
E onde encontrar novos recursos? Ele lembrou que o Brasil é um produtor ativo de várias commodities minerais. “E o papel do Serviço Geológico do Brasil é estimular a atividade mineral. Temos um departamento exclusivamente dedicado a produzi conhecimento sobre recursos minerais, fornecendo informações geocientificas, análise de cenários e síntese de dados de exploração”, pontuou.