Tudo indica que há uma jazida de ametistas sobre a camada de ágatas que são exploradas atualmente na fronteira sudoeste do Rio Grande do Sul, na divisa com o Uruguai. É o que sustenta um estudo lançado esta semana pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM) em um evento no Geo Museu de Gramado.
A ametista produzida no Uruguai é o produto que mais agrega valor ao comércio de gemas, sendo exportada como peças marteladas, próprias para a lapidação, ou como geodos cortados ao meio. O estudo do SGB-CPRM conclui que a província gemológica de Los Catalanes, explorada no país vizinho, tem continuidade no Brasil.
O Rio Grande do Sul já explora jazimentos de ágata no Distrito Mineiro de Salto do Jacuí e possui depósitos de ametista localizados em Ametista do Sul, liderando a produção mundial desta gema. Os novos jazimentos indicados pela pesquisa estão situados na região de Santana do Livramento. Até o momento, a região gaúcha produz apenas ágatas, pedras de menor valor, já que não podem ser lapidadas como as ametistas, que têm maior valor agregado.
Perspectiva de criação de um polo de tratamento
A geóloga Magda Bergmann, responsável pelo estudo, afirma que do ponto de vista econômico é possível agregar a gema ametista à produção na região de Santana do Livramento, gerando um polo de tratamento dos materiais no local. Atualmente, a maior parte das gemas é exportada para países como a China. “O incentivo a uma cadeia produtiva local fomenta o comércio e o turismo de compras, duas atividades que já se destacam em Santana do Livramento”, afirma a pesquisadora. A exploração de ametistas tem aproveitamento quase total, pois até os geodos menos coloridos são usados como peças decorativas.
O levantamento geológico incluiu a descrição de três garimpos ativos e cinco garimpos inativos no Brasil, além do cadastro de 119 ocorrências minerais, das quais 86 foram descobertas pelos trabalhos do projeto e correspondem em sua maior parte a gemas em geodos. Os estudos realizados propõem um zoneamento das mineralizações e permitem afirmar que os garimpos produtores de ágata, no Brasil, têm uma grande chance de encontrar ametistas abaixo da zona onde ocorre a ágata, o que já foi constatado em um dos garimpos existentes.
Descoberta dos jazimentos
Os geólogos utilizaram técnicas de prospecção geofísica para realizar o estudo. O método do caminhamento elétrico permite separar rochas com diferente condutividade elétrica: enquanto as rochas duras e pouco porosas não alojam água e têm alta resistividade elétrica, as rochas porosas, que armazenam água, têm baixa resistividade e conduzem facilmente a corrente elétrica.
A pesquisa constatou que, tanto no Uruguai quanto no Brasil, as ágatas estão alojadas em uma camada de solo que é facilmente explorada com retroescavadeiras. Já as ametistas, até então só observadas no Uruguai, situam-se em uma laje de rocha dura, fresca e resistiva, que fica logo abaixo da camada de ágatas. Em território brasileiro, os mineradores interrompem a exploração assim que atingem essa camada mais dura, onde agora o estudo sustenta que esteja o jazimento de ametistas.
“Os perfis de condutividade elétrica permitem estimar a profundidade de cada uma das camadas, e fornecem aos mineradores os pontos mais rasos para averiguar a presença das ametistas na laje resistiva”, explica a geóloga Magda.
O Modelo Prospectivo para Ametista e Ágata na Fronteira Sudoeste do Rio Grande do Sul é fruto da Ação Avaliação dos Recursos Minerais do Programa Geologia, Mineração e Transformação Mineral do governo federal, coordenado pelo Ministério de Minas e Energia.
A ação consiste em um conjunto de projetos que visam estimular a pesquisa e a produção mineral brasileira, com foco adicional no suprimento de matérias primas essenciais para o desenvolvimento da infraestrutura e do agronegócio no Brasil. A pesquisa está disponível no banco de dados público do SGB-CPRM, o Rigeo.