O Serviço Geológico do Brasil (CPRM) fez o lançamento, nessa terça-feira (30), de três mapas geofísicos — magnetométrico, radiométrico e gravimétrico — da Província Borborema, em transmissão ao vivo pelo YouTube e Facebook. A apresentação foi feita pelo pesquisador em geociências Roberto Gusmão de Oliveira. E reuniu estudantes de geociências, professores universitários e profissionais da área.
A palestra de Gusmão define bem o objetivo de seu trabalho. “Arcabouço Geofísico da Província Borborema: Implicações para o Entendimento de sua Evolução Geotectônica”. Além dos mapas geofísicos, ele condensou os dados da região levantados pela CPRM ao longo de anos de estudo. A fim de discutir a respeito da compartimentação tectônica da província e suas grandes estruturas, com base na geofísica. “Sinto-me muito honrado por ter sido convidado para apresentar essa palestra sobre a Província Borborema, área onde fiz meus primeiros estudos e trabalhos e região onde me formei”.
Província Borborema compreende 7 estados da Região Nordeste
A Província Borborema abrange a totalidade dos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e parte dos estados de Sergipe e Bahia. Sendo limitada a sul pelo cráton São Francisco, a oeste pela Bacia do Parnaíba e a leste pelo Oceano Atlântico. A atual demarcação da região é feita em três grandes subprovíncias: Norte, Central (Transversal) e Sul.
Segundo o pesquisador, a província é um mosaico complexo de rochas formadas, sobretudo, por sequências metassedimentares que circundam núcleos paleoproterozoicos arqueanos. Tendo sua estruturação atual formada na Orogênese Brasiliana. “No entendimento do estudo da província, é importante compreender que sua articulação atual foi desenhada durante a Orogênese Brasiliana. E a formação do Supercontinente Gondwana Oeste. Portanto, o estudo da região, por sua posição estratégica entre os crátons Congo São Francisco e Oeste África, é chave no entendimento da formação desse supercontinente”.
Segundo o geofísico, os estudos na região começaram há mais de 60 anos e a discussão de sua evolução geotectônica atualmente envolve dois diferentes modelos: i) dispersão e aglutinação de terrenos tectonoestratigráficos durante o Neoproterozoico. E b) existência de terrenos de orógenos acrescionários paleoproterozoicos que foram retrabalhados no Neoproterozoico em condições intracontinental. Contudo, há consenso de que sua evolução neoproterozoica ocorreu em dois estágios colisionais. Um entre 620 e 600 Ma e outro entre 600 e 580 Ma.
Tese do Prof. Caxito é a mais recente sobre a evolução geotectônica da região
Gusmão afirmou, no entanto, que o modelo mais recente publicado sobre a evolução geotectônica da região é datado deste ano. “A proposta do Prof. Fabrício de Andrade Caxito é baseada em um assunto bastante discutido atualmente. A descratonização, segundo a qual a Província Borborema, na realidade, faria parte de um grande continente, que englobaria o Cráton São Francisco.”
De acordo com a explicação do pesquisador, ao longo do período Neoproterozoico, o bloco teria se fragmentado. E suas partes teriam sido separadas formando oceanos, para em seguida os oceanos serem fechados nos processos de colisão com os crátons São Francisco e Oeste África. “É interessante, é uma novidade que obviamente demandará estudo de dados paleomagnéticos para entender esses movimentos dos blocos”.
Sobre os três mapas com base em dados geofísicos, Gusmão enfatizou a grande quantidade de recursos disponibilizados pela CPRM. Ao longo dos 4 anos de estudos e projetos aerogeofísicos da empresa na região. “Foi um grande avanço em relação aos trabalhos que havia anteriormente. Já que os projetos da CPRM trabalharam com uma malha de dados mais fechados.
Ou seja, linhas de voo com menor espaçamento e altura de voo menor, gerando uma quantidade de dados. O que é fundamental para os trabalhos de geologia e de pesquisa mineral não só no Nordeste, mas em todo o Brasil”. O geofísico destacou o trabalho de Raphael Correa, também pesquisador da CPRM, na junção de dados e nivelamento dos projetos para a construção dos mapas.
Mapa da Anomalia Aeromagnetométrica
No que diz respeito ao Mapa da Anomalia Aeromagnetométrica, uma das mais importantes contribuições dos dados magnetométricos é sua potencialidade para desvendar a terceira dimensão dos dados geológicos. Feições geológicas como corpos e estruturas podem ser inferidas em profundidade por meio de interpretações e modelagens. As zonas de cisalhamentos são um dos objetos geológicos mais evidentes em mapas magnetométricos. E sua contribuição para a delimitação tridimensional de formações vulcânicas, intrusões de rochas básicas e de granitoides magnéticos é fundamental.
Destaca-se como uma das principais finalidades do uso de dados magnetométricos a identificação de corpos de minério, especialmente metálicos, como ferro, prata, cobre, chumbo, zinco, níquel, cobalto, vanádio e titânio. Também tem aplicações importantes na identificação de estruturas relacionadas com jazidas de petróleo e rochas enriquecidas em pedras preciosas, como diamantes e esmeraldas.
Mapa Radiométrico, de composição ternária RGB
O Mapa Radiométrico, de composição ternária RGB, é resultante de uma composição em falsa cor dos canais de potássio, tório e urânio, em que para cada radioelemento é atribuída uma cor: vermelha (R-red) para as rochas ricas em potássio, verde (G-green) para as rochas ricas em tório, e azul (B-blue) para as rochas ricas em urânio. Quando os três são altos, a soma das cores resulta na cor branca e quando os três são baixos, resulta na cor preta. Além de ser uma ferramenta para o mapeamento geológico, o mapa ternário pode ser utilizado para correlacionar e extrapolar informações geoquímicas, buscar novas áreas potenciais com base na assinatura de depósitos conhecidos, e estudos de fluxo térmico e calor radiogênico.
Mapa Gravimétrico da Anomalia Bouguer
O Mapa Gravimétrico da Anomalia Bouguer, por sua vez, é uma expressão geofísica da distribuição da massa das rochas de acordo com a variação de suas densidades. “Enquanto os outros mapas são resultados de levantamentos aerogeofisicos, esse resume compilações e levantamentos de dados de geofísica terrestre. Ele começou a ser preparado no meu trabalho de tese de doutorado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em 2008”, explicou Gusmão. Os dados gravimétricos demonstram como a massa das rochas está distribuída na litosfera e podem ser empregados na compreensão dos processos de fissão e colisão continental, deformação, granitogênese, localização de depósitos minerais e do arcabouço tectônico de bacias sedimentares. Podem também ser aplicados no entendimento dos processos isostáticos da litosfera.
“Podemos usar o mapa da Anomalia Bouguer para analisar a configuração geofísica das estruturas e eventos que definiram os limites externos da Província e considerar o efeito da presença da crosta oceânica a leste da Província Borborema”, argumentou o geofísico. De acordo com ele, a técnica usada para eliminar o efeito dessa crosta e do afinamento litosférico, consiste na aplicação de um filtro que remove comprimentos de onda de 300 km dos dados gravimétricos. “É um filtro de separação regional-residual. A remoção desse comprimento de onda nos dados de Anomalia Bourguer permitiu observar apenas o efeito causado pelas anomalias da crosta continental, removendo o da crosta oceânica adjacente”, continuou.
Atlas Aerogeofísicos da CPRM
Gusmão aproveitou a oportunidade para divulgar os Atlas Aerogeofísicos da CPRM, lançados entre o final do ano passado e o início deste ano. São mapas de 6 unidades federativas do Nordeste Brasileiro: Rio Grande do Norte, Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Bahia e Sergipe. “O objetivo destes atlas é favorecer e facilitar aos gestores de cada estado o acesso às imagens desses dados, segundo os limites da sua região de trabalho”, argumentou o pesquisador.
Ao final de sua apresentação, o pesquisador mostrou mais algumas dezenas de trabalhos, dissertações e teses com abordagem geofísica sobre a Província de Borborema, e fez um convite aos demais pesquisadores. “A geofísica é uma ferramenta fundamental para o entendimento do arcabouço geotectônico da província. Por isso, usem-na cada vez mais em seus trabalhos de investigação geológica.”
O PESQUISADOR — Roberto Gusmão de Oliveira possui graduação em Geologia pela Universidade Federal de Pernambuco (1987), Mestrado em Ciências (Geotectônica) pela Universidade de São Paulo (1998) e Doutorado em Geofísica pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2008). Trabalha com métodos geofísicos na CPRM desde 1987, com ênfase em Gravimetria, Magnetometria, Gamaespectrometria e Geotectônica.
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