COVID-19 E O FUTURO DA MINERAÇÃO

COVID-19 E O FUTURO DA MINERAÇÃO

(*) Por Eduardo Athayde

No início de março de 2020, o mundo da mineração se reuniu em Toronto, no Canadá, durante o Prospectors & Developers Association of Canada (PDAC), principal convenção anual de mineração que representa mais de 7.500 membros em todo o globo. O governo e as empresas brasileiras estavam lá. O PDAC [pdac.ca] já recebeu representantes de 135 países, sendo referência em inovação e sustentabilidade no setor e o principal evento internacional para a indústria da mineração. Naquele momento, a Covid-19 já estava sendo transmitida em eventos, aviões e aeroportos.

PDAC 2020Durante a convenção, o primeiro ministro do Canadá, Justin Trudeau, liderança internacional pelo desenvolvimento sustentável, atento a notícias da Covid-19 em Wuhan, na China, destacou o papel da indústria mineral na mudança para um futuro de baixo carbono, afirmando: “os minerais usados em tecnologias e materiais possibilitarão um crescimento limpo em diversos setores, como os de comunicação, transporte e energia”, sem poder prever que o mundo estava em rota de uma paralisação global sem precedentes na história da civilização.

Minerais e metais como cobalto, níquel, lítio, cobre, alumínio, prata e terras raras, usados em computadores, smartphones, veículos elétricos, painéis solares, turbinas eólicas e infraestruturas de energia renovável, além de outros usados em medicamentos, ajudam nas metas ambiciosas da economia sustentável, fazendo funcionar uma indústria essencial a um mundo que não pode parar.

Trudeau, que representa a visão das novas gerações, tem razão. Nessa era da “eco-nomia digital” em que vivemos, onde tudo parece estar ao alcance do toque dos dedos, as jazidas minerais que antes pareciam longínquas dos centros financeiros e das bolsas de valores, onde as decisões são tomadas – são, agora, pontos do planeta facilmente acessados. Novas plataformas tecnológicas, abastecidas com algoritmos e inteligência artificial, fornecem conectividades sem fio no interior das minas, alimentando dados que são transformados em inteligência para melhorar a eficiência, a produtividade e a segurança, reduzindo custos, riscos e desperdícios nas operações de mineração.

O Futuro do Trabalho na Mineração

Liderando mudanças, o PDAC realizou antes o Fórum de Sustentabilidade: O Futuro do Trabalho na Mineração, durante o World Economic Forum, em janeiro de 2020, discutindo como a natureza do trabalho mudará nos próximos 25 anos, avaliando saúde e segurança ambiental, avanços tecnológicos, relações entre empresas, comunidades e governos, e licença social para operar – sem imaginar que indivíduos contaminados com a Covid-19 já circulavam entre os 3.000 participantes de Davos, e sem atentar para algoritmos da inteligência artificial que já haviam enviado e-mails a organizações de saúde e companhias aéreas no dia 31 de dezembro, alertando para que evitassem a região de Wuhan, na China.

Com a súbita paralisação global e ratings financeiros abruptamente desestruturados, as commodities minerais impõem alertas às principais agências de risco internacionais, Standard & Poors, Moody’s e Fitch. “À medida que os países discutem como conter ou retardar a disseminação do vírus, esperamos que isso possa levar a interrupções operacionais nas operações de mineração. Isso aumenta um inerente risco negativo para nossas previsões de produção mineral em todo o mundo, caso essas interrupções sejam prolongadas”, disseram analistas da Fitch. Afetando a dimensão humana da economia, o vírus invoca “melhores práticas”.

Lançado em 2006 na Bolsa de Valores de Nova York e reunindo hoje mais de 2.300 signatários com um conjunto de ativos na ordem de US$ 85 trilhões, o Principles for Responsable Investment – PRI [unpri.org], focado em melhores práticas, busca respostas de curto prazo fornecendo a investidores mecanismos e formas de alinhamento à inteligência nova de gestão expressada pelos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS.

Inovando no ambiente digital e operando hoje em quarentena, a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), alinhou-se com o PDAC e conectou-se se à rede global, influenciando as empresas e entrando na mira de acionistas. Apoiada pelo WWI para incentivar a transferência de tecnologias 5.0 (big data, IoT e blockchain, cibersegurança, cloud, realidade aumentada) e adotar os ODS, realizou no final de 2019 o Fórum Internacional de Inovação e Sustentabilidade na Mineração, em parceria com a Agência Nacional de Mineração (ANM), o Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) e a Federação das Indústrias da Bahia (FIEB), reunindo em Salvador o PIB nacional da mineração. Durante as apresentações a CBPM, lançando o Startup Hub de Mineração da Bahia, enfatizou a importância estratégica da Ferrovia de Integração Oeste Leste – FIOL.

Ferrovia de Integração Oeste Leste – FIOL

Otimizando a logística e a economia de baixo carbono, a FIOL, com 1.527 km de extensão – que poderá vir a ser uma ferrovia inteligente, com cientistas de dados e seus algoritmos, tecnologias vestíveis, mobilidade autônoma, assistentes digitais e energia limpa – ligará o futuro porto de Ilhéus (no litoral baiano) ao entroncamento da Ferrovia Norte Sul, de Figueirópolis (Tocantins), interligando os estados de Tocantins, Maranhão, Goiás e Bahia e os portos de Ilhéus/BA e Itaqui/MA, reduzindo os custos de transporte de grãos, etanol e minérios com redução de emissões.

Nesses tempos sensíveis de mudanças bruscas da Covid-19, o IBRAM [ibram.org.br] divulgou vídeo institucional sobre o papel do setor mineral brasileiro: “A Mineração Está Com Você!” [youtu.be/3S1znnULweA], observando os cuidados que o momento requer e estimulando ações de produção da indústria, oficialmente considerada como essencial para a sociedade, evitando paralisações subsequentes em diferentes setores da cadeia produtiva.

Abatido por vírus e em lock-down global, o mundo se vê compelido a dar um “reboot” na forma de pensar e de viver, buscando entender a história do nosso futuro. Minerando dados, as startups, tracionadas pela força viral do futuro, pivotam, nos ensinando a tatear novos caminhos sem mapas nem manuais de instrução – é como pular da mineração 3.0 para a 5.0 e navegar em um novo universo de clientes, acionistas e investidores reinventados, trasladados e recalibrados.

Era do big data e da mineração 5.0

Na era do big data e da mineração 5.0, com contratos virtuais firmados em blockchain, garantindo segurança e transparência nas transações comerciais,eventuais alterações em projetos e documentos, e fluxo online de cadeias produtivas; as áreas mineradas passam a ter indicação geográfica (IG) controlada, facilitando o acesso de stakeholders, via smartphones, a valores de outros ativos – inclusive sociais, culturais, agrícolas, ambientais e turísticos – dos pontos do planeta (municípios) onde jazidas estão localizadas.

Enquanto o World Economic Forum [weforum.org], impactado pelaCovid-19, alerta para a mudança dos modelos globais na entrega devalor, Tom Butler, CEO do International Council of Mining and Metals –ICMM [icmm.com], chama atenção para a importância de consensos e rápidosaprendizados de “boas práticas” no enfrentamento da crise. “É improvável que seja a última epidemia global e precisaremos avaliar as lições aprendidas para garantir que estamos bem preparados para a próxima vez”, lembra o executivo.

(*) Eduardo Athayde, administrador, MBA, pesquisador e senior fellow doWorldwatch Institute focado em inovação, sustentabilidade e fundos deinvestimento, é investidor em startups e diretor do WWI Brasil (eduathayde@gmail.com

 

 

 

 

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