No Brasil e no mundo, a tragédia do rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais, nos anos de 2015 e 2019, respectivamente, resultaram na revisão de todo o arcabouço legal e, em consequência, fiscalizatório, que disciplina a construção, manutenção e monitoramento dessas estruturas de depósito de rejeitos da mineração. Mas não só.
Também as mineradoras, submetidas a uma nova legislação mais exigente e rigorosa, precisaram inventariar suas barragens e definir um cronograma para o descomissionamento das instalações construídas pelo método a montante, o mesmo daquelas que colapsaram. Em paralelo, passaram a buscar alternativas tanto para o aproveitamento dos rejeitos resultantes do processamento de minérios, quanto dos já depositados nos reservatórios ou em pilhas de estéril.
Esse movimento refletiu no mercado de fornecedores de produtos e serviços, caso dos fabricantes de equipamentos para sistemas de filtragem, uma tendência para o desaguamento dos rejeitos, com ganhos de recirculação de água, adoção do empilhamento do material descartado, em muito menor volume, a seco, e economia circular – aproveitamento desse descarte para a geração de novos produtos.
A integração dos sistemas de filtragem mudou o fluxograma convencional das plantas de beneficiamento mineral. Também surgiram novas rotas de processo, o que pareceria impensável há uma década. E, do ponto de vista da gestão de rejeitos, o novo padrão global – GISTM – definido pelo Conselho Internacional de Mineração e Metais (ICMM), em agosto de 2020, para implementação até agosto de 2023 ou 2025, conforme o nível de risco das barragens de cada mineradora, requereu ajustes que, nos casos mais extremos, implicaram em mudanças organizacionais.
É dessa outra face da cadeia de agentes de mineração – fabricantes, consultorias e empresas de engenharia – que tratamos neste Especial Rejeitos & Soluções. Trazemos a experiência da Ausenco Chile, que conduziu o processo de conformidade de barragens de rejeitos de grandes mineradoras de cobre, ouro e molibdênio, no país e também na Argentina, Peru e Canadá.
Em relação a novas rotas de processo, a Wave Nickel, subsidiária da New Wave International, que acaba de adquirir a Companhia Níquel Tocantins, localizada em Niquelândia (GO), da CBA (Companhia Brasileira de Alumínio), promete beneficiar o minério empregando a tecnologia de micro-ondas, ou seja, com a aplicação de ondas eletromagnéticas de alta frequência. Outra empresa do grupo – a Wave Aluminium – fechou um acordo com a Hydro para recuperar minérios de bauxita e outros dos rejeitos depositados na refinaria Alunorte, em Barcarena (PA).
Sobre os sistemas de filtragem, a FLSmidth, que possui mais de 300 filtros a disco ou horizontais de correia instalados no Brasil, fala dos conceitos técnicos, parâmetros, configurações e projetos que desenvolveu para o tratamento a seco de minérios e desaguamento de rejeitos.
Por sua vez, a SKIC Brasil, subsidiária da Sigdo Koppers Ingeniería y Construcción, que integra o grupo chileno Sigdo Koppers (SK), atualiza o projeto Capanema Umidade Natural, que a Vale está implantando nos municípios de Santa Bárbara, Ouro Preto e Itabirito, em Minas Gerais, para reativar a antiga Mina de Capanema, que operou entre 1982 a 2003. A nova configuração da mina, com processamento do minério extraído a umidade natural, que também elimina o uso de água e barragens, representa um novo marco tecnológico em projetos de mineração no Brasil.
BARRAGENS DE REJEITO DE CLASSE MUNDIAL
A CONSOLIDAÇÃO DOS SISTEMAS DE FILTRAGEM
PROCESSAMENTO A UMIDADE NATURAL
RECUPERAÇÃO DE MINÉRIOS ATRAVÉS DE MICRO-ONDAS