Em continuidade às edições anteriores da coluna Mine Geologia, iniciada pela questão da “Governança de programas de QAQC nas corporações do setor mineral” (edição 97) e da “Padronização de processos e procedimentos nos programas de QAQC” (edição 98), neste artigo serão indicadas as práticas para mensuração do nível de maturidade e atendimento de um Programa de QAQC.
Como uma das principais ferramentas de demonstração de credibilidade de projetos e operações mineiras recomendadas pelos códigos internacionais, CUCHIERATO (2022) recomenda que a empresa de mineração faça um diagnóstico para verificação da aderência às melhores práticas. A Figura 1 ilustra todos os elementos que devem estar contemplados no programa, de maneira a atingir níveis de excelência preconizados pelas diretrizes dos instrumentos padronizados de declaração de recursos minerais.
O Programa de QAQC eficaz é aquele que é ativo e permanente, com revisões e atualizações constantes do processo, permitindo que ações corretivas sejam tomadas em tempo real. Deve-se determinar quais metas de precisão e exatidão são desejáveis, de acordo com a fase do ciclo de vida em que o projeto se encontra.
As ferramentas de controle utilizadas em projetos de mineração são bons indicadores da maturidade do programa. O Quadro 1 organiza as ferramentas, parâmetros controlados, objetos avaliados, local de controle e taxa de inserção recomendada por lote analítico.
Para todos os parâmetros a serem controlados devem ser definidos:
- elementos e óxidos de interesse, elementos traços, deletérios, contaminantes e outras propriedades;
- suporte amostral, parâmetros descritivos, tamanho e massa da amostra, equipamentos e operações unitárias de preparação física; e
- métodos e equipamentos analíticos, procedimentos de abertura e dissolução das amostras (alterações físicas ou químicas), bem como limites de detecção.
O Protocolo de QAQC é composto do fluxograma de preparação física das amostras e deve indicar a frequência de inserção dos controles de qualidade em cada uma das etapas.
A análise dos resultados inclui plotagem de gráficos e cartas de controle dos principais elementos monitorados e de alguns elementos deletérios e contaminantes para as duplicatas, materiais de referência padronizados e brancos do lote analisado. Para garantir a eficiência do Programa de QAQC, recomenda-se a criação de uma robusta interface para gestão dos dados, com diversos tipos de gráficos e cartas de controle, para o monitoramento dos parâmetros e indicadores de qualidade, ao longo do tempo, integrada aos sistemas de gerenciamento de dados geocientíficos ou desenvolvidos exclusivamente para esta finalidade.
A empresa deve realizar avaliações e inspeções periódicas (trimestrais ou semestrais) da estrutura organizacional dos laboratórios contratados, com documentação e registros dos sistemas de qualidade, controles de recebimento, conferência e armazenamento dos lotes de amostras e cadeia de custódia, controles de calibração dos equipamentos críticos e registros dos controles de QAQC (precisão, exatidão e contaminação). Também devem ser feitas auditorias episódicas (semestrais ou anuais), sem agendamento. Os laboratórios externos, em geral, são comerciais, de grandes empresas prestadoras de serviços analíticos brasileiras e multinacionais, acreditadas pelo sistema de gestão de qualidade ISO.
O laboratório deve ser capaz de prover precisão e exatidão robustas e satisfatórias, a preço competitivo. Recomenda-se que haja acompanhamento da qualidade ao longo do tempo, com cláusula contratual caso ocorram impactos de reanálise significativos. O laboratório árbitro, também conhecido como laboratório terciário ou de desempate, deve ser acionado com periodicidade ampla (anual/auditoria específica) ou utilizado quando houver divergência entre os laboratórios primário e secundário.
As avaliações rotineiras do Programa de QAQC devem ter frequência mensal, com análises trimestrais e semestrais para atendimento a entregas ou auditorias específicas. Convém fazer também balanços anuais do programa.
A periodicidade de emissão de relatório deve ser definida conforme o objetivo da publicação, cujo conteúdo poderá ser mais ou menos detalhado. Deve ser também disponibilizada uma versão de análise acumulada, com todo o histórico do programa ao longo dos anos, com ampla divulgação. Devem ser incluídos apontamentos sobre:
- como aconteceram as falhas e quais problemas foram diagnosticados;
- como estão sendo corrigidos esses problemas identificados, a partir das ações corretivas padronizadas na tabela lógica de falhas;
- quais ações futuras deverão ser realizadas para evitar ou resolver os problemas identificados em definitivo;
- discussão sobre os riscos de projeto em não corrigir alguma falha;
- mecanismos de notificação à alta liderança; e
- demais ocorrências do período, dignas de destaque e nota.
A divulgação dos resultados do Programa de QAQC pode ter acompanhamento em dashboards atualizados em tempo real e em arquivos digitais, no formato de relatórios. Recomenda-se atender aos itens abaixo:
- avaliação de tendências e drifts dos resultados;
- acompanhamento, qualificação e quantificação da precisão, exatidão, contaminação e vieses;
- tabelas síntese de resultados, falhas e ações corretivas;
- quantitativo de amostras de controle x elemento x período analisado;
- indicadores de performance dos laboratórios interno e externo;
- comentários gerais sobre o programa;
- análise histórica das falhas e ações corretivas;
- inspeções e auditorias nos laboratórios; e
- desenvolvimentos, melhorias e recomendações.
Todos os documentos que comprovem as informações apresentadas devem ser mantidos anexos ao relatório e devidamente arquivados para posterior auditoria, tais como laudos analíticos dos laboratórios secundário e árbitro, certificados de padrões e materiais de referência e certificados de calibração e aferição de equipamentos.
1Geóloga e Mestre em Recursos Minerais pelo IGc-USP, Doutora em Engenharia Mineral pelo PMI-EPUSP e Diretora Executiva da GeoAnsata Projetos e Serviços em Geologia
Referência:
CUCHIERATO, Gláucia, A importância da qualidade da informação no processo de declaração de recursos minerais. 2022, 297 f. (Tese de Doutoramento em Engenharia de Minas). Departamento de Engenharia de Minas e do Petróleo da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2022.