BAUMA 2019: TENDÊNCIAS DA INDÚSTRIA DE EQUIPAMENTOS

BAUMA 2019: TENDÊNCIAS DA INDÚSTRIA DE EQUIPAMENTOS

Por Wilson Bigarelli

Bauma é uma feira ampla e ficou ainda maior este ano (605 mil m²). É humanamente impossível percorrer todos os seus espaços – e nem é preciso. O campo é abrangente: técnicas de construção, equipamentos e veículos com inúmeras aplicações, mineração, concretagem e muito mais. Cada um que faça o seu roteiro, de acordo com suas necessidades e interesses – e o app da feira ajuda.

Antes de chegar a isso, é importante dizer que a Messe München, que organiza o evento, diz que o tema da feira neste ano é a digitalização. Isso significa, naturalmente, que os diferentes expositores têm procurado agregar a seus produtos os recursos tecnológicos dessa nova era em que estamos vivendo. E não é difícil perceber isso, em diferentes níveis, às vezes de forma embrionária ou intermediária, outras plenamente funcionais. Aliado a esse apelo digital, existem outras pistas, mais evidentes, que devemos seguir: maior eficiência e sustentabilidade nos novos recursos embarcados.

O link com o canteiro digital, uma expressão a cada dia mais freqüente, tem várias interfaces possíveis. E parte de uma expressão macro, o tal BIM (Building Information Model), modelagem (ou modelo) da informação da construção. Um ambiente virtual de dados integrados com visualizações tridimensionais, em que as várias partes envolvidas em um projeto (ou na própria obra), como avatares, interagem e gerenciam de maneira multidisciplinar todo o processo, conforme suas habilidades, o escopo de suas atividades. Diferente de um CAD 3D, o BIM funciona em tempo real.

Esse ambiente, que nada tem de ficcional, implica em atualizações inadiáveis em equipamentos e veículos. Mais que inovações estruturais, ergonômicas ou no trem de força, o básico é que estejam (bem) conectados, de preferência sem operadores e motoristas. E haja telemática, porque a demanda vai muito além de consumo de combustível, controle de horas para manutenção ou posicionamento georeferenciado. O que se quer, ao final das contas, é mesmo o bom e velho controle remoto, só que à grande distância. Conclusão: sensores e mais sensores – como na Internet das Coisas, onde até um aspirador de pó pode ganhar vida digital.

Há poucas dúvidas também nesse admirável mundo novo de que todos os dados, estejam disponíveis “cloud”, ou seja, armazenados em nuvem. Não há espaço para terminais isolados e ninguém pode imaginar que irá ficar remanejando servidores, quando até fábricas de pré-moldados ganharam mobilidade. E o acesso a esses dados, obviamente, tem que estar sempre à mão, no celular. Falar de drones sobrevoando o canteiro é uma obviedade, na medida em que câmeras estarão em toda à parte, os capacetes ganham inteligência e o solo e o subsolo serão mapeados e irão “copilotar” as máquinas.

Elétricos e autônomos – Como em qualquer salão de automóveis, Bauma também atrai visitantes ávidos por bólidos movidos a eletricidade e com condução autônoma. O ponto de encontro foi o fórum de expositores “Veículos sem motorista, eletromobilidade, acionamentos elétricos e zero emissões”. São em geral equipamentos menores e protótipos – com exceção de equipamentos de mineração, que rodam em circuitos restritos e previsíveis. De qualquer modo, parece ser o ponto alto de um caminho marcado por anos e anos de “tiers e euros” para controle de ruídos e emissões.

A eletromobilidade já é uma realidade em caminhões leves, compactadores de placa vibratória, pequenos rolos e carregadeiras de rodas compactas. No caso de equipamentos maiores, que requerem maior potência, as baterias ainda são muito grandes e a solução intermediária aponta para o desenvolvimento de veículos híbridos – onde o diesel ainda daria vazão à potência máxima. As chances são maiores quando o uso da máquina é intermitente.

E há projetos também em outra direção (sustentabilidade) no sentido de aumentar a eficiência energética. É o caso do manipulador de materiais apresentado pela Sennebogen, com peso operacional de 390 t. Nele, cada vez que a lança é abaixada, a energia recuperada é armazenada temporariamente. Na próxima vez que for levantada, a energia estará disponível novamente. No caso dos autônomos, descontada a mineração, o mundo ainda é dos protótipos. A MAN Truck & Bus bolou um sistema, já apresentado no IAA Commercial Vehicles, usando a “comunicação carro-a-carro”, com um caminhão à frente, e outro, que é utilizado como veículo de trabalho no acostamento das vias expressas.

Sensoriamento – A disseminação do uso de sensores é patente na Bauma 2019. O novo guindaste LR 1300 SX Liebherr é equipado com sensores de vento na lança principal e o jib. Tanto a velocidade medida do vento e a configuração real do guindaste (comprimento e ângulo da lança) são consideradas ao calcular as situações perigosas atuais para o guindaste. Na sua linha amarela, o fabricante instalou sistemas inteligentes nas carregadeiras de rodas com um sistema ativo de reconhecimento de pessoas e objetos estáticos na traseira do equipamento.

Um aplicativo de mapeamento de terreno 3D feito da ITK Engineering tem funcionalidade parecida: reconhece com sensoriamento indivíduos e objetos em terrenos acidentados e avisa o motorista sobre possíveis perigos.

São implementações de segurança, como o capacete em rede equipado com sensores da Vodafone que reporta acidentes e suas localizações a um centro de controle. Já a Stihl mostrou um sensor com diâmetro inferior a 5 cm que pode ser montado em pequenas máquinas – serras, por exemplo. Ele registra as horas de operação e as transmite através do smartphone ou tablet para uma nuvem com armazenamento central de dados. Indo mais além, a RIB Software SE criou um programa que se propõe a conectar todas as atividades nos canteiros de obra.

A Universidade de Dresden partiu para um sistema “ciber-físico”, voltado a estruturas subterrâneas, para adaptar dinamicamente a construção de estruturas geotécnicas, simulando cenários, que podem ser continuamente comparados com as medições. E a seguradora Munich Re desenvolveu o primeiro produto de seguro baseado em TI do mundo para construção projetos: o ITWO Project Cost Insurance. Ele permite que os projetos de construção sejam planejados, simulados e monitorados virtualmente e, pela primeira vez, possibilita a cobertura de seguro para custos adicionais.

Padronização – Encontrar mão de obra qualificada também é um desafio na Europa. A digitalização também facilita os esforços para automatizar os processos de trabalho. Daí a importância dos chamados “modelos de terreno”, que permitem que muitos equipamentos sejam parcialmente conduzidos de forma autônoma. Por outro lado, não há como deixar de investir em treinamento. Um problema já identificado é a alternância de máquinas por parte de um mesmo operador. Por isso, formou-se em 2018 o chamado Cluster HMI, uma aliança de fabricantes de máquinas e componentes, empresas de construção e associações comerciais para padronizar os padrões de orientação do operador.

Outro problema decorrente da diversidade de equipamentos disponíveis é a falta de uniformidade nos formatos de trocas de dados. A associação alemã de fabricantes (VDMA) já está trabalhando nisso com a incorporação desses parâmetros na ISO 15143-3.

Transportadores de estruturas e componentes eólicos pré-moldados podem perder algum mercado se vingarem algumas soluções apresentadas em Bauma. A Neulandt GmbH de Amstetten, da  Áustria, apresentou a primeira fábrica móvel de componentes pré-fabricados móveis, projetada especialmente para criar habitações sociais em grandes volumes a um preço baixo. Concluída a obra, a Estação Portátil de Pré-fabricação pode ser desmontada e transportada para o próximo local. Já o foco da Max Bögl Wind AG de Neumarkt, da Alemanha, é a construção dos elementos de concreto para torres de turbinas eólicas em uma usina temporária próxima ao local de instalação.

 

 

 

 

 

 

 

 

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