Por Sara Murssa (*)
Essencial para o desenvolvimento socioeconômico do Brasil, a mineração ainda é um universo predominantemente masculino. Segundo dados do movimento Women In Mining Brasil, apenas 17% da força de trabalho do setor mineral é feminina, enquanto na economia geral do país esse índice, embora ainda insuficiente, chega a 43%, de acordo com dados do Banco Mundial.
Ao não optar por um ambiente de trabalho plural, as empresas amargam perdas significativas. Várias pesquisas apontam vantagens das corporações que adotam práticas em prol da diversidade, quando comparadas a outras, com ganhos em inovação, colaboração, liderança, trabalho em equipe e retenção de talentos. Isso acaba resultando em um índice favorável de saúde organizacional e, consequentemente, numa melhor performance financeira. Há, por exemplo, um estudo, realizado pela empresa de consultoria McKinsey na América Latina, que identificou um retorno três vezes maior para acionistas em empresas que apostam nesse caminho.
Mesmo com todos esses fatos postos à mesa, os estigmas sociais, culturais e históricos de que a mineração é “trabalho de homem” distanciaram por muito tempo, e dificultam até hoje, a participação das mulheres no setor. Entretanto, importantes avanços, consolidados nos últimos anos, visam construir um novo olhar para a indústria da mineração brasileira, com incentivo à participação feminina em todos os níveis das organizações e áreas de atuação.
Uma amostra disso são os planos de ações de empresas, e do setor como um todo, compostos por estratégias sistêmicas focadas em equidade de gênero. A Anglo American, por exemplo, trabalha com a meta de alcançar localmente, até 2027, 33% de mulheres em posição de alta liderança. Para isso, são promovidos programas de desenvolvimento e de retenção de talentos femininos.
Paralelamente, visando a transformação cultural da companhia, também são desenvolvidas iniciativas pedagógicas e de acolhimento, como o programa de combate à violência doméstica, o código de conduta, e a política contra bullying, assédio e retaliação. Além disso, a empresa investe em melhoras estruturais, como a criação das salas de amamentação em escritórios e operações.
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), a população feminina corresponde a cerca de 51% da população brasileira. Isso mostra que, mesmo com os avanços propostos e já em andamento pelas empresas da mineração, ainda há um longo caminho a ser percorrido em vista da equidade de gênero.
Cabe a cada corporação olhar para dentro de sua estrutura e questionar como está tratando o assunto e o que falta no contexto dos negócios para alcançar resultados mais relevantes. Precisamos entender como potencializar o setor de mineração e torná-lo atrativo para as gerações atuais de mulheres e para aquelas que ainda estão por vir. A jornada para aumentar as oportunidades de inclusão de gênero é longa e resiliente, mas também estratégica e necessária. Chegou a nossa vez e quem seguir se baseando puramente em preconceito, vai ficar para trás.
(*) Sara Murssa é head de Recursos Humanos da Anglo American no Brasil