Por Cássia Yoko Gomi*
Uma nova onda econômica se iniciou a partir do surgimento do ESG, inicialmente com destaque para o mercado de investimentos, cujo conceito ganhou o mundo em diferentes setores, fazendo referência a três pilares: Ambiental, Social e Governança. Juntos, eles representam uma meta coletiva para tornar a economia mais sustentável.
Nesse sentido, a mineração, uma indústria de fornecimento de matéria prima para todas as demais indústrias, deve ser analisada quanto ao nível de desempenho sustentável sob dois aspectos. O primeiro está ligado à função social da mineração, de fornecer matéria-prima mineral para a sociedade. Os recursos minerais são finitos e a velocidade de sua “finitude” é definida pelo padrão de consumo atual, o qual deve ser repensado. O segundo aspecto está ligado a como a empresa conduz suas atividades, à forma de operar, se utiliza ou não formas de produção limpas. Sendo considerada indústria base, a mineração deve gerar um produto sustentável, que subsidie uma produção industrial limpa de produtos acabados.
Para realizar a mensuração do quanto as empresas de mineração adotam as práticas de ESG na sua atividade, aplicam-se as diretrizes da ABNT PR-2030, de dezembro de 2022. Essa norma, ao mesmo tempo em que estabelece critérios para a definição do grau de maturidade em ESG, fornece a base para a um plano de ação evolutivo para o empreendimento.
A norma é aplicada em 6 passos: conhecer, diagnosticar, planejar, implementar, monitorar e relatar e é baseada na análise de 42 critérios dentro dos pilares ambiental, social e de governança.
A norma define cinco estágios de maturidade: elementar, não integrado, gerencial, estratégico e transformador, que podem ser evoluídos com a implementação de novas práticas de sustentabilidade.
De fácil entendimento, a ABNT PR-2030, porém, integra inúmeros conceitos difundidos entre os especialistas. Sua vantagem está vinculada à possibilidade de aplicação em todo o setor, de empresas de pequeno a grande porte, produtores de metálicos e não-metálicos, de pesquisa mineral e prestadores de serviços.
Ela também pode ser adotada até por empresas que não dispõem de uma equipe especializada e também pode ser aplicada através de parcerias com uma empresa de assessoria técnica. Essa norma democratiza a aplicação da sustentabilidade para pequenas e médias empresas de mineração e oferece uma certificação do processo de avaliação, aberto a todos os interessados.
O importante é que todos os processos sejam apoiados por profissionais com conhecimento, que traduzam corretamente o conceito de cada critério para as práticas operacionais.
De forma decisiva, as lideranças devem apoiar e sustentar toda a transformação, pois ela exige mudanças culturais, operacionais, de inovação e de investimentos. O resultado dessa transformação muitas vezes é intangível, mas pode trazer um diferencial financeiro para o empreendimento e para o produto mineral.
*Geóloga especializada nas áreas de regulação mineraria, ambiental, sustentabilidade, ESG aplicada à mineração e normatização. Parceira GeoAnsata e cocriadora do Projeto CORE.S (Companhias Responsáveis e Sustentáveis)