A EVOLUÇÃO DAS TERRAS RARAS NO BRASIL

A EVOLUÇÃO DAS TERRAS RARAS NO BRASIL

Mathias Helder
Mathias Heider, engenheiro de minas do DNPM

Em novembro de 2015, o CETEM (Centro de Tecnologia Mineral) realizou o “III Seminário Brasileiro de Terras Raras” (bianual, a partir de 2011).  Ainda em novembro de 2015, a Associação Brasileira do Desenvolvimento da Indústria (ABDI) e a CBMM (Cia.Brasileira de Mineração e Metalurgia) realizaram o “Seminário de Integração da Cadeia de ETR”, em Araxá/MG. Nesse evento, a CBMM apresentou a sua usina piloto de tratamento e obtenção de “Terras Raras” (ETR), além de estabelecer contatos com todos os agentes envolvidos na cadeia produtiva desse setor. Em setembro de 2015, foi realizado o workshop “Brasil e Alemanha de Terras Raras” em Brasília (DF). Esses eventos têm o grande papel de promover articulação pública e privada, o desenvolvimento de tecnologias, a identificação de sinergias (financeiras, operacionais, estratégicas, etc) e de apoiar a governança da cadeia produtiva de terras raras, além de divulgar as ações e projetos.

Um outro fator a ser destacado é a importância da convergência das políticas públicas e privadas visando a sua integração, obtenção de sinergias e fortalecimento da competitividade setorial. Nesses eventos, empresas como a Siemens avaliam a formação de parcerias, a exemplo do que já fez na Austrália com a mineradora Lynas. A integração da oferta e procura ao longo da cadeia produtiva, o fortalecimento do mercado interno e o desenvolvimento de modelos de financiamento são outros pontos de destaque.

Destaca-se que o Brasil passou a ser a 2ª maior reserva mundial de Terras Raras com a incorporação de expressivas reservas em Minas Gerais (MG) e Goiás (GO) detendo, ao final de 2012, cerca de 16% do total mundial. A produção de terras raras no Brasil é da ordem de 600 t anuais, mas novos projetos irão propiciar uma substancial elevação em termos quantitativos e qualitativos. Em 2012, as importações de terras raras no Brasil foram da ordem de US$ 36 milhões e, com os novos projetos, o país se tornará exportador, além de vivenciar um salto de domínio de tecnologias ao longo de toda cadeia produtiva.

Cadeia Produtiva de Terras Raras no Brasil

Os projetos desenvolvidos pela CBMM estão impactando na evolução do conhecimento associado à produção de óxidos, ligas e fabricação de imãs, conforme apresentado no III Seminário Brasileiro de Terras Raras.

Conforme pode ser verificado na Figura 01, a seguir, a cadeia produtiva tem uma grande complexidade e envolve diversos riscos (financeiro, geológico, tecnológico, mercado, operacional, político e ambiental).

 

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Figura 01: Fluxo da Cadeia Produtiva de Terras Raras no Brasil e estado da arte (base 2013)

O objetivo é o domínio tecnológico dos processos de separação e refino dos elementos de terras raras visando a produção de seus óxidos, sais e metais em estado de levada pureza e características morfológicas que atendam a necessidades da indústria de ponta (setores óptico, eletro-eletrônico, informática, cerâmica fina, energia e transporte).

Os eixos de atuação no desenvolvimento da cadeia produtiva de ETR no Brasil são a busca do domínio tecnológico, o desenvolvimento de operação piloto e a produção competitiva e sustentável em escala econômica. Os estudos mercadológicos, identificação das empresas envolvidas, novos usos e aplicações e atração de investidores tem um importante papel na consolidação da cadeia produtiva. O acesso a fontes de fornecimento de matéria prima é um relevante fator de competitividade e atração de investimentos.

Para desenvolver as Terras Raras no Brasil, citamos uma série de políticas públicas adotadas para apoiar o setor:

  • Desenvolvimento de PD&I e RH/FINEP/CETEM e pesquisas em universidades;
  • Estudos prospectivos via CGEE – Programa ETR-BR e “roadmap estratégico” (CGEE)/Plano Brasil Maior(ABDI)/;
  • Plano Nacional de Mineração (PNM’2030)/GT de coordenação/Estudos prospectivos;
  • Apoio CPRM/SGB (levantamentos geológicos e estudos setoriais);
  • Apoio das Universidades e Centros de Pesquisa (CETEM, INB, Universidades, etc);
  • Articulação público-privada e apoio do BNDES (linhas de apoio e financiamento);
  • Plano Nacional de Mineração e Plano Brasil Maior (MME/ABDI);
  • Pesquisa na Plataforma Continental Marítima (Amazônia Azul);
  • Apoio à pesquisa de projetos inovadores e chamadas públicas para pesquisa.

O modelo de chamadas públicas (44/2010 e 76/2013) estimulou a retomada das pesquisas tecnológicas envolvendo Terras Raras e apoia a formação de recursos humanos visando agregar valor, promover e adensar o conhecimento e desenvolver a sustentabilidade e competitividade da cadeia produtiva desses elementos no Brasil. Para exemplificar, somente na chamada 76/2013, foram enviadas 96 propostas envolvendo 47 instituições, além de identificadas 221 linhas de pesquisa e 396 especialistas.

Cotações de Terras Raras

Após o pique das cotações em 2011, fatores como novos projetos, produtos substitutos, redução do crescimento da economia mundial e da China causaram a queda dos valores. Os ETR Nd, Pr, Tb, Dy e Eu são as cinco terras raras mais caras. O Lantânio tem importante aplicação em catálise no refino de petróleo e seu consumo anual no Brasil é de 900 t. Os projetos iniciantes na produção de terras raras devem levar em conta que o seu concentrado tem baixíssimo valor comercial e a separação de óxidos é essencial para agregar valor e rentabilidade. É importante destacar que alguns elementos de terras raras tem um potencial de crescimento das cotações devido às suas aplicações, principalmente as “terras raras pesadas”. Toda reserva de terras tem o seu mix de elementos (das terras raras leves até as pesadas), que impactam fortemente na viabilização dos projetos.

 

 

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Figura 02: Elevação das Cotações de ETR (% em relação cotação base em 2008) Fonte: Blomberg

 

Projetos de Terras Raras

A produção de terras raras no Brasil já mostra um amplo potencial com diversos projetos nas suas mais variadas etapas de avaliação e implementação.  Cabe destacar o pioneirismo e vanguarda da CBMM, cujo projeto se encontra em fase bastante adiantada. Além de ocorrências e reservas já identificadas, podemos citar a possibilidade de identificar ETR como subprodutos em diversos projetos já em produção, através de reciclagem, reaproveitamento de barragens de rejeito e de pilhas de estéril seletivas, novas áreas a serem pesquisadas e projetos diversos de fosfato e minerais. Existe, ainda, um potencial a ser avaliado em pesquisas na Plataforma Marítima. Citamos, abaixo, algumas potencialidades e projetos:

  • CBMM (Araxá/MG);
  • Serra Verde (Minaçu/GO);
  • Pitinga/Mineração Taboca (Presidente Figueiredo/AM);
  • Vale e Anglo American (Catalão/GO);
  • ValeE (Araxá, Tapira, Salitre /MG)
  • Primestar Mineração (Projeto Morro do Ferro/MG);
  • MbAC (ativos minerários em Araxá/MG);
  • Placers (areia monazítica – diversos no Brasil);
  • Seis Lagos (SGB/CPRM);
  • Rejeitos da INB em Caldas/MG;
  • Mineração Mata Azul (Tocantins).

Desafios

O maior desafio é a consolidação sustentável da cadeia produtiva de ETR no Brasil. E, nesse ponto, o apoio das políticas públicas é fundamental, a exemplo do desenvolvimento e apoio inicial de setores como minério de ferro, fosfato e outros minerais em décadas passadas que exigiram, também, uma consolidação da infraestrutura. Após a explosão das cotações dos ETR, fornecimento inseguro, redução de vulnerabilidades e da política chinesa de impor cotas de exportação, diversos países iniciaram pesquisas, avaliações, parcerias e análises de novos projetos.  A complexidade dos projetos de ETR exigem uma cuidadosa avaliação geológica, geometalúrgica, caracterização mineralógica e de testes de beneficiamento e de rota tecnológica.

Conclusões

A manutenção dos levantamentos geológicos e do inventário das ocorrências e reservas de Terras Raras e sua caracterização tecnológica devem ser continuamente estimuladas. Por outro lado, o adensamento da cadeia produtiva também deve ser priorizado, uma vez que os concentrados de terras raras tem um valor bem menor. A China praticamente obriga empresas estrangeiras de alta tecnologia a se instalar no país, o que possibilita um virtual monopólio ao longo de toda a cadeia de valor de terras raras. A demanda crescente por ETR nas diversas áreas de alta tecnologia, como super-ímãs, catalisadores FCC, fósforos para LEDs e baterias será um elemento crucial para a elevação das cotações de ETR. Diversos países buscam uma garantia de suprimento estável e, por outro lado, a redução da utilização desses insumos e/ou substituição por outros minerais.

 Devem ser estimulados, também, os estudos econômicos do aproveitamento dos ETRs das empresas de mineração que estão descartando seus rejeitos ou pilhas de estéril, de forma a verificar se o descarte é justificável ou se há viabilidade no seu aproveitamento econômico (atual ou futuro).  A avaliação quanto à colocação de parte do “estéril” em pilhas seletivas deverá ser cada vez mais estimulada em todo setor mineral.  O descarte de itabiritos mais pobres é um exemplo de sucesso, uma vez que já estão sendo aproveitados economicamente em diversos projetos em Minas Gerais pela Vale.

A manutenção das políticas públicas no Brasil deve ser continuamente avaliada e discutida até que todo o ciclo da cadeia produtiva das “Terras Raras” esteja implementado com competitividade e sustentabilidade. Para tanto, há a necessidade de desenvolvimento e consolidação de mercado demandante interno de produtos acabados (óxidos, metais e ligas).

Referências:

http://www.iec.ch/perspectives/government/sectors/electric_motors.htm http://www.eia.gov/todayinenergy/detail.cfm?id=18151

2 comentários em “A EVOLUÇÃO DAS TERRAS RARAS NO BRASIL

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