UMA QUESTÃO DE ESTRATÉGIA
Em palestra no encontro promovido pelo IBRAM em Brasília, no final do ano passado, o economista e ex-ministro da Fazenda e do Planejamento, Paulo Roberto Haddad, afirmou que o Brasil não depende necessariamente das reformas econômicas e institucionais – que estão na boca de dez entre dez políticos brasileiros – para entrar em um ciclo virtuoso de desenvolvimento, com índices razoáveis de crescimento. Ainda bem, lembrou Haddad, pois tivemos três mandatos presidenciais reformistas e ainda não conseguimos emplacar as tais reformas.
Em um primeiro momento, defendeu o ex-ministro, bastaria que o atual governo concentrasse esforços em pontos de estrangulamento – energia e transportes, por exemplo – dando impulso a setores estratégicos, que estão crescendo a despeito de tudo, com reflexos em toda cadeia produtiva, no PIB e no saldo comercial.
O último boletim BNDES – Visão de Desenvolvimento não deixa dúvida de quais são os setores estratégicos. “São aqueles comandados pela dinâmica dos mercados externos, intensivos em capital e com longo prazo de maturação”. Nomeadamente, para ficar em alguns, “petróleo e gás, indústria extrativa mineral, siderurgia, papel e celulose”. Somente esse grupo, segundo análise dos economistas Ernani Torres Filho e Fernando Puga, tem programado investimento da ordem de R$ 293 bilhões, entre 2007 e 2010. Se garantir esse aporte não for estratégico, sabe lá o que será.
E investimento, mais do que qualquer outro fator, lembram os economistas, tem uma relação direta com o crescimento do PIB. A taxa de Formação Bruta do Capital Fixo (FBCF), ou seja, o investimento global, no economês do BNDES caiu de 24,3% em 1981 para 17,6% em 2003. E, agora, a partir de 2005, está subindo novamente, passando da casa dos 20% — depois de uma década de queda. E, claro, muito por conta dos setores estratégicos.
Wilson Bigarelli – editor@inthemine.com.br
(Janeiro/fevereiro 2007)